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Estado de Minas EFEITO PANDEMIA

Crise do coronavírus: 30 lojas fecham as portas no Mercado Central de BH

Estabelecimentos não voltarão a funcionar, mesmo com o fim da pandemia. Com o fluxo de visitantes bem menor, comerciantes amargam queda no faturamento, mas a maioria ainda resiste e precisou se reinventar


29/07/2020 14:03 - atualizado 29/07/2020 15:00

30 lojas no Mercado Central não voltarão a funcionar depois da pandemia(foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)
30 lojas no Mercado Central não voltarão a funcionar depois da pandemia (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)

Pela primeira vez em 90 anos de história, o Mercado Central de Belo Horizonte fecha as portas aos domingos. Um dos principais atrativos turísticos da cidade, o maior centro comercial de BH amarga os efeitos negativos da crise com o coronavírus. Vários lojistas também não vão reabrir seus estabelecimentos, mesmo após a pandemia. Do total de 390 lojas, 30 não têm mais condições de voltar à ativa e, no momento, das que ainda resistem, apenas 120 estão funcionando.

O superintendente do Mercado Central, Luiz Carlos Braga, explica que a situação se agravou por um conjunto de fatores, entre eles diminuição do faturamento e falta de clientes, o que faz com que muitos lojistas não tenham mais como arcar com os custos de aluguel e despesas normais do comércio.

Como esclarece, o movimento caiu em 80%, na comparação do patamar antes da pandemia e a partir de 18 de março, quando as medidas restritivas na capital para combate ao coronavírus começaram a ser desenhadas. Sobre o volume de vendas, atualmente a arrecadação está em apenas 20% do nível normal, antes da disseminação da doença.

Outro dado mostra a retração no número de clientes - das 31 mil pessoas que costumavam ir ao Mercado Central antes da pandemia por dia, agora o registro é de um público de 2 mil visitantes diariamente. Ao mesmo tempo, dos 8 portões de entrada que funcionavam, sem controle de público, hoje são apenas três, com restrição na entrada - apenas 370 pessoas são autorizadas a frequentar o local simultaneamente.

Com diminuição no fluxo de clientes, comerciantes amargam queda no faturamento(foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)
Com diminuição no fluxo de clientes, comerciantes amargam queda no faturamento (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)

"O intuito é evitar aglomerações. O uso de máscara também é obrigatório, disponibilizamos álcool em gel nas portas de acesso, fazemos o controle com distribuição de fichas, e também distribuímos informativos sobre o coronavírus. A partir de agora, aos sábados, entre 8h e 11h, com apoio da Cruz Vermelha, também faremos a aferição da temperatura dos clientes", descreve Luiz Carlos.

Entre as lojas que encerraram as atividades, de diversos ramos, estão as de utilidades domésticas, artesanato, produtos naturais, itens para feijoada, suplementos de musculação, para citar apenas algumas. Bares, restaurantes e salões de beleza estão fechados desde 18 de março. Seguem abertas lojas com serviços essenciais, como do segmento de alimentação e farmácias, além de pontos de artigos religiosos e de animais, esses últimos só para tratamento dos bichos, com as vendas proibidas.

Volume de vendas está em apenas 20% do que era registrado em dias normais, antes do coronavírus(foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)
Volume de vendas está em apenas 20% do que era registrado em dias normais, antes do coronavírus (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)

Houve ainda alteração no horário de funcionamento. Antes da pandemia, o mercado abria de segunda-feira a sábado de 7h às 18h e, aos domingos, de 7h às 13h. No momento, esse intervalo foi alterado para entre 8h e 17h, de segunda-feira a sábado e, aos domingos, agora fica fechado. "É uma situação angustiante e delicada, que não ocorre apenas no Mercado Central e em Belo Horizonte - está no mundo todo. Entre funcionários e lojistas, todos os colaboradores estão envolvidos. Temos que dar nossa contribuição", diz o superintendente.

Com foco em produtos naturais e ervas, a Loja do Cris foi inaugurada no Mercado Central há pouco mais de um ano. O proprietário, que preferiu não ser identificado, atuava como corretor de imóveis antes de seguir a sugestão de um amigo e abrir o comércio no mercado. "Achava que quem entrava no Mercado Central ficava rico, mas não foi o que aconteceu comigo", diz.

Com a pandemia, as vendas diminuíram brutalmente. O empresário conta que havia dias em que não realizava uma venda sequer, e atribui a queda no movimento mesmo ao coronavírus. Entregou as chaves da loja, que era um imóvel alugado, em 9 de junho, registrando um prejuízo de R$ 15 mil, além das mercadorias perdidas. "Não queria sair, queria continuar,mas não pude. Gostava muito do mercado, do ambiente, das pessoas. É uma situação que fugiu do meu controle. Fechei antes do prejuízo ser maior", revela, ele que, formado em Direito, pretende agora retomar a carreira nessa área.

Robson Bartolomeu da Costa é a segunda geração no comando da Laticínios Irmãos Costa, que funciona no Mercado Central há 60 anos vendendo laticínios em geral, queijos variados, mel, cachaça, doce de leite, pão de queijo, azeite, enlatados, entre um cardápio de mais de 400 tipos de produto. O negócio passou das mãos dos pais para sua coordenação. O pai é falecido e a mãe de Robson, Zelita Gonçalves Costa, que geralmente ficava com o filho no dia a dia da loja, agora está recolhida em casa. São seis funcionários, e um deles acaba de ser demitido.

