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Estado de Minas COVID-19

Coronavírus: balanço de óbitos em Minas difere da contagem de 202 vítimas por cartórios

Marco de 106 mortes por COVID-19 em 24 horas chega com registro frágil. Portal da Transparência alerta para subnotificação no país


postado em 08/05/2020 04:00 / atualizado em 08/05/2020 07:36

Áreas para novas covas foram definidas pela Prefeitura de BH, onde o número de mortes subiu para 25(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Áreas para novas covas foram definidas pela Prefeitura de BH, onde o número de mortes subiu para 25 (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)


As mortes pela COVID-19 em Minas Gerais avançaram de 97 para 106 nas últimas 24 horas, constituindo um triste marco de óbitos na casa das centenas no estado.  De acordo com o boletim da Secretaria de Estado de Saúde (SES), houve aumento de nove vítimas de morte no estado em relação ao boletim de quarta-feira. Agora, são 2.770 casos confirmados da doença respiratória. O número de registros suspeitos de ter a infecção pelo vírus como causa segue alto, em 94.124.

Foram registradas duas mortes em Belo Horizonte, subindo de 23 para 25. As autoridades de Saúde registraram ainda três mortes em Juiz de Fora, que passa a contar nove óbitos, em lugar dos seis anteriores. Mortes também foram confirmadas em Uberlândia, Toledo, Bueno Brandão e Extrema. Dos 2.770 casos confirmados da doença no estado, 890 são registros da capital, 235 de Juiz de Fora e 190 de Uberlândia.

Com o avanço da COVID-19, 204 municípios mineiros tiveram confirmação da doença e 50 deles registraram mortes. A doença se espalha pelo interior de Minas, com registro de primeiros casos nos municípios de Alpinópolis, Alto Rio Doce, Bela Vista de Minas, Carandaí, Couto de Magalhães de Minas, Elói Mendes, Ilicínea, Itaú de Minas, Mar de Espanha, São Francisco do Glória, São João do Paraíso e Tabuleiro.

O número de mulheres contaminadas (1.346) segue maior do que o de homens (1.318). A maior taxa de contágio, de 78%, está na faixa etária dos 20 aos 59 anos. O número de idosos acometidos pela doença é de 474. Na faixa acima dos 60 anos, está concentrada a maior parte das mortes, de 80% do total. Morreram no estado pela doença 85 idosos, 18 pessoas com idades entre 40 e 59 anos e três na faixa etária de 20 a 39 anos.

O número de pessoas que morreram por Síndrome respiratória aguda grave (SRAG) em Minas Gerais desde o início da pandemia aumentou 357%, se comparado ao mesmo período do ano passado. Os dados podem ser observados no Portal da Transparência do Registro Civil, plataforma apresentada ontem pela Associação dos Registradores de Pessoas Naturais do Brasil (Arpen-Brasil).

Considerando-se a confirmação do primeiro caso de COVID-19 pelo Ministério da Saúde, em 26 de fevereiro, até 27 de abril, os cartórios em Minas registraram 119 mortes por SRAG, ante 26 no mesmo período do ano passado. Foram desconsiderados os dados dos últimos 10 dias, pois, de acordo com a Arpen, as informações são baseadas nos documentos médicos enviados aos cartórios regionais para lavrar os óbitos e esse procedimento pode levar de cinco a 10 dias para entrar no sistema nacional. O portal da transparência ainda indica uma possível subnotificação no registro de óbitos pelo novo coronavírus. Em Minas, até ontem, os cartórios já registraram 202 mortes pela doença.

A Arpen-Brasil ressalta que os números podem ser maiores, já que o prazo para registro de falecimento é de até 24 horas, mas com tolerância de 15 dias em alguns casos excepcionais, como quando a morte ocorre em local isolado e longe de cartórios de registro, a bordo de navios ou em missões militares. Os cartórios devem enviar os registrosà Central Nacional em até oito dias.

Quarentena reduzida O isolamento social caiu em Minas. No entanto, não é possível acompanhar os números, que não são divulgados pelo governo estadual. No último domingo, centenas de pessoas saíram para pistas de caminhada em Belo Horizonte e muitas delas não usavam a proteção das máscaras.

