Jornal Estado de Minas

O desafio da notícia

O quarto do subeditor Fred Bottrel foi transformado em estúdio para gravação de vídeo (foto: Arquivo pessoal)
 

Em meio à pandemia do novo coronavírus, a informação se tornou ainda mais preciosa no combate à doença e proteção ao cidadão. Comprometido com os interesses do leitor e utilizando a sua principal arma nesta guerra contra o vírus – a credibilidade –, o Estado de Minas aumentou em quase 70% o volume diário de produção de reportagens desde a confirmação do primeiro caso de coronavírus no Brasil, logo depois do carnaval.



 

 


Mais de 120 profissionais, entre repórteres, editores, fotógrafos, diagramadores, ilustradores, infografistas, equipes de tecnologia e apoio operacional e administrativo dedicam-se integralmente a uma cobertura extensa, complexa e desgastante. “Alteramos e agilizamos processos de trabalho para cumprir com maior eficiência a nossa missão: reportar, analisar, contextualizar, explicar, produzir vídeos, municiar a sociedade com o que há de mais valioso em um momento crucial, a informação de qualidade, produzida por profissionais da notícia”, explica o diretor de Redação, Carlos Marcelo Carvalho.

 

 


Dividida em três turnos, a maior parte da redação trabalha em regime de home office desde a semana passada. Equipes de reportagem seguem nas apurações externas nos espaços públicos, mas obedecendo às diretrizes de segurança da Organização Mundial de Saúde (OMS). “Precisamos sentir as ruas, vivenciar as transformações que o medo impõe à nossa rotina. Somos os olhos e os ouvidos do leitor que está recluso em casa”, lembra a editora-executiva, Renata Neves. 

   
De 26 de fevereiro, quando o primeiro caso de coronavírus foi confirmado no país, até 27 de março, foram mais de 2,5 mil matérias sobre o tema publicadas no Portal Uai e no em.com.br, entre conteúdo das equipes e das agências de notícias parceiras. A redação do Estado de Minas prioriza a produção de reportagens exclusivas. Parte da produção é aproveitada na versão impressa, que, em caderno diário, traz matérias aprofundadas, análises, informações de serviço e as principais notícias da doença que começou a assustar o mundo no fim de 2019, com a ocorrência dos primeiros casos em Wuhan, na China. Repórteres de todas as editorias participam da cobertura no on-line e no impresso.



 

 

 

Nem um abraço
 
A repórter Cecília Emiliana relata as nuances que envolvem o jornalismo em campo. “A pandemia de coronavírus coloca duas coisas, um tanto opostas, em perspectiva. Uma é a relevância do jornalismo neste momento em que a informação, literalmente, salva a vida das pessoas. Ao mesmo tempo, durante a cobertura do surto, eu me deparei com a minha própria impotência. Senti isso muito claramente há poucos dias, quando fui atender a uma pauta na CeasaMinas, principal centro de abastecimento de alimentos da Região Metropolitana de Belo Horizonte”, conta.


Ela entrevistou um pequeno produtor e, ao questionar se o surto tinha provocado efeito em suas vendas, se deparou com uma reação inesperada. “Ele disse que sim, que havia tido muito prejuízo naquele dia, e que estava com medo. De repente, começou a chorar”, revela a repórter. “Cheguei a me aproximar para oferecer um abraço, um conforto qualquer. Então lembrei-me de que, nesses tempos de pandemia, eu não podia fazer isso por uma pessoa que está triste, apenas dizer que vai ficar tudo bem.”


Gabriel Ronan é repórter da editoria Gerais desde abril de 2018 e observa que ser jornalista em 2020 está sendo um desafio. Depois do janeiro mais chuvoso da história do estado e o escândalo da cervejaria Backer, ele faz o balanço: a rotina está cansativa, embora garanta que a hora do trabalho é a mais “instigante e prazerosa”.




Desde a chegada do vírus às medidas de isolamento da população, a cobertura especial prima pela prestação de serviço, com entrevistas com infectologistas e autoridades sanitárias, explicações sobre prevenção e os impactos na rotina das pessoas, do ponto de vista pessoal, profissional e educacional. Os dados da pandemia pelo mundo e, especialmente, pelo Brasil e por Minas Gerais são atualizados diariamente. Perguntas como: “O que é coronavírus?”, “Como a COVID-19 é transmitida?”, “Como se prevenir?”, “Quais os sintomas do coronavírus?” e “Quais são os mitos e as verdades da COVID-19?” são respondidas de forma didática pelo trabalho de reportagem multimídia.