Dentre as lojas que permanecem abertas, estão as do ramo de alimentação(foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)
Dentre as lojas que permanecem abertas, estão as do ramo de alimentação (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)

Boa parte das vendas no laticínio é para atacadistas, como bares e restaurantes, bufês, salgadeiras, e esses clientes não compram mais. Robson lembra que, do público de 30% de turistas que antes frequentavam o mercado, entre o montante total, quase não há mais ninguém. O movimento e o faturamento diminuíram 50% no paralelo entre o patamar antes da pandemia e no período atual.

Uma das medidas que o empresário adotou para economizar é mudar a alimentação dos funcionários do consumo em restaurantes para as marmitas que a mãe faz todos os dias e distribui aos colaboradores - apenas neste aspecto, foi possível poupar entre R$ 2 mil a R$ 3 mil por mês. Robson chegou a ser infectado pelo coronavírus em maio, e ficou em isolamento até melhorar. "Tomo todas as medidas de prevenção, mas aqui estamos muito expostos. Não sei como peguei", diz.

Evandro Oliveira está na equipe que coordena duas lojas de artigos religiosos no Mercado Central. Durante 70 dias, a partir de março, ambas ficaram totalmente fechadas. No momento, somente uma reabriu, e o foco mudou um pouco. "De um mês para cá, voltou aos poucos o atendimento presencial, mas agora estamos vendendo por delivery para pedidos que recebemos pelo whatsapp e Instagram", conta. São 20 anos de funcionamento ofertando produtos místicos e para religiões diferentes. O nível de vendas caiu para 20% do normal. "Está muito difícil recuperar. Estamos esperando normalizar", diz Evandro.

A Loja do Itamar está instalada no Mercado Central há 37 anos. Foi inaugurada pelo pai de Rodrigo Gomes Oliveira, que está à frente do negócio há 18 anos. A especialidade são queijos e doces mineiros. Rodrigo também coordena outras quatro lojas no centro de compras. Conta que duas delas chegaram a ficar totalmente fechadas, mas conseguiu negociar com os proprietários e pôde voltar a funcionar. O empresário assiste o faturamento despencar. No começo da pandemia, o quadro mais grave. No primeiro mês , o faturamento chegou a 15% do volume normal, no mês seguinte passou para 40%, e agora um sinal de melhora - 70%. Isso na Loja do Itamar, a mais conhecida.

Rodrigo revela que, nas outras unidades, o volume de faturamento está em 40% do normal. Uma das maneiras que encontrou para se reinventar foi o delivery. "O atendimento no balcão sempre foi forte. Mas o público sumiu. Nossos clientes começaram a ligar e, de duas a três entregas que fazíamos por semana, passamos para entre 50 e 60. Um novo modelo de vendas que ajudou muito. Os clientes começam a voltar aos poucos, porém todos estão com medo. Ligam para saber que horário está mais tranquilo, com menos movimento. A preocupação continua", diz.

Tatiana Gil costumava ir ao Mercado Central por lazer, mas agora comparece para abastecer seu novo negócio(foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)
Tatiana Gil costumava ir ao Mercado Central por lazer, mas agora comparece para abastecer seu novo negócio (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)

Tatiana Gil, de 48 anos, é frequentadora fiel do Mercado Central. Do trabalho no Estado, agora partiu para um empreendimento próprio, e há cinco meses inaugurou um canal nas redes sociais para revenda de produtos que encontra por ali. De lazer, a ida constante ao mercado se tornou negócio sério. Ela vai ao local três vezes por semana para adquirir queijos, linguiças, doces, petiscos, defumados e embutidos, e o que mais encontra em oferta para repassar aos seus clientes. "Observei o aumento do preço dos produtos. E também o movimento menor", conta.

Os amigos Diego Rodrigues Martins, de 33 anos, e Rodolfo Alves de Almeida, de 39, trabalham na UPA Oeste, no Bairro Jardim América, em Belo Horizonte, na linha de frente contra o coronavírus. Nesta quarta-feira, passeavam pelo Mercado Central, local que apreciam e frequentam semanalmente. Presença constante no mercado há cinco anos, Diego gosta do setor de alimentos, geralmente procura laticínios, chás, frutas secas, e também admira o artesanato, assim como Rodolfo, entusiasta também dos produtos orgânicos e naturais.  

Fluxo de clientes no centro de compras é agora limitado a 370 pessoas simultaneamente(foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)
Fluxo de clientes no centro de compras é agora limitado a 370 pessoas simultaneamente (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)

"São preços acessíveis, uma grande variedade de produtos, e também gosto do próprio ambiente. Encontro pessoas diferentes, de diversas culturas. Não parei de vir, mesmo com a pandemia. Trabalho diretamente com o coronavírus e já me acostumei. Sigo todos os protocolos e meios de prevenção", pontua Diego.

Com o fechamento do comércio no Centro da capital, com shoppings centers e cinemas sem funcionar, para Rodolfo ir ao Mercado Central é uma opção de lazer. Frequentador há 15 anos, ele observa que o público que costumava aparecer para encontrar amigos e conversar nos famosos balcões dos bares do mercado não vai mais. "A maior diferença está na diminuição do fluxo de pessoas, o ritmo agora é diferente. É um local fechado, não arejado. Mas a vida continua. Viemos aqui seguindo todas as medidas de segurança", ressalta.


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