Jornal Estado de Minas

ENSINO EM JOGO

Cabo de guerra na educação


Mães penduram uniformes diante do Loyola e Santa Doroteia para cobrar volta às aulas: PBH aguarda novos indicadores para tomar decisão (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)


A questão da volta às aulas presenciais virou cabo de guerra em Minas Gerais e na capital. De um lado, pais de alunos – e também parte dos professores – pedem o retorno, enquanto sindicatos que representam trabalhadores do setor puxam a corda para o lado oposto. Um dia após o Comitê Municipal de Enfrentamento à COVID-19 de Belo Horizonte resolver esperar mais uma semana – e observar os indicadores da pandemia na cidade – para decidir se vai ou não liberar a reabertura das escolas da capital, pais de alunos de instituições particulares organizaram um novo protesto. Desta vez, sem coroas fúnebres, usadas na quarta-feira por profissionais da rede municipal de ensino da capital contrários à volta. O grupo de pais foi às portas de diversos estabelecimentos da cidade pendurar uniformes escolares e pregar cartazes com críticas ao prefeito Alexandre Kalil (PSD). Na Assembleia Legislativa, entidades representativas de professores criticaram os protocolos para volta às aulas divulgados pelo governo do estado e afirmam que não há condições para a retomada.





Alguns recados foram direcionados ao comitê de infectologistas da PBH: "Carlos Starling, criança não é vetor. Você se esqueceu ou será que virou político mesmo?", diz uma das placas exibidas na fachada do Colégio Loyola. A instituição fica no bairro Cidade Jardim, na Região Centro-Sul. A publicitária Ana Cecília Branco, que tem três filhos matriculados no Loyola, reivindica apoio das escolas e demais organizações da sociedade civil à causa da reabertura. "As crianças não têm sindicato. O sindicato das crianças são os pais. Sinto falta de as escolas abraçarem essa causa junto conosco. Só temos o apoio dos médicos. As crianças estão sozinhas", queixa-se a publicitária.

Na porta do Colégio Santa Doroteia, no Sion, também na Região Centro-Sul, o movimento contou com o apoio de professores. "Somos guardiões da infância", diz uma das faixas afixadas no portão lateral. A professora Cristiane Márcia conta que seus dois filhos estão tomando antidepressivos. "Peço que, por favor, pensem no estado emocional dessas crianças. Vejo muitos comentários dizendo que 'os pais não têm o que fazer com as crianças'. Não é assim. Nós não temos é o que fazer com o impacto das aulas on-line e da falta de socialização. Contra isso nós não temos o que fazer. Eles estão cada vez mais tristes, obesos, com insônia, nervosos, com vontade de desistir de estudar. Estão vivendo à base de antidepressivos", relata a profissional.

Imbróglio 


Cercado de polêmicas, o retorno das atividades presenciais nas escolas de BH e Minas também é pauta de protestos de entidades representativas de professores. Também ontem, o Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação (Sind-UTE) de Minas afirmou que não há condições para a retomada no estado. "Não há escolas prontas para receber profissionais e alunos presencialmente", defendeu a presidente da entidade, Denise Romano, em entrevista coletiva na Assembleia Legislativa de Minas Gerais. (Leia mais nesta página.)





Segundo os protocolos anunciados na quarta-feira pelo governo do estado, a retomada do ensino presencial será permitida a partir de 1º de março aos municípios que estiverem nas ondas verde e amarela do Minas Consciente, plano do Executivo para orientar a flexibilização das atividades durante a pandemia. Caberá a cada município a decisão final. Na rede estadual de ensino, a volta será em 8 de março, a princípio, ainda restrita ao modelo remoto, em razão de decisão judicial em caráter liminar que impede o retorno às salas de aula nesse segmento. Em todas as redes, o ensino presencial deverá conviver com o modo a distância e os pais poderão escolher mandar ou não os filhos às escolas.

Na manhã de quarta (24/2), foi a vez de os professores da rede municipal da capital mineira se manifestarem. Liderados pelo Sindicato dos Trabalhadores em Educação das Escolas da Rede Pública de Belo Horizonte (Sind-Rede), manifestantes fincaram cruzes em frente à sede da prefeitura, na Avenida Afonso Pena, Centro da capital. "Por mais que a prefeitura e os médicos digam que é possível cumprir esses protocolos, nós conhecemos o espaço das escolas e o ambiente de trabalho e sabemos que não seria viável e que seria perigoso no atual estágio da pandemia. Não conseguiríamos cumprir nem 30% das exigências", alega a diretora do sindicato, Vanessa Portugal.


audima