Produção de vídeos
Somente na última semana, foram produzidos mais de 20 vídeos para a plataforma IGTV do Instagram. “Logo que entramos no esquema do trabalho remoto, a gente estruturou a editoria para aumentar a produção e a distribuição de vídeos em redes sociais. Principalmente focados em plataformas móveis, porque entendemos que é ali que audiência estaria. Focamos no Instagram, com conteúdos informativos que ajudam as pessoas a entender o que está acontecendo. Mostramos o que tem ocorrido em outros países, o que é uma antecipação de tendência do que teremos aqui no Brasil”, diz o subeditor do Núcleo Multimídia, Fred Bottrel.

 

O repórter-fotográfico Leandro Couri, que ficou desolado com o cenário de Ouro Preto por causa da pandemia de coronavírus (foto: Arquivo pessoal)
 

 

O resultado dessa força-tarefa, explicitado no incremento na audiência do Estado de Minas digital, é a elevação expressiva da audiência do site e o reconhecimento do jornalismo feito com seriedade, da checagem minuciosa dos fatos e do compromisso de trazer sempre as fontes mais comprometidas com a boa informação. Prova disso é que, entre os canais de informação, jornais impressos (e seus respectivos sites de notícias) e emissoras de TV lideram o ranking de confiança dos brasileiros sobre o coronavírus, segundo pesquisa recente.



 

 


Como destaca a repórter Márcia Maria Cruz, a cobertura atual carrega uma grande responsabilidade para os profissionais do jornalismo. “A informação correta pode ajudar a salvar vidas, o que já significa o maior compromisso social e ético de todos os tempos na esfera jornalística”, diz.


Design editorial

 

Apesar de diagramadores, ilustradores e infografistas estarem trabalhando à distância, a qualidade gráfica do jornal se mantém em alto nível, como afirma o editor de artes, Álvaro Duarte. "O trabalho dos diagramadores continua sendo feito com o mesmo empenho, criatividade e agilidade, apesar das dificuldades que o trabalho remoto impõe para essa função. Tanto que a excelência gráfica dos jornais Estado de Minas e Aqui se mantém intacta. Infografistas e ilustradores são menos impactados com o trabalho à distância e também estão mantendo o alto nível dos trabalhos de design."

 

Além da agilidade e criatividade, outras questões são importantes para desempenhar a função à distância, como revela o diagramador Antônio Vargas Vilaça Júnior: "O trabalho em home office  para os diagramadores requer bastante atenção, pois nosso trabalho depende muito de um tráfego de internet bom para receber e enviar textos, fotos, artes e páginas. Tudo isso só é possível graças aos profissionais da tecnologia da empresa. Diante do atual quadro de isolamento, manter contato com todos profissionais requer organização e tempo, pois todo esse processo é novo. É um aprendizado".




Diante do perigo invisível
O repórter Gustavo Werneck observa que, “em casa ou na redação, o suor é o mesmo”. Para ele, trabalhar remotamente tem sido um desafio. “Sempre gostei da rua. Adoro conversar com as pessoas, olhar no olho, ouvir a voz, observar o entorno, enfim, descrever a cena para contar a história. O teletrabalho nos desafia, nos reinventa, desperta outros lados do ofício do repórter acostumado com a ebulição diária”, conta.


Para o repórter Mateus Parreiras, as pautas relacionadas à pandemia guardam outra importante peculiaridade. “Tem sido um desafio diferente das coberturas que já fiz. Não é como uma barragem rompida ou um terremoto. O perigo é invisível”, explica. “O trabalho em home office nos força a outras abordagens. É preciso ser mais arguto na interpretação de dados, buscar por fontes virtuais ou pelo telefone. Mais do que nunca, é preciso avaliar a situação o tempo todo, antecipar o que está por vir e trazer essa informação de impacto para nosso público”, conta.

 

 


O repórter fotográfico Leandro Couri conta a sua experiência na produção de reportagem sobre a situação das cidades históricas. “Ao caminhar pelas ruas de Ouro Preto, a ausência de pessoas e o ar de deserto nas ruas despertaram um clima melancólico que jamais vi na cidade. A Praça Tiradentes completamente vazia destoava do local conhecido mundialmente pelo turismo histórico de Minas.” Mudanças na rotina, mudanças na pauta, mudanças no processo de produção da notícia. E o objetivo diário de produzir um trabalho à altura do nosso desafio maior: ser a ponte entre os fatos e a sociedade.”