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Estado de Minas

Irreverência prevalece em desfile da Banda Mole em BH

Foliões de um dos mais antigos e tradicionais blocos de rua de BH ignoram cartilha com restrições a fantasias e desfilam deboche pela Avenida Afonso Pena


postado em 16/02/2020 04:00 / atualizado em 16/02/2020 10:02

Muitos foliões ignoraram conselho para evitar fantasias consideradas ofensivas. Longe da polêmica, organização homenageou o ilustrador Son, um dos idealizadores do desfile(foto: Túlio Santos/EM/D.a press)
Muitos foliões ignoraram conselho para evitar fantasias consideradas ofensivas. Longe da polêmica, organização homenageou o ilustrador Son, um dos idealizadores do desfile (foto: Túlio Santos/EM/D.a press)

“Nós nos vestimos assim para homenagear os índios”, resumiu um folião, enquanto agitava o cocar e o colar de penas no desfile da Banda Mole, que tomou conta da Avenida Afonso Pena, em Belo Horizonte, a partir do início da tarde de ontem. Como era de se prever, grande parte dos foliões de um dos mais tradicionais e irreverentes blocos da capital ignorou solenemente recomendações feitas em cartilha do Conselho Municipal de Igualdade Racial quanto a fantasias a serem evitadas, e abusou do deboche e da alegria ontem, no Centro da cidade.

 

O bloco de rua mais antigo da capital mineira completou 45 anos de desfile e, como é de costume, arrastou milhares de pessoas, muitas delas  vestidas com adereços que faziam menção a diferentes povos e gêneros – para a entidade ligada à prefeitura, uma apropriação cultural estereotipada que nada tem a ver com homenagem. Polêmicas à parte, o que ficou, sem dúvida, marcado como tributo foi a homenagem da organização do bloco a um dos fundadores da Banda Mole: o chargista Son Salvador, que ilustrou as páginas do Estado de Minas por 43 anos e faleceu em novembro do ano passado.

 

O desfile da Banda Mole se estendeu da tarde até a noite e foi o primeiro teste de reação popular à cartilha do Conselho de Igualdade Racial, divulgada na última quinta-feira. Para o funcionário público Paulo Sabino, de 41 anos, as ações da entidade vão na contramão do que o carnaval, historicamente, carrega como marca. Ele estava acompanhado de três amigos, todos vestidos com adereços indígenas. “Eles têm que ouvir os índios. Eu comprei esse colar e esse cocar na mão de indígenas aqui em BH. É o ganha-pão de muitas famílias. Mas, se você fala que não pode, essas famílias vão morrer de fome. É uma maneira de prestar homenagem a eles”, avalia o folião. Ao lado dele, estava outro funcionário público, que não quis se identificar. “Nós nos sentimos bem assim. A gente sempre se veste assim. Isso não é coisa para o conselho se preocupar”, criticou.

 

Em sua recomendação, o conselho condena esse tipo de interpretação. “Exigimos respeito à nossa cultura e ao que nos é sagrado. As vestimentas e ornamentos indígenas compõem sua tradição e, por usá-las, indígenas são frequentemente violentados(as)”, sustenta o texto publicado no Diário Oficial do Município (DOM) às vésperas do carnaval.

 

Mas carnaval é festa e, com ou sem recomendação, a Avenida Afonso Pena foi tomada por diferentes gênero musicais, incluindo o axé e o funk improvisado por foliões em caixas de som. Parte do público só começou a ir embora quando tempo fechou, por volta das 17h30, e uma chuva de pequena intensidade caiu sobre o Centro de BH. “Nesses últimos anos, o carnaval de BH se consolidou. É inegável a nossa contribuição para esse ressurgimento. A Banda Mole é o bloco mais antigo da história da cidade. É uma verdadeira manifestação cultural”, afirma Luiz Mário Ladeira, o “Jacaré”, um dos fundadores da atração carnavalesca.

 

Outro fundador do bloco, o chargista Son Salvador foi homenageado pela Banda Mole com um faixa. Amigos lembravam o legado do ilustrador do Estado de Minas. “Participei com o Son da Banda Mole por muitos anos. Estou aqui há 30 anos e sempre estive com ele ao meu lado. Era um profissional e companheiro excepcional”, destaca Walter Laurindo. Jacaré, o porta-voz do bloco, também lembrou de Son. “Um amigo do peito. Chegamos a ser sócios em uma empresa. Tivemos outro projeto paralelo, também dedicado ao carnaval. Era uma alegria muito grande conviver com ele”, ressalta.