O percentual de isolamento social é divulgado por outros estados, como São Paulo, e consiste em um dos parâmetros para determinar se é necessária adoção de medidas mais rígidas para o enfrentamento da COVID-19. Na quarta-feira, o secretário de Estado de Saúde, Carlos Eduardo Amaral, informou que 3 milhões de mineiros são monitoradas por um aplicativo.

Porém, não detalhou qual é percentual que tem seguido a orientação de ficar em casa. Segundo o secretário, houve  redução no isolamento social, mas, sem a divulgação dos números não é possível saber em que proporção.

O Estado de Minas encaminhou o questionamento sobre esse percentual para ser respondido na entrevista coletiva concedida ontem por Carlos Eduardo Amaral, on-line, nas redes sociais. Retirada da lista pela equipe que recebe as demandas dos jornalistas, a pergunta não foi apresentada ao secretário.

Carlos Eduardo vem afirmando que uma mudança brusca no isolamento social pode levar o estado a "perder" tudo que fez até o momento.


Além de BH, Nova Lima foi uma das cidades em que o uso das máscaras se tornou obrigatório(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Além de BH, Nova Lima foi uma das cidades em que o uso das máscaras se tornou obrigatório (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)

Há 60 dias sem testes recomendados


Gabriel Ronan e João Vítor Marques

Durante os dois meses da confirmação do primeiro caso de COVID-19 em Minas Gerais, completados hoje,  houve muitas mudanças no enfrentamento da doença respiratória no estado e no Brasil. Máscaras, que no início da crise não eram obrigatórias, se tornaram o principal item do vestuário. Enquanto os números disparam nas unidades federativas vizinhas, com São Paulo e Rio de Janeiro à beira do colapso dos seus sistemas de saúde, Minas continua adiando o pico da doença, agora previsto para 6 de junho.

Ao mesmo tempo em que acertos nas políticas públicas devem ser ressaltados, o alto número de casos suspeitos – 94.124 em todas as cidades mineiras e mais de 30 mil só em Belo Horizonte – revela as dificuldades de testar as pessoas. “A forma mais eficaz de salvar vidas é quebrar a cadeia de transmissão. Não conseguiremos parar a pandemia se não soubermos quem está infectado. Temos uma simples mensagem: testem, testem, testem. Todos os casos suspeitos”, disse o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, em março, ainda no início da pandemia.

Entretanto, o protocolo é diferente no Brasil. O país só testa pacientes que enfrentam determinados quadros clínicos, como Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), profissionais de saúde sintomáticos e amostras provenientes de unidades sentinelas de síndrome gripal e SRAG. O mesmo vale para as mortes suspeitas de COVID-19 e para as amostragens representativas (mínimo de 10%) nos surtos de gripe em ambientes fechados, como asilos, presídios e hospitais.

Segundo o boletim da Secretaria de Estado de Saúde (SES), divulgado ontem, o estado diagnosticou apenas 10,7% dos casos suspeitos. Em Belo Horizonte, o percentual de pessoas testadas é ainda menor: 7,6%, já que 32,8 mil dos mais de 35 mil pacientes seguem sem saber se contraíram ou não o vírus. Segundo dados acumulados até segunda-feira e publicados em análise feita pelo projeto Coronavírus-MG, Minas Gerais tem os piores índices de testagem do país, tanto em relação ao tamanho da população, quanto ao número de casos suspeitos.

“Quanto mais pessoas forem testadas, melhor vai ser a nossa abordagem no enfrentamento da epidemia. Por exemplo, se eu testo várias pessoas com diagnóstico rápido, eu posso traçar os seus contatos, ir atrás desses contatos, propor quarentena para os contatos familiares e contatos no local de trabalho e, assim, reduzir a curva da epidemia”, afirma o infectologista Unaí Tupinambás, integrante do Comitê de Enfrentamento à Epidemia da COVID-19 da capital mineira.

