Jornal Estado de Minas

RACISMO

Após ter cabelo black apagado, operadora consegue tirar identidade em Itaúna

Tirar a segunda via da identidade virou motivo de emoção para Sara Policarpo, de 25 anos. Isso porque a operadora de linha de montagem passou uma situação de constrangimento perante a um fotógrafo de Divinópolis, no Centro-Oeste de Minas, que apagou o cabelo black da cliente num programa de edição, alegando que a imagem sem tratamento iria ser “recusada” na emissão do documento. Após denunciar o caso, Sara conseguiu ter o RG em mãos com a foto original.





Na ocasião, Sara havia procurado a Unidade de Atendimento Integrado (UAI) de Divinópolis, na sexta-feira (20), para emitir a segunda via da identidade, já que em Itaúna, onde mora, o serviço não era feito. Ao tirar uma foto 3x4, o fotógrafo disse que não seria possível ela aparecer na imagem com o cabelo black. Ela teria que baixar o volume. Ela relatou a história em um post no perfil do Instagram, gerando muita indignação das pessoas com a situação de constrangimento pelo que ela teve de passar.

O procedimento de apagar uma característica negra, o cabelo crespo com volume, é apontado como uma forma de racismo.

Mas nesta terça (24) a situação foi diferente: Sara conseguiu emitir a segunda via da identidade sem precisar mexer no penteado. O serviço foi agendado por um delegado da Polícia Civil para que a operadora fizesse o documento em Itaúna. Após ter o RG em mãos, a jovem chorou de felicidade, como contou em conversa com o Estado de Minas.

“Fiquei muito feliz. Aqui em Itaúna aceitou a foto tranquilamente, falaram que o meu rosto estava visível, que dava para fazer, sim, a identidade. Você não sabe a felicidade que estou de ter a identidade. Mesmo se eu tivesse com o meu cabelo preso estaria feliz. Estou muito feliz. Chorei demais. Para muitos parece uma coisa boba, mas para mim foi uma vitória”, disse Sara.





Após todo o ocorrido, Sara deixou um recado para quem passar por situações de racismo: que leve para frente o relato, para que a voz de quem denunciar seja ouvida.

“(O conselho que dou é) Para não se calar, falar o que realmente aconteceu, que passou por racismo. No meu caso eu pensei que não seria ouvida, mas todo mundo me ouviu, gente de fora, todo mundo me acolheu nessa causa. A gente pensa as vezes que não tem voz, mas nossa voz é muito mais alta do que a gente pensa. Sempre usar os direitos, se acha que passou por algum preconceito”, concluiu.

A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG), responsável pela emissão do documento, informou que a Delegacia Regional, em Divinópolis, investigará a suposta conduta irregular do fotógrafo. A instituição disse, também, que o profissional não possui qualquer vínculo com a PCMG e que ele atua em um comércio.

"A Polícia Civil reforça que não coaduna com qualquer conduta de racismo", disse, em nota.

A instituição também informou que recebeu, na UAI de Divinópolis, as solicitações de confecção de documento de identidade das denunciantes, mas as fotografias estavam em desacordo com as recomendações da portaria. A Polícia Civil destacou, no entanto, que o cabelo ou penteado não interferem na confecção do documento e que precisam seguir "padrões técnicos mínimos para a fotografia a ser utilizada no processo de carteiras de identidade civil no estado".




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