Jornal Estado de Minas

MEIO AMBIENTE

Sem vaga para novos enterros, Capim Branco inicia expansão de cemitério e gera polêmica

Em Capim Branco, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, uma obra emergencial da prefeitura está causando polêmica entre os moradores. Sem ter mais lugar para enterrar os mortos, a administração municipal resolveu ampliar a capacidade do cemitério, retirando o muro da frente e estendendo a área. Mas a terra que está sendo removida para a obra estaria sendo despejada em um terreno que margeia o Ribeirão da Mata e muito próximo a um dos poços da Copasa, que abastece a cidade.

 
Os moradores alegam que essa terra poderia estar contaminada com necrochorume e, uma vez realocada, a chance de contaminar o poço e assorear parte do ribeirão seria grande. A Resolução número 335 do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), de 2003, traz diretrizes para a implantação de cemitérios.




 
O inciso I do artigo 5º diz que a “área prevista para a implantação do cemitério deverá estar a uma distância segura de corpos de água, superficiais e subterrâneos, de forma a garantir sua qualidade, de acordo com estudos apresentados e a critério do órgão licenciador”. A mesma resolução traz ainda uma série de normativas para impedir a contaminação do lençol freático por restos provenientes da decomposição dos corpos.
 
A prefeitura, por meio de nota, esclareceu que toda a terra depositada no terreno foi removida da frente do terreno do cemitério e, segundo ela, não estaria contaminada. “A terra não está próxima ao córrego e essa mesma terra retornará ao cemitério para fazer o nivelamento acima dos jazigos. Salientamos que essa terra não tem características de necrochorume, pois ela se encontrava do lado de fora do cemitério”, afirmou.
 
Moradora da cidade, a auxiliar de serviços gerais Kathlhem Karine diz que a população de Capim Branco fica preocupada porque não houve análise da terra retirada do cemitério. Ela teme que possa estar contaminada.




 
“Essa terra onde está vai causar impacto ambiental e impacto na saúde de todos os capim-branquenses. Ali não é o local apropriado, deveriam colocar em um local onde não causaria dano ao meio ambiente e à população. É uma falta de respeito enorme a toda população o que está sendo feito”, afirma.
 
Para Libério Silva, doutor em geociências, o solo no entorno do cemitério pode sofrer contaminação. “O necrochorume pode ser levado para áreas adjacentes por movimento lateral em períodos chuvosos, contaminando esse solo com micro-organismos patogênicos e outros compostos presentes no corpo humano, que podem alcançar o meio, que não está preparado para recebê-lo. Isso pode causar danos irreparáveis”.
 
Moradores relataram que técnicos da Copasa estiveram no local para fazer uma análise. A filial da empresa na cidade foi contactada, mas ninguém foi localizado para comentar o assunto.
 
A expansão do cemitério inclui a aquisição de 260 jazigos pré-moldados, além da construção de muro e de uma nova entrada. Em matéria publicada pelo EM no último dia 7 de agosto, a secretária de Administração, Valéria Alves, ressaltou que a prefeitura “estuda possibilidades para a possível construção de um novo cemitério. Porém, o principal empecilho é que hoje o Município não possui nenhum terreno adequado (com possibilidade de autorização ambiental) e os que poderiam ser usados foram vendidos ou doados em gestões anteriores”.