“Sem teste, não tem como medir. Dá para a gente fazer modelos matemáticos, inferências em relação ao número de testes que foram feitos, que são estimativas. Mas as estimativas podem ser imprecisas, então não é o melhor caminho. O melhor caminho seria mesmo fazer uma testagem mais intensa, principalmente nas cidades maiores. As cidades muito pequenas têm uma densidade populacional baixa”, explica o vice-presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, Antônio Toledo Júnior.

De acordo com a SES, a rede de laboratórios parceiros da Saúde estadual tem capacidade de realizar até 2 mil exames por dia. A pasta confirma que "pode não haver realização dos testes nos “casos de pacientes com sintomas leves e sem indicadores que os posicionem em grupos de risco”. Segundo o governo, a Fundação Ezequiel Dias (Funed) começou a receber amostras para identificação do novo coronavírus em 12 de março e, desde então, havia obtido resultado de 12.845 das 14.561 amostras coletadas até 4 de maio. Todas foram processadas pelo exame RT-PCR, considerado mais seguro.

Quanto aos testes rápidos, a SES informa que recebeu aproximadamente 50 mil unidades do Ministério da Saúde. Esses exames não substituem o RT-PCR. Enquanto o mais ágil tem como objetivo saber se a pessoa já teve ou não contato com a doença, o teste mais demorado analisa a presença do vírus na mucosa e secreções nasais.

Capacidade A ampliação da testagem em Minas Gerais passa pela abertura do Laboratório de Biologia Molecular no Bairro Carlos Prates, Região Noroeste de Belo Horizonte. A unidade está em fase final de conclusão e terá capacidade de realizar 4 mil testes por mês. Quanto aos testes rápidos, a prefeitura da capital informa que deve receber, nas próximas etapas de enfrentamento ao vírus 75 mil unidades do Ministério da Saúde.

Desde que registrou o primeiro caso, em 8 de março, Minas Gerais comprou equipamentos de proteção individual, ampliou o número de leitos de enfermaria e de UTI e contratou profissionais de saúde para combater a pandemia do novo coronavírus. Medidas em prol do isolamento social e do fechamento do comércio, adotadas por BH em 18 de março e corroboradas pelo estado em 20 do mesmo mês, também fizeram parte do planejamento.

Dificuldade com pressão do sistema


Os percentuais atuais de ocupação de leitos e uso de respiradores em Minas Gerais e especificamente em BH são considerados positivos. Mas, além da demanda interna de cada cidade, outra preocupação surge para a administração pública: a migração de pacientes a partir de municípios ou mesmo estados vizinhos cujos sistemas de saúde estejam em piores condições.

“Como Minas Gerais está grudada em Rio e São Paulo, a gente tem visto situações peculiares. Em Juiz de Fora, que é muito perto do Rio de Janeiro, há um aumento na busca por demanda espontânea das pessoas do Rio por assistência médica em Minas Gerais. Como a pessoa sabe que as unidades do Rio estão lotadas e que teria que ficar migrando entre as unidades de saúde de lá, é mais rápido ela entrar num carro e ir para Juiz de Fora para ser atendida”, exemplificou o vice-presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, Antônio Toledo Júnior. Ele ressalta que fenômeno parecido pode ocorrer também na Grande BH em relação a outras regiões do estado onde não há tanta estrutura.

Do ponto de vista do corpo de profissionais da saúde, desde o início da pandemia, Minas abriu 15 editais para o preenchimento de 300 vagas nos hospitais Eduardo de Menezes e Alberto Cavalcanti, em BH; João Penido, em Juiz de Fora; e Antônio Dias, em Patos de Minas. Em BH, considerando também o que foi feito pela prefeitura, foram admitidos novos 1.270 profissionais, entre técnicos, médicos e enfermeiros.

Oficialmente, o governo estadual garante que não faltam equipamentos de proteção individual para os servidores, apesar de terem sido realzados protestos da categoria cobrando melhores condições de trabalho em abril. O investimento é de R$ 40 milhões para compra de quase 1 milhão de máscaras N95 e descartáveis. (GR e JVM)


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