 

Outra faixa da organização do bloco tirava sarro do ministro da Educação Abraham Weintraub, relembrando as gafes cometidas por ele desde que assumiu a pasta, como soltar um “imprecionante” via redes sociais. Entre os bonecos de Olinda que decoravam a festa também havia sátiras ao ex-governador Fernando Pimentel; a Fabrício Queiroz, ex-assessor da família Bolsonaro; e ao próprio presidente Jair Bolsonaro, que voltou a ser alvo de xingamentos.

 

Tumulto atravessa o samba

 

A Banda Mole não só abriu a porta dos grandes blocos do carnaval 2020, mas também inaugurou a onda de confusões que sempre atrapalha a festa de quem só quer curtir. Ontem, em um dos acessos à área de desfile, na esquina da Rua Bahia com a Avenida Afonso Pena, foliões tentaram forçar a entrada sem passar pela revista de uma empresa de segurança terceirizada, contratada pela organização do bloco. A Guarda Municipal precisou intervir e spray de pimenta foi lançado contra a multidão. Algumas pessoas classificaram a ação como abusiva.

 

“Não vende comida aqui dentro do bloco, então saímos para comprar uma esfirra. Quando tentamos voltar, estava essa bagunça. Gastamos meia hora para chegar aqui de novo. Começaram a empurrar e houve um tumulto danado. Estava sufocada ali”, reclamou Tânia Maria Lopes Pereira, moradora do Bairro Planalto, na Região Norte de BH. “Eles jogam spray na cara do trabalhador. Do bandido, não”, completou Aldo Júnior da Silva, morador do mesmo bairro.

 

“Ano que vem, eu vou pro Rio de Janeiro mesmo.” Esse foi o tamanho da indignação de Edirlane Oliveira, de 42 anos, que saiu do Bairro São Cristóvão, na Região Noroeste de BH, para ir à Banda Mole com a sobrinha de apenas 5 anos. Ela só conseguiu se livrar da confusão quando um segurança da organização viu que ela estava acompanhada de uma criança e a escoltou até a entrada.

 

Procurada, a Guarda Municipal não se manifestou sobre o incidente até o fechamento desta edição. Já policiais militares que estavam de plantão no local informaram que haviam registrado apenas ocorrências de pequenos furtos, como objetos pessoais e celulares.

 

 

Hoje

 

» Buritis de Guimarães Rosa

8h – Rua Henrique Badaró Portugal, 373 – Bairro Buritis

 

» Asa de Banana

10h – Praça Benjamin Guimarães

 

» Bloco da Família

10h – Praça JK – Sion

 

» Me Beija Que Eu Sou Pagodeiro

10h – Rua Tenente Brito Melo, 1.090  Barro Preto

 

» Mindinho Bateria Mirim - 

bloco infantil

10h – Rua Passa Tempo, 562 

Bairro Carmo

 

» Padecendo no Paraíso - 

bloco infantil

10h – Praça da Savassi

 

» Pão Molhado

10h – Rua Valença, 400  

Carlos Prates

 

» Sou Vermelho

10h – Avenida Bernardo Monteiro, 

60 – Floresta

 

» Deslumbradas

10h30 – Avenida Otacílio Negrão de Lima, 4.411 – Bandeirantes

 

» Alalaor

11h30 – Rua Divinópolis  

Santa Tereza

 

» Almas Empenadas

12h – Praça Nossa Senhora da Paz Planalto

 

» Arrastão da Papauê

12h – Avenida Afonso Vaz de Melo, 1.255 – Barreiro (em frente à PUC)

 

» Bloco Lua de Crixtal

12h – Rua Gabro, 41 – Santa Tereza (Entre Salinas e Mármore)

 

» Chama Que Vem

13h – Avenida Washington Luiz 

São Bernardo

 

» Trio @bsurda

13h – Praça da Estação

 

» Bloco Zé Guerra

13h – Rua Vasco da Gama, 357  

Bairro São Bernardo (com o Bloco Chama Que Vem)

 

» Bloco Los Hermanos

14h – Rua Sapucaí – Bairro Floresta

 

» Circuladô

15h – Avenida Bernardo Monteiro, 

28 – Floresta

 

» Morabloco

16h – Avenida Fleming, 670  

Ouro Preto 

 


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