Caso Backer: Polícia Civil indicia 11 por lesão corporal, homicídio e contaminação de alimento
Polícia apresenta, nesta terça-feira, a conclusão do inquérito que investigou a intoxicação de 42 pessoas por dietilenoglicol após consumirem cervejas da empresa
A divulgação dos detalhes sobre a investigação, conduzida pela 4ª Delegacia de Polícia Civil do Barreiro, está por conta do delegado Flávio Rossi, que está à frente dos trabalhos, e do superintendente de polícia técnico-científica, médico-legista Thales Bittencourt.
A Polícia Civil não divulgou os nomes dos indiciados, mas indicou que trata-se de uma testemunha que mentiu; o chefe da manutenção, por omissão; seis responsáveis técnicos por homicídio culposo, lesão corporal culposa e por agirem com culpa na contaminação e, por fim, três gestores da Backer indiciados por atos na pós-produção.
Flávio Grossi informou que o total de vítimas mudou. Eram 42, mas 13 foram retiradas do inquérito ao longo dos cinco meses de investigação, sendo três por se recusarem a fazer exames e 10 por fatores médicos ou de apuração. Assim, a Polícia Civil trabalha com 29 vítimas, sete fatais e 22 sobreviventes. Além disso, ainda há 30 pessoas em análise.
Cerveja Belorizontina, uma das que tinha a presença do dietilenoglicol (foto: Marcos Vieira/EM/DA Press)
“No início das investigações, como nós não podemos fechar hipóteses, havia até a possibilidade de contaminação dolosa para o aumento da produção, por exemplo, como havia também a possibilidade de contaminação por sabotagem. Conseguimos concluir que na verdade ocorreram crimes culposos no que tange a contaminação”, detalhou o delegado Flávio Grossi nesta terça-feira.
Ele explica que não é possível responsabilizar os proprietários da cervejaria pela falha na solda do tanque, mas o ponto é o uso do dietileno ou monoetilenoglicol na produção. “Esse vazamento fisicamente ocorreu porque havia um furo no tanque no alinhamento da solda. A questão a se destacar não é a ocorrência do vazamento: é o uso de uma substância tóxica dentro de uma planta fabril destinada a alimentação. Ela não poderia ocorrer”, enfatiza. “Bastaria uma simples leitura de três linhas para saber que aqueles equipamentos deviam funcionar com anticongelantes não tóxicos, como álcool”, disse o delegado. ´
Delegado fala sobre vazamento da substância no tanque
No início das investigações, a Backer informou que não usava dietilenoglicol na produção, mas o monoetilenoglicol, também tóxico. O produto era adquirido de um fornecedor. Durante as investigações, foi encontrado um tambor na área de descarte onde se lia “mono”, de 2018. No entanto, dentro dele havia dietilenoglicol. Foram analisados 10 tambores com a substância, sendo que havia nove com mono e um com dietilenoglicol. “Havia um hábito produtivo de uso daquela substância. Confesso que haveria uma necessidade de aferição quanto ao consumo daquele produto, porque existiam vazamentos. Eu demonstro visualmente em 2020 e comprovo matematicamente nos anos anteriores”, afirma Flávio Grossi. "O uso incorreto do equipamento usando substancia tóxica e o descontrole. Se alguém interrompesse essas duas condutas, nada ocorreria", pontuou.
O consumo foi ligado à síndrome nefroneural, manifestada nas pessoas que consumiram a cerveja. Posteriormente, a substância foi identificada em mais lotes. As cervejas chegaram a ser recolhidas e a fabricação foi suspensa. Segundo a polícia, o inquérito tem 4 mil páginas e 70 pessoas foram ouvidas durante as investigações, entre vítimas, parentes e pessoas ligadas à empresa.
Sabotagem, erro de procedimento na fábrica ou contaminação dolosa eram as três linhas nas quais a polícia se debruçava para desvendar a presença de substâncias tóxicas em lotes das cervejas da empresa mineira.
A instituição de segurança pública fez perícias na fábrica da marca, inclusive nos tanques de fermentação da bebida. (Colaborou Cristiane Silva)
Nota da Backer
Por meio de nota a assessoria da cervejaria mineira disse que “reafirma que irá honrar com todas as suas responsabilidades junto à Justiça, às vítimas e aos consumidores”. Sobre o inquérito policial, a Backer informou que “tão logo os advogados analisarem o relatório, a empresa se posicionará publicamente”.