O banqueiro Aloysio de Andrade Faria morreu na manhã desta terça-feira (15/09), aos 99 anos, em sua fazenda, em Jaguariúna, no interior de São Paulo. Nascido em Belo Horizonte, Faria, que completaria 100 anos em novembro, era o banqueiro mais velho da lista da revista Forbes e o terceiro mais idoso entre todos os bilionários, com uma fortuna estimada em US$ 1,7 bilhão (cerca de R$ 9 bilhões).
Leia Mais
País tem mais bilionários na lista da ForbesBrasil tem 18 bilionários na lista anual da Forbes Brasil tem 20 bilionários na lista da revista "Forbes"Ele teve origem em uma família rica. O avô era um bem-sucedido pecuarista na região de Pedra Azul, no Vale do Jequitinhonha. O pai dele, Clemente de Faria, deixou Pedra Azul e mudou-se para a capital mineira, onde, em 1925, fundou o Banco da Lavoura de Minas Gerais. Em 1971, dividiu a empresa em dois bancos, para cada um dos seus filhos: o Banco Real (Aloysio) e o Bandeirantes (Gilberto Faria).
Inicialmente, Aloysio Faria não pensava em seguir a carreira de banqueiro. Formou-se em medicina pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e especializou-se em gastroenterologia pela Universidade Northwestern, de Chicago (EUA). Com a morte do pai, em 1948, assumiu o então Banco Real. Em 1998, na época o quarto maior banco privado do Brasil, o Real foi vendido por US$ 2,1 bilhões ao holandês ABN Amro (posteriormente comprado pelo Santander).
Em mais de 70 anos de vida empresarial, Aloysio Faria construiu um conglomerado que engloba não apenas o Banco Alfa (atual Conglomerado Alfa), criado após a venda do Real, mas também uma dezena de empresas, como a rede de hotéis Transamérica, emissoras de rádio, a fabricante de água mineral Águas da Prata, a gigante de material de construção C&C e a produtora de óleo de palma Agropalma, entre outros negócios.
Em comunicado, lamentando a morte do empresário, os executivos do Conglomerado Alfa lembram que banqueiro mineiro teve trajetória sempre marcada por “uma forte influência para o setor financeiro e para a economia do país. Pessoa de uma cultura impressionante, doutor Aloysio deixa um exemplo de discrição, simplicidade e empreendedorismo. Seu modelo de gestão sempre foi baseado na valorização da ética, confiança, seriedade e competência”, enaltecem os executivo do grupo empresarial.
Lembram que “criador de negócios e oportunidades”, Faria “era um visionário e um homem à frente de seu tempo. Fonte de inspiração diária, doutor Aloysio sempre manteve um ambiente de trabalho saudável e profícuo em suas empresas, dedicando-se a firmar seus valores e sua cultura de liderança e gestão vencedora”, enfatizam os executivos do Conglomerado Alfa.
Várias lideranças empresariais, executivos e dirigentes de outros bancos lamentaram a morte do banqueiro mineiro. “Aloysio Faria jamais buscou cultuar sua própria personalidade, preferindo valorizar as marcas que criava. De Delfim Netto, que o considerava um dos financistas mais sofisticados do país, ganhou o apelido de 'banqueiro invisível'. Com essa postura, amealhou admiradores e seguidores. "Com tantos feitos, destacava, da vida, a importância da simplicidade", lembrou o presidente do conselho de administração do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi.
Discrição e sensibilidade social
Além de discrição, Aloysio de Andrade Faria também se notabilizou pela solidariedade e pelo apoio a instituições. Ele foi apontado como uma espécie de “mecenas” da Universidade Federal de Minas Gerais, onde formou-se em medicina. Concedeu importantes doações para o Hospital das Clínicas da UFMG e destinou recursos para a construção do Centro do Idoso e Saúde da Mulher da instituição.
Aloysio de Andrade Faria também doou expressivas somas de recursos para ampliação dos serviços de uma instituição de saúde que leva o nome do pai dele no Norte de Minas, o Hospital Universitário Clemente de Faria (HUCF), vinculado à Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes).
O reitor da Unimontes, Antonio Alvimar Souza, divulgou nota em que lamenta a morte do banqueiro e lembra que ele foi um dos maiores benfeitores da universidade e do seu hospital, cujo atendimento é gratuito, bancado pelo SUS.
Alvimar lembra que, entre outros serviços, as doações do banqueiro possibilitaram a implantação do pronto socorro e do Centro de Atendimento à Saúde do Idoso do HUCF. As doações permitiram ainda uma série de investimento em obras de reforma, melhoria, ampliação e aquisição de equipamentos que contemplaram praticamente todas as clínicas e serviços do hospital.
‘Se todo grande empresário brasileiro tivesse o comportamento social de Aloysio de Faria, certamente nosso país estaria em situação muito melhor”, afirmou o ex-reitor da Unimontes, Paulo César Gonçalves de Almeida.