Jornal Estado de Minas

ALTO RISCO

Pantanal: pilotos se arriscam no trabalho de combate às chamas


O Pantanal foi altamente atingido pelos incêndios florestais em 2020. De acordo com os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), neste ano, até novembro, o fogo consumiu 4,017 milhões de hectares no bioma, que concentra uma das maiores áreas úmidas do planeta. Ainda segundo o Inpe, em outubro de 2020, foram registrados 2.856 focos de incêndios, o maio número de focos das chamas na região ocorrido em um mês na região pantaneira.





Segundo o Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (Lasa), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), nos primeiros 10 meses de 2020, as chamas devastaram 28% do território do Pantanal, situado nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, uma área correspondente a quase o tamanho da Dinamarca. A destruição poderia ter sido maior se não fosse a ação de combate ao fogo pelo ar.

Ao longo do ano foram várias missões de pilotos enviadas ao Pantanal para o apoio às brigadas em solo no combate às chamas, visando salvar o grande santuário da biodiversidade brasileira, que compreende 150.355 Km2 e concentra 463 espécies de aves, 263 espécies de peixes, 132 de mamíferos e 113 de répteis.

Um dos pilotos que combateram as chamas no Pantanal em 2020 é Gustavo Borges, natural de Uberlândia, no Triângulo Mineiro. Ele conta que ajudou a apagar as chamas no comando de um avião Air Tractor no bioma por duas ocasiões neste ano: primeiro, durante 15 dias, na comunidade de Porto Jofre, no município de Poconé, no Mato Grosso; depois, também por uma quinzena, numa missão na região de Corumbá e Miranda, no Mato Grosso do Sul.





“O apoio da aeronave é de extrema importância para o trabalho do pessoal de solo no combate aos incêndios florestais. A aeronave, com capacidade para carregar 2 mil litros de água, lança água em cima das chamas, baixando consideravelmente a temperatura e dando possibilidade aos brigadistas em solo de aproximarem e, de fato, apagar o foco de incêndio”, descreve Gustavo Borges. Ele conta que já atuou no enfrentamento do fogo pelo ar em diversas áreas de preservação, incluindo ações na Chapada dos Guimarães (Mato Grosso), Porto Velho (Rondônia) e também no Paraguai. Porém, tem lembranças mais marcantes do trabalho no Pantanal em 2020.

“Uma das missões mais interessantes que participei no Pantanal foi quando avistamos as chamas próximas a uma ponte de madeira. Aí, nós, em três aeronaves, lançamos água no foco de incêndio e conseguimos salvar a ponte, que é de extrema importância para os moradores daquela região”, relata o piloto.

Perdas no combate 


Numa triste comprovação dos riscos do serviço de combate ao fogo pelo ar, as queimadas no Pantanal mato-grossense em 2020 acabaram resultando também nas mortes de dois pilotos: o comandante Renato de Oliveira Souza, de 55 anos, da Força Nacional; e o coronel Mauro Tadeu da Silva Oliveira, de 54, do Corpo de Bombeiros do Pará. Ambos morreram no combate a incêndios na região. O comandante Renato de Oliveira Souza morreu no dia 8 de outubro. O helicóptero pilotado por ele caiu enquanto combatia o fogo na mata perto do município de Poconé (MT), a 104 quilômetros de Cuiabá. A aeronave ficou destruída. A causa do acidente teria sido falha mecânica.





Assim com os outros dois tripulantes, o piloto Renato de Oliveira Souza, que também era agente especial da Polícia Civil do Distrito Federal, ficou gravemente ferido e foi socorrido com vida. Souza foi encaminhado para hospital de Cuiabá, onde passou por cirurgia na coluna. No dia 21 de outubro, ele recebeu alta do hospital e foi transferido em uma Unidade Terapia Intensiva (UTI) aérea para o Rio de Janeiro, para continuar o tratamento em casa. Porém, no dia 27 de outubro (quatro dias após a comemoração do Dia do Aviador, 23 de outubro), o piloto veio a óbito.

O comandante da Força Nacional, coronel Aginaldo de Oliveira, revelou que o helicóptero atingiu o solo 15 segundos depois de ter sido acionado o botão de pane. “Ele (um dos tripulantes) nos relatou que o botão de pane acionou e, em 15 segundos, o helicóptero estava no chão”, disse Oliveira. Além do piloto, estavam no helicóptero o copiloto Luiz Fernando Berberick, da Polícia Civil do Rio de Janeiro; e o segundo sargento Emerson Miranda Martins, da Polícia Militar do Rio de Janeiro.

Conforme nota da Secretaria de Segurança Pública de Mato Grosso, Renato Souza teve um “quadro de falta de ar súbito, foi socorrido por uma ambulância, mas não resistiu”. Mas, de acordo com amigos e familiares de Renato Souza, houve a suspeita de tromboembolismo pulmonar – o bloqueio de artérias por coágulo sanguíneo.





Pesar 

O Ministério da Justiça emitiu nota de “profundo pesar” pela morte de Renato de Oliveira Souza no combate aos incêndios no Pantanal, no qual destaca o “profissionalismo e dedicação ao país” pelo piloto. Na nota, o ministério lembra ainda que, como integrante da Força Nacional, Renato Souza participou de inúmeras operações pelo país, incluindo as Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro e a ação de salvamento das vítimas da tragédia da barragem da Vale em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, ocorrida em 26 de janeiro de 2019

O coronel Mauro Tadeu da Silva Oliveira, do Corpo de Bombeiros paraense morreu no dia 30 de novembro. Ele pilotava um helicóptero do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), que caiu no Pantanal, na região da divisa entre Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Mauro Tadeu estava atuando na força-tarefa de combate a incêndios na região.

O corpo do piloto foi encontrado na madrugada de primeiro de dezembro, no meio dos destroços da aeronave, um helicóptero Bell BH06 long ranger. Conforme o Ibama, a aeronave estava sendo utilizada para pegar água em um rio para o combate ao incêndio nas proximidades da região de "Porto Índio", localizada nas divisas de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Mauro Tadeu estava sozinho no helicóptero no momento da queda. O restante da tripulação estava em solo. 


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