Jornal Estado de Minas

VOLTA

Artesãs da Canastra se preparam para retomada de atividades produtivas

A cidade de Delfinópolis, no sudoeste de Minas, está retomando as atividades econômicas aos poucos. Ao contrário do restante do estado, onde a expansão do coronavírus é evidenciado nos boletins epidemiológicos emitidos pela Secretaria de Estado de Saúde - SEE, o município apresentou, até hoje (17), um único caso confirmado de contaminação pela COVID-19.


A prefeitura já liberou o funcionamento controlado de hoteis e pousadas, desde o dia 3, e a partir da segunda-feira (14) as balsas, um dos principais meios de transporte que leva turistas para a região, aravés do lago de Furnas. Elas foram autorizadas para operação 24 horas, sem restrições.

Enquanto as atividades comerciais presenciais e o turismo estiveram suspensos, as artesãs de Delfinópolis procuraram aperfeiçoar suas habilidades e conhecimentos por meio de cursos e dicas oferecidos pelo Sebrae Minas durante o período da pandemia.

As “Arteiras da Canastra”, artesãs que fazem parte da Associação das Artesãs de Delfinópolis, aproveitaram este tempo para tratar a fibra de bananeiras, "fazer novas peças, enfim, organizar mais as coisas para o momento de retomada, que esperamos ser breve”, conta Silvia Barçanuta Cabral, presidente da Associação das Artesãs de Delfinópolis. A região é a segunda maior produtora de bananas do estado. O produto move a economia local, agregado ao turismo.



As peças produzidas pelas artesãs têm sido muito bem aceitas, tanto pelos turistas que passam pela região, como por outros empreendedores locais. Foi o caso do produtor de queijo canastra Vale da Bateia, Humberto Gontijo de Oliveira, que viu nas peças da fibra de bananeira uma oportunidade de agregar valor ao seu produto e ainda ajudar o comércio. Ele é um dos consumidores das caixinhas de colocar queijo, produzidas pelas Arteiras da Canastra.

“Juntou a fome com a vontade comer. Nosso queijo é um queijo gourmet e precisa de uma embalagem mais adequada. Além disso, nosso produto combina muito bem com o artesanato e a gente ainda dá força para este outro segmento econômico da região”, explica Humberto. “As Arteiras da Canastra já produziram para nós caixinhas em formato de coração, que compõem um kit só com produtos da Canastra: geleia, vinho e queijo. Um presentão!”, completa o produtor.

“O Sebrae trabalha para desenvolver os micro e pequenos negócios, e valorizar a economia e o desenvolvimento territorial. Essa ação de levar capacitação e desenvolvimento para as associações e empreendedores, como as Arteiras da Canastra,  engloba três de nossos projetos: o Queijo da Canastra, a Banana de Delfinópolis e o artesanato que tem dado muito certo”, explica Fabiana Rocha, analista do Sebrae Minas.



Antes de serem apresentadas às possibilidades que a fibra da bananeira poderiam oferecer,  as Arteiras da Canastra trabalhavam com outros materiais, como linhas de crochê, tecidos e outros, que acabaram substituídos pela fibra de bananeira. “Nossas técnicas foram adequadas a uma matéria-prima que temos em abundância aqui na região e o retorno tem sido bastante animador”, comemora Silvia.

O projeto "Banana de Delfinópolis" foi um incentivo a pessoas da região a utilizar a fibra da bananeira para produzir objetos de artesantos. “Por muitos anos a fibra da bananeira foi completamente ignorada e descartada. Nossa ideia era produzir um artesanato que fosse atraente e ao mesmo tempo útil, e isto já está acontecendo, graças à força dessas 'Arteiras'", explica Fabiana.

HISTÓRIA
Município de pouco mais de 7.500 habitantes, Delfinópolis, que fica a 401 quilômetros de Belo Horizonte, conta com colaboradores de cidades vizinhas para movimentar um negócio que abrange 3.850 hectares de seu território.



A produção da banana emprega em torno de 1.300 trabalhadores diretamente na lavoura, e gera outros milhares de empregos indiretos. A fruta gera emprego a um funcionário para cada três hectares de lavoura.

A vocação para a banana foi descoberta a partir de 1993. Até então, o território tinha no café sua principal fonte de riqueza. Mas uma forte crise, provocada pelo excesso de produção, fez o preço cair vertiginosamente e impulsionou os produtores a buscar na fruticultura a recuperação de suas economias.

O começo foi com nove pequenos produtores que se associaram e realizaram o primeiro plantio em apenas 20 hectares de terreno, incentivados pela cooperativa de produtores de café da vizinha São Sebastião do Paraíso, que apontou a fruticultura como saída.

Atualmente, 70% da produção é destinada às cidades de porte médio do interior de São Paulo e à capital paulistana, além de Rio de Janeiro, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Uberaba, Uberlândia e Belo Horizonte.