Jornal Estado de Minas

Quarentena?

Reabertura do turismo na Serra do Cipó provoca fila quilométrica de carros

Cena incomum da Cachoeira do Pedrão, um dos pontos centrais de Cardeal Mota, completamente vazia; na Cachoeira Grande, outro ponto central, somente vigilantes na área (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
O primeiro dia de flexibilização do turismo na Serra do Cipó provocou uma fuga em massa de pessoas para o local. Uma barreira sanitária montada próximo à ponte que liga o município de Jaboticatubas a Santana do Riacho provoca uma fila quilométrica de carros, evidenciando a enorme quantidade de pessoas que foram aproveitar o feriado em plena pandemia do coronavírus.


De acordo com Nayara Poliana Carvalhais, enfermeira chefe da barreira sanitária, no período da manhão foram abordados aproximadamente 300 veículos. “Durante as abordagens tivemos o caso de uma adolescente que estava com a temperatura elevada. Orientamos que eles retornassem e procurarassem atendimento médico no município de origem”, relatou. Ainda segundo a enfermeira, os turistas que foram visitar pontos turísticos como as cachoeiras e o parque, que estão fechados, foram orientados a retornar. “Alguns turistas vieram para almoçar. Como tem restaurantes abertos, orientamos algumas medidas de cuidados e autorizamos entrar”, completou Nayara.

 

Inicialmente impedidos de funcionar, supermercados conseguiram liminar junto a Justiça e estão atendendo os turistas (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
A reportagem visitou a Cachoeira Grande e a Cachoeira do Pedrão, pontos que costumam ficar cheios de pessoas nos feriados, mas ninguém foi encontrado. E, enquanto a maioria dos moradores vão às ruas de máscara, vários turistas não usam o equipamento, aumentando a chance de contaminação.

O decreto Municipal que determina abertura parcial do turismo na região divide opiniões. Enquanto alguns empresários e trabalhadores comemoram a volta parcial das atividades turísticas, moradores e associações comunitárias da Serra do Cipó protestaram ontem contra a flexibilização. Moradores da região estão organizando uma “vaquinha” virtual para entrar com uma ação junto ao Ministério Público Estadual para embargar a reabertura do comércio.


O Decreto nº 041/PM511/2020 autoriza a retomada do funcionamento de bares, restaurantes, pousadas e outras atividades econômicas não essenciais. Mesmo com uma série de regras de segurança impostas, moradores manifestaram repúdio à medida na ponte onde começa o distrito de Cardeal Motta.

Enquanto isto, os contrários à flexibilização denunciam a falta de condições sanitárias do município para cuidar de pacientes com suspeita do novo coronavírus. Por outro lado, apoiadores da volta às atividades defendem a retomada com cautela, uma vez que não há casos de COVID-19

Turistas circulam pelas ruas sem usar máscara de proteção (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Apesar dos cuidados, como o uso constante de máscaras e capacidade máxima de 50% de ocupação nas pousadas, todas as cachoeiras e atrativos naturais permanecem fechados, assim como o Parque Nacional da Serra do Cipó.

Empresários e comerciantes que estão há meses sem abrir as portas e anseiam por um respiro nas contas, alegam que estão com reservas lotadas até julho. Enquanto isso, outros donos de pousadas, moradores e a comunidade em geral questionam a medida e alegam que, no caso de uma disparada da doença na região, não há estrutura necessária nem para primeiros-socorros.


Apesar da flexibilização, pelo menos duas pousadas contatadas pela reportagem informaram que não vão abrir. O dono de uma pousada e morador, que preferiu não se identificar, conta que recusou quatro reservas em um dia e que, em uma delas, ao cancelar, o cliente chegou a abrir reclamação em um site de hospedagem. “Os turistas vêm se divertir e desanuviar neste momento de pandemia aqui na Serra, mas não estão preocupados com saúde das pessoas do lugar”, conta.

Em outra pousada, o relato é de insistência constante por parte dos hóspedes. “Querem fazer reservas sem café da manhã, sem troca de roupa de cama, o que é proibido. Propõem condições absurdas, só para que aceitemos a reserva, sendo que a pousada é também a minha casa e de minha família, e, portanto, não dá para arriscar a vida deles, mesmo necessitando muito do dinheiro”, desabafa o dono.
 
Para Júlio Barroso, empresário e  presidente da Associação Comercial da Serra do Cipó, a flexibilização chega em hora certa e está seguindo todos os trâmites necessários para acontecer. Representante de 45 associados, entre bares, pousadas, restaurantes, atrativos e prestadores de serviço, lembra que as regras de higiene e de não aglomeração serão seguidas à risca.


Barroso, que é dono da pousada Carumbé, diz que está com seus 11 quartos (metade da capacidade) reservados até o terceiro fina de semana de julho. “Mantive os 30 funcionários da pousada por conta das reservas e da ajuda do governo, com a suspensão temporária dos contratos. Empregamos muitos moradores locais e estamos seguindos as regras. Aos poucos, todos vamos nos readequando”.

O decreto mantém ainda, por tempo indeterminado, a suspensão de casas de shows e eventos, salões de festas e centros comunitários, clubes, praças esportivas públicas e privadas. O uso das máscaras faciais é obrigatório para entrar em quaisquer dos estabelecimentos autorizados nesta fase.

No ofício enviado ao prefeito contra a flexibilização, os vereadores lembram a falta de estrutura da região e alegam que a abertura traz insegurança à população. “Diante de todo o exposto venho através deste dar conhecimento da situação expressar a preocupação surgida após a edição do último decreto”. O oficio é assinado pelo presidente da Câmara, vereador Neilton da Paz Marques, que informou que, somente em suas redes sociais, “mais de 500 pessoas expressaram discordância com a medida”.