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Estado de Minas Mutação do coronavírus

Mandetta: ausência de restrições facilitou avanço de variante brasileira

Aos Estado de Minas, ex-ministro disse que Brasil está 'voando sem destino'. Ele cobrou protocolos na transferência de doentes


19/02/2021 04:00 - atualizado 19/02/2021 00:25

Ao avaliar aumento de casos, com descoberta de cepa, ex-ministro critica falta de planejamento e de testes (foto: Nelson Almeida/AFP - 19/6/20)
Ao avaliar aumento de casos, com descoberta de cepa, ex-ministro critica falta de planejamento e de testes (foto: Nelson Almeida/AFP - 19/6/20)

 
O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta acredita que o número de testes para a COVID-19 feitos no Brasil não são suficientes para monitorar os passos da nova mutação do vírus surgida em Manaus (AM). Temeroso com os desdobramentos da variante, que avança no país, o médico critica a postura do governo federal. Em entrevista ao Estado de Minas, Mandetta comentou a explosão de casos em localidades como Araraquara, no interior paulista. “O painel do nosso avião está escuro, voando sem destino”, afirmou.
 
Em janeiro, em entrevista à “TV Cultura”, o ex-ministro previu “megaepidemia” causada pela cepa manauara. Menos de um mês depois, de Salvador a Chapecó, de Araraquara a Goiânia, grandes cidades de todas as regiões do país enfrentam o crescimento dos indicadores da doença respiratória. “O Brasil não está fazendo o mapeamento genético para saber a velocidade de transmissão dessa nova cepa. Deveríamos estar fazendo para saber o que está acontecendo em outras cidades e onde o vírus está se aclimatando melhor com a nova cepa”, disse ao EM.
Para Mandetta, a transferência de pacientes de Manaus a outras localidades do Brasil foi feita sem todos os requisitos sanitários adequados. “Tinha que ser feito todo o protocolo de biossegurança, dos pilotos e do pessoal que foi buscar no aeroporto. Separar as pessoas nos CTIs (centros de terapia intensiva), separar enfermeiros e médicos, além de usar somente pessoal vacinado. Teria que ter sido feito com muito cuidado”.
 
Segundo o ex-chefe da saúde federal, a condução das transferências fez com que os manauaras vissem a saída desordenada dos limites da cidade como escolha mais segura. A migração acabou contribuindo para o avanço da variante. “Os voos estão funcionando regularmente. O resto do mundo fechou os voos brasileiros. Viram que aquilo dali iria se espalhar. Se iria se espalhar para eles, imagina dentro do Brasil?”, indagou. Mandetta deixou o Palácio do Planalto em abril do ano passado, após entrar em choque com as determinações do presidente Jair Bolsonaro.

À TV Cultura, em janeiro, o senhor falou que a nova cepa da COVID poderia causar uma megaepidemia em 60 dias. Cidades grandes, como Araraquara, já registram crescimento nos números. Há relação com o seu alerta?
Parece que sim. Araraquara já comprovou grande número de circulação da cepa. O Brasil não está fazendo o mapeamento genético para saber a velocidade de transmissão dessa nova cepa. Deveríamos estar fazendo para saber o que está acontecendo em outras cidades e onde o vírus está se aclimatando melhor com a nova cepa. A gente está testando pouco e, mesmo testando pouco, estamos achando (a nova cepa), no Rio, em São Paulo. Araraquara fez uma testagem maior e achou tendência de predomínio da nova cepa. Se ela transmite em velocidade maior, vai acabar se impondo sobre a cepa anterior. Vai haver uma mudança de predominância. Agora, quanto tempo vai levar, a gente vai ver.

Como o ser avaliou a transferência de pacientes feita pelo Ministério da Saúde pelos estados? Isso contribuiu para disseminar a mutação?
Lá (em Manaus) tinha uma crise de desassistência. Não havia oxigênio. As pessoas morreram sem oxigênio. Uma coisa pavorosa. As pessoas viram aquilo e mudaram. Saíram de barco, de avião, de carro. Do jeito que podiam sair. Além disso, o próprio governo virou e disse ‘aqui não tem condição. Vou transferir’. Começou a colocar pessoas em aviões da FAB e os familiares foram atrás. Por uma questão humanitária, você pode transferir? Pode. Mas tinha que ser feito todo o protocolo de biossegurança, dos pilotos e do pessoal que foi buscar no aeroporto. Separar as pessoas nos CTIs, separar enfermeiros e médicos, além de usar somente pessoal vacinado. Teria que ter sido feito com muito cuidado. Quando fizeram do jeito que fizeram, sinalizaram para a população de Manaus, que saiu de barco em direção do Pará e desceu a Belém-Brasília, indo para Goiânia, Tocantins e Minas. Além do que transferiram, sinalizaram que a melhor solução era sair da cidade. Os voos estão funcionando regularmente. O resto do mundo fechou os voos brasileiros. Viram que aquilo dali iria se espalhar. Se iria se espalhar para eles, imagina dentro do Brasil?
 
O que fazer daqui para frente? O senhor disse que há pouca testagem. Fazer mais exames é o caminho?
Eles deixaram testes estragar. Vão doar testes para o Haiti e ficar livres, pois é improbidade. Não estão fazendo testagem. Não sabem. Estamos em um voo cego. O painel do nosso avião está escuro, voando sem destino.


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