Jornal Estado de Minas

REVITALIZAÇÃO

Chuva de semente: helicóptero ajuda a recuperar a natureza

O trabalho dos pilotos de helicóptero e do avião Air Tractor na ajuda à natureza não se restringe ao combate aos  incêndios florestais. Existe uma ação pelo ar de grande relevância para a conservação ambiental.Trata-se da chuva de sementes, feita com uso do helicóptero ou do avião para o reflorestamento de áreas devastadas por incêndios florestais ou degradadas em função de outros impactos, situadas em terrenos de difícil acesso. 




“A chuva de semente é uma técnica usada no mundo inteiro. É um sistema que garante a revitalização da natureza de maneira mais rápida”,  afirma o ambientalista Soter Magno, de Montes Claros, no Norte de  Minas, onde ele coordena   a  Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip)  Ovive (Organização Vida Verde). Ele também é vereador na cidade.  

O ambientalista ressalta que a chuva de semente é recomendada para a recomposição de áreas devastadas por queimadas. Ele conta que no início do período chuvoso 2020/2021, atuou em uma da chuva de semente com o emprego de um helicóptero, visando a revitalização de uma área de 110 hectares  na Serra do Mel,  nos arredores de  Montes Claros, atingida por um incêndio florestal, em setembro.

No combate do  incêndio na Serra do Mel, foi usado um avião Air Tractor para apagar as chamas em áreas de difícil acesso, reforçando o trabalho dos bombeiros e das equipes de brigadistas por terra. 

Soter Magno diz que a chuva de semente foi usada pela primeira em Montes Claros, em 2015, para a recuperação de uma grande área situada na região do Parque Estadual da Lapa Grande, perto da área urbana da cidade. “Hoje, já existem na mesma área árvores com quase dois metros de altura, resultantes da chuva de sementes”, assegura. 

O ambientalista explica que a técnica da chuva de sementes é aplicada da seguinte forma: primeiro, é feita a coleta de sementes de espécies nativas da região degradada ou afetada pelo fogo. Na sequência, as sementes são colocadas em saquinhos de papel  (“saquinhos de pipoca) que são lançados pelo ar, de helicóptero ou de avião (também pode ser usado balão). 





"Ou o  saquinho cai e estoura ao cair no chão ou fica preso nos galhos das árvores. Quando vem a chuva, o saquinho derrete e  as sementes caem no solo e forma a mata novamente. É uma técnica muito interessante", avalia Sóter.

A professora Rúbia Santos Fonseca, doutora em botânica do Insituto de Ciências Agrárias (ICA) da Universidade Federal de  Minas Gerais (UFMG) em Montes Claros, destaca que intervenções,  como a realização da chuva de sementes com o uso de helicóptero ou avião, são de grande importância para recuperação de áreas devastadas  pelas chamas.

“Os incêndios florestais não são iguais, podem atingir diferentes profundidades do solo, a copa das árvores, amplas extensões, impactando o banco de sementes de modo distinto. Considerando os casos de ambientes com solos rasos, ou amplamente queimados, incluindo o banco de sementes, é necessária a intervenção humana para aceleração do processo de recomposição da área, reduzindo a erosão e a perda de serviços ecossistêmicos, como a recarga dos lençóis”, observa a especialista. 





A professora da UFMG salienta que a chuva de semente por aeronave é inspirada em um processo natural. “A dispersão de sementes é estimulada em áreas em restauração, sendo muito útil principalmente em ambientes no qual o banco de sementes do solo foi inativado, ou é insuficiente. A deposição de sementes pode vir com o uso de poleiros artificiais para aves ou por semeadura direta a lanço, por exemplo”’, explica. 

A especialista destaca ainda a importância da técnica usada pelo ar para a recomposição ambiental, sobretudo em locais de difícil acesso por terra. “No entanto, não há estimativas concretas para o percentual de germinação, pode depender de diversos fatores, como a espécie da semente, a forma de coleta da semente e momento da semeadura. Enfim, são vários os fatores que influenciam na taxa de germinação. Por isso, é importante o monitoramento dessas áreas para verificar a efetividade da ação”, observa Rúbia Fonseca.

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