Jornal Estado de Minas

Chuvas

Após prédio irregular desabar em BH, desalojados relatam medo e insegurança

Em meio às chuvas, 30 moradores de cinco casas do Aglomerado da Serra, na Região Centro-Sul de BH, tiveram de deixar suas moradias depois que um edifício de cinco andares, ainda em construção, desabou, na madrugada desta segunda-feira (08/02).



A construção era irregular. Ninguém se feriu, mas os imóveis foram atingidos pelo desmoronamento e, de acordo com a Defesa Civil de Belo Horizonte, tiveram de ser interditados por estarem sob risco de colapso.

Desorientados, muitos moradores desalojados passaram a madrugada perambulando, sem um destino certo e com medo de voltar para suas casas. Nove pessoas encontraram abrigo na casa de uma vizinha que se solidarizou com a situação.

"Minha casa é pequena, mas o coração é grande. Assim que teve o desabamento abri minhas portas para os vizinhos, para as crianças. Daí fomos batendo de porta em porta na comunidade para conseguir colchões e cobertores para eles. Quando perdi meu filho para a leucemia, meus vizinhos me ajudaram com tudo. Foram a minha fortaleza. Agora eu apenas retribuo", disse a aposentada Maria de Lourdes de Oliveira, de 61 anos, responsável por abrigar a maior parte dos desabrigados.

Por volta da meia-noite, a Defesa Civil foi chamada para averiguar o surgimento de trincas na edificação em construção. Os técnicos alertaram que a estrutura estava em risco iminente de desabamento, mas como não havia habitantes os vizinhos não tomaram nenhuma providência.



"A gente achou que se o prédio fosse tombar, cairia para o lado de um barranco e não sobre as nossas casas. A minha filha chegou a ver as trincas. Mas não achava que ia destruir a nossa casa. Tivemos de fugir pelos fundos do lote para não sermos atingidos. Os bombeiros vieram e nos ajudaram. Ainda há pedaços de laje e de muro dependuradas e que podem desabar sobre as casas. Ainda está muito perigoso aqui", afirma a dona de casa Neuza Alves Batista , de 63.

O cão Boris precisou ser resgatado pelos bombeiros (foto: Jair Amaral/EM/D.A.Press)
A pressa foi tanta para salvar a própria vida que os aposentados Otavio Inácio dos Santos, de 66, e Alaide Pereira Souza, de 68, sequer tiveram tempo de trazer os medicamentos de uso contínuo que fazem uso. "Eu tenho pressão alta e diabetes, a minha mulher tem pressão alta. O susto foi grande demais e por isso não tivemos tempo de pegar nada. Nessas horas você corre contra o tempo, porque não sabe se vai desabar o teto todo sobre a sua cabeça e te matar", disse Otávio.

O casal morava bem atrás da obra que desabou, mas afirma que nunca viram quem seria o proprietário.

"Até no domingo os pedreiros que estavam construindo essa obra ainda estavam trabalhando aqui. Hoje, depois que desabou, sumiram todos. Ainda bem que caiu quando não tinha ninguém, porque todos os dias tinham meia dúzia de pedreiros trabalhando aí dentro. Ia ser uma tragédia", afirma Alaide.



'Medo de um desastre'


A doméstica Maria de Souza da Silva, de 57, só conseguiu deixar a sua casa com a ajuda do Corpo de Bombeiros, que precisou quebrar os muros e paredes de casas vizinhas para permitir que ela saisse.

"Eu já vinha tendo pesadelos com esse prédio há muito tempo. A gente via as trincas. Sabia que poderia cair. Ia trabalhar, mas a minha cabeça ficava aqui. minha patroa mesmo disse que eu estava distraída, que andava avoada. mas era medo desse desastre", conta a doméstica.

Com as pessoas da vizinhança sendo cadastradas pela Empresa Urbanizadora de Belo Horizonte (Urbel), os bombeiros puderam concentrar seus esforços no salvamento dos animais domésticos que ficaram isolados.

Preso no terraço de uma das casas atingidas, o pequeno cachorrinho Boris foi o animal que mais precisou de ajuda. O pelo escuro dele chegou a ficar marrom com a poeira que o desabamento de paredes de tijolos despejou sobre ele. Estava agitado, com sede e fome.



"O Boris é um sobrevivente. Como nós todos somos aqui também. Tive muita dificuldade de escapar, por ter problemas de obesidade. Não tinha como voltar com tudo caindo para salvar o Boris. Graças a Deus que os bombeiros vieram e o resgataram", agradece o estudante Luiz Eduardo Barista dos Santos, de 34.

Os gatos da doméstica Maria de Souza da Silva também ficaram na casa depois do desabamento e eram procurados pelos bombeiros.

"Estou muito preocupada com eles. O macho se chama Valente e a fêmea, Cacau. Como eles ficavam em uma parte dos fundos do quintal, quando a gente escapou do desmoronameno não tivemos tempo de os pegar", lamenta a mulher.

Laudo aponta falhas


O laudo de vistoria dos bombeiros aponta várias falhas: "A casa a ser vistoriada foi construída com inobservância dos padrões mínimos de segurança para a construção civil, visto que apresentava dano estrutural severo na sua fachada. Havia uma rachadura proveniente, possivelmente, de deformação transversal ocasionada por compressão, pois foram construídos três pavimentos de igual medida sobre um cômodo com medida inferior aos andares superiores".

O laudo esclrece ainda que que "a fachada não apresentava revestimento ou pintura, o que tornava ainda mais evidente a patologia apresentada pela estrutura. Com a incidência de intensa precipitação pluviométrica, a água infiltrava naquela rachadura, enfraquecendo ainda mais a estrutura. Cabe destacar também que havia construções de padrão irregular ao fundo e ao lado da residencia que apresentava dando estrutural severo".



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