Jornal Estado de Minas

Governador Valadares

Professora aprende a fazer bolos e troca por arroz e feijão para ajudar os mais pobres

O período de isolamento social causado pela pandemia do novo coronavírus mudou a vida da professora Hélcia Quintão, de Governador Valadares. Antes do início do isolamento, ela cumpria uma rotina de sempre, de chegar em casa, vindo da escola, e tomar o café da tarde com sua mãe, Lúcia Boechat Quintão, de 79 anos. A quarentena obrigou a mãe a ficar reclusa e Hélcia, saindo menos vezes de casa, sentiu a necessidade de fazer bolos para o café da tarde, evitando as idas e vindas à padaria. 





Só que a decisão de fazer bolos exigiu superar um desafio novo e curioso: Hélcia não sabia fazer bolos. “Ah, mas eu aprendi. E foi uma das melhores coisas que aprendi nessa quarentena”, disse. Os bolos agradaram tanto, que Hélcia teve uma outra ideia: fazer bolos e trocá-los por alimentos da cesta básica, que seriam doados às famílias de baixa renda. 

Nas primeiras trocas, ela aceitava também cobertores, porque os dias estavam frios em Governador Valadares. Esses cobertores foram doados para o Lar dos Velhinhos. Mas como frio em Valadares é coisa passageira, logo começou o calor e Hélcia passou a aceitar apenas alimentos para as trocas.

Assim, dezenas de famílias de baixa renda foram beneficiados com os alimentos. “Tomei essa decisão porque me via numa zona de conforto, mas sabia que um tanto de gente não tinha o que comer nesse período do isolamento social. Então, me coloquei como intermediária entre quem pode doar e quem necessita receber”, disse. 





Na cozinha apertada de sua casa no Centro de Governador Valadares, Hélcia faz os bolos e junta os muitos pacotes de arroz e feijão que vão chegando para serem trocados. Depois de uma triagem, feita por ela e amigos, os alimentos vão sendo levados para as famílias que moram em bairros periféricos.
 

Meta superada 

 
A resposta das pessoas que viram as fotos dos bolos e as mensagens de otimismo publicadas pela professora em suas redes sociais surpreendeu Hélcia. A meta inicial, de fazer 50 bolos, que parecia ser um desafio grandioso, foi superada. Ela já fez mais de 200 bolos. E todos são entregues ao doador dos alimentos com um cartão e uma mensagem positiva. “Foi a forma que eu encontrei de quebrar o discurso de ódio tão comum nos dias atuais, especialmente nas redes sociais. Precisamos de mais amor e solidariedade”, disse.

A cada semana, os cartões que são presos aos bolos têm mensagens sobre um tema diferente. “Já trabalhei com temas como esperança, compaixão, resiliência, semear e união. A união é o tema desta semana”, disse Hélcia, feliz com a repercussão que cada tema alcança nas redes sociais. Cada bolo é trocado por 5 quilos de arroz e 2 de feijão. Esses itens da cesta básica foram os escolhidos porque fazem parte da tradição do brasileiro. “Arroz com feijão é o alimento básico das nossas famílias e são dois itens que também valorizam a troca”, explicou.





Na tarde desta quarta-feira, Hélcia tinha apenas 1 pacote de arroz e 1 pacote de feijão no estoque para doações. E recebeu um pedido de duas famílias que não tinham o que comer. “Postei na minha rede social que eu precisava alimentar essas duas famílias e recebi muitos telefonemas encomendando bolos. Pronto, já consegui os alimentos para essas duas famílias”, disse, feliz da vida. Ela diz que apesar disso, reconhece que o mundo vive dias tristes, e que a alegria de viver precisa ser buscada nas pequenas coisas, nos pequenos gestos. 

Quem quiser ajudar o trabalho de Hélcia Quintão pode acessar a sua rede social no instagram. @helciaquintao