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Estado de Minas COVID-19

Negação, lições sofridas e mais de 251 mil mortos marcam 1 ano de pandemia

Na luta contra o coronavírus desde 26 de fevereiro de 2020, o Brasil tenta sem sucesso conter a velocidade da contaminação, agora, agravada pela mutação


26/02/2021 04:00 - atualizado 26/02/2021 00:16

Momentos cruciais // O caos das mortes por falta de oxigênio em Manaus, que forçou a transferência de pacientes, no mês passado, para outros estados, e a vacinação com escassez de ampolas, que nem sequer completou a imunização dos idosos(foto: Michael Dantas/AFP - 15/1/21)
Momentos cruciais // O caos das mortes por falta de oxigênio em Manaus, que forçou a transferência de pacientes, no mês passado, para outros estados, e a vacinação com escassez de ampolas, que nem sequer completou a imunização dos idosos (foto: Michael Dantas/AFP - 15/1/21)

 

Aquela parecia ser só mais uma semana de carnaval. Pelas ruas, aglomerações, batuques, sorrisos e danças. Contudo, a quarta-feira de cinzas deu um sombrio sinal,  com o primeiro caso de contaminação pelo novo coronavírus em solo brasileiro. O dia 26 de fevereiro de 2020 foi o ato de largada da árdua batalha contra a COVID-19 – saga que o país ainda enfrenta. Um ano depois que a doença se instalou, a situação é crítica, e as mutações que se espalham pelos estados ajudam a dar forma ao pior momento da luta. O vírus já provocou 251.498 mortes e o número de óbitos registrados ontem, 1.541, foi a segunda maior marca durante a pandemia. O dramático recorde só não foi maior que o ocorrido em 29 de julho de 2020, quando 1.595 vidas foram perdidas no país, segundo os dados do Ministério da Saúde.

 

O número de infectados alcança 10.390.461, sendo 66.988 novos casos em 24 horas.  Em patamar alarmante, a média móvel de óbitos diários está acima de mil há mais de um mês. Ontem, alcançou 1.150 registros, segundo recorde seguido. A vacina surgiu como sopro de esperança mundial, mas no Brasil persiste a lentidão e a escassez de imunizantes, uma vez que o governo brasileiro ficou para trás na disputa junto aos laboratórios. O país não passou até agora de 6,3 milhões de doses aplicadas, o que não alcana 3% da população com uma primeira ampola.

 

Os contornos dramáticos são ampliados pelas recentes crises regionais. No Amazonas, pacientes sucumbiram à ausência de oxigênio e foi necessária a transferência de pacientes para outros estados, o que também pode ter ajudado a propagar a nova cepa do coronavírus. Em Minas Gerais, Uberaba e Uberlândia precisaram endurecer restrições para evitar o colapso dos seus sistemas de saúde, com o avanço das contaminações. Em paralelo, Rio Grande do Sul e Santa Catarina também lutam contra o caos. A Bahia, por sua vez, começa a sentir a falta de equipes de saúde.

 

Somadas, as variantes descobertas em Manaus e no Reino Unido atuam em ao menos 17 estados. No mês passado, o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, alertou, à TV Cultura, a possibilidade de, em até dois meses, o país atravessar uma “megaepidemia” provocada pelas novas cepas. Ontem, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, admitiu as dificuldades do momento da pandemia.

 

“O vírus mutado tem três vezes mais capacidade de contaminação e a velocidade pode surpreender o gestor em termos de estrutura e apoio. Essa é a realidade que temos hoje no Brasil”, disse Pazuello, ao reconhecer que o país enfrenta “nova etapa” da pandemia. Os presidentes dos conselhos nacionais de secretários de saúde estaduais (Conass) e municipais (Conasems), Carlos Lua e Wilames Freire, alertaram para indicadores acima de 90% de ocupação de leitos hospitalares.

 

 

Colapso Na semana passada, o governo anunciou o repasse, até julho, de mais 230,7 milhões de doses de vacinas contra a COVID-19 aos estados. Apesar disso, o ritmo de vacinação preocupa: estudo das universidades federais de São João Del Rei (UFSJ) e de Juiz de Fora (UFJF) aponta que, para conter a pandemia em um ano, o Brasil precisa vacinar 1 milhão de pessoas ao dia. Se isso não ocorrer, o número de óbitos pode dobrar. No estágio atual, com cerca de 180 mil injeções ministradas diariamente, o tempo para controlar a pandemia seria de aproximadamente dois anos. Minas Gerais pode enfrentar mais de 40 mil novas mortes em um ano se o processo de vacinação não ganhar agilidade.

 

O país tem feito poucos testes – cerca de 22,2 milhões, segundo dados atualizados neste mês. “Os números mostram que não houve qualquer medida de detenção da transmissão da COVID-19. Pelo contrário”, diz Domingos Alves, professor de Medicina da Universidade de Ribeirão Preto. Agora, tempo em que o Brasil, além de retornar a patamares de casos e mortes alcançados no início da pandemia, precisa lidar com as novas cepas, fazer mais exames seria essencial para monitorar o espalhamento do vírus.

 

No Sul do país, o governo catarinense age para evitar desabastecimento de remédios e sufocamento da rede de atendimento. O Ministério da Saúde foi acionado devido à demanda de remédios necessários ao processo de intubação. No Rio Grande do Sul, a solução foi recorrer ao nível máximo do plano de contingência. A ocupação das vagas de terapia intensiva ultrapassa os 90%. Cirurgias eletivas estão suspensas, leitos emergenciais serão instalados em espaços como salas de recuperação e profissionais de outros setores serão deslocados para reforçar o atendimento.

 

Sem rumo O Brasil tem lidado com contornos particulares: desde o início do ano passado, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) põe em xeque as medidas restritivas defendidas por especialistas. A descrença era tamanha que ele entrou em rota de colisão com Mandetta, seu antigo ministro. Em abril, o oncologista Nelson Teich assumiu o posto, mas durou menos de um mês. Assumiu o general Eduardo Pazuello, tido como especialista em logística e apresentado como interino, mas posteriormente efetivado. Entre abril e maio, a pasta teve três chefes em cerca de 30 dias.

 

Paralelamente, peças da equipe formada por Mandetta iam desembarcando. “A troca total da equipe do Ministério da Saúde – e não estou falando do ministro, que você pode trocar –, mas da retirada de Wanderson, Gabbardo e de todos que estavam ali embaixo, substituindo-os por militares, é uma bomba atômica dentro do setor de saúde, que deveria acarretar em queda de 100% da Bolsa, e não de 20%, como no caso da Petrobras. É de total indignação o que nós, as famílias e as empresas estão sofrendo por culpa única e exclusivamente do presidente da República, que brincou e brinca com a vida das pessoas”, protesta Mandetta, fazendo menção à recente troca na presidência da estatal de petróleo. (Colaboraram Gabriel Ronan, Bruna Lima, Maria Eduarda Cardim, Natália Bosco e Carinne Souza)

 


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