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Estado de Minas BURITIS

"Não sabemos o que causou isso"

Família de duas vítimas explica internação misteriosa de dois homens após churrasco. Autoridades sanitárias apuram causas. Redes sociais espalharam boatos sobre os casos


postado em 06/01/2020 04:00

Camila Massardi é filha e esposa de duas vítimas internadas há mais de uma semana(foto: Jair Amaral/Em/D.A Press)
Camila Massardi é filha e esposa de duas vítimas internadas há mais de uma semana (foto: Jair Amaral/Em/D.A Press)

 Informações que circularam em redes sociais sobre a possível internação de moradores devido ao consumo de alimentos contaminados no Bairro Buritis, Região Oeste de Belo Horizonte, geraram grande preocupação em toda a cidade ontem e inundaram as redes sociais de boatos. As mensagens falavam que ao menos quatro pessoas teriam se contaminado e estavam internadas em estado grave em hospitais da capital. O Estado de Minas conversou com a farmacêutica Camila Massardi Demartini, de 29 anos, esposa de Luiz Felippe Teles Ribeiro, de 37, e filha de Paschoal Demartini Filho, de 55, ambos internados. O primeiro em BH, o segundo, em Juiz de Fora, na Zona da Mata. Ela relatou a angústia da família, que ainda não sabe o que provocou a internação dos dois. Camila explica o drama pelo o qual têm passado desde o fim de semana anterior ao Natal.

 

Em 22 de dezembro, a família de Camila se reuniu na piscina do prédio onde o casal mora, no Buritis, para fazer uma confraternização. “Fizemos um churrasco aqui no prédio. Meu pai e meu marido estavam. Comemos picanha, medalhão, salsichão. Bebemos cerveja. Todos comemos. Mas, na segunda-feira seguinte ao evento, Felipe começou a passar mal. Teve febre, dor no corpo e diarreia. Na quarta-feira, o mesmo ocorreu com o meu pai”, relatou a farmacêutica. Eles foram internados na quinta-feira (27), após procurar ajuda médica pensando se tratar de uma virose.

 

“É a mesma comida que comemos sempre, comprada nos mesmos lugares (dois supermercados diferentes). Muitos me perguntaram se era comida japonesa, mas não foi o que comemos. Nada que tivesse, aparentemente, estragado. Eu comi, minha mãe comeu, amigos comeram. A bebida é a que sempre bebemos. Por isso, é um mistério. E o que liga os quatro casos do Buritis? Eu não sei te falar”, desabafou. “Pode ser que eles (marido e pai) estiveram no mesmo mercado (que os outros dois doentes), na mesma padaria ou no mesmo açougue. Pode ser que tenham pego o mesmo transporte por aplicativo. Eu não sei te falar. Não posso falar pelos outros casos, não conhecemos eles. Mas, se traçar uma linha reta, os quatro moram a menos de um quilômetro de distância.”

 

Os quadros de internação são muito semelhantes: insuficiência renal, insuficiência pancreática, insuficiência hepática e reflexos neurológicos comprometidos. “É como se fosse uma paralisia periférica. Mas não sabemos explicar o que causou isso. Mas, parece se tratar de um caso raro ou algo novo”, relatou Camila. A Vigilância Sanitária foi ao apartamento do casal na quinta-feira (2). Foram recolhidos para análise vários alimentos, como água de coco, cerveja, leite fermentado, suco. “Levaram quase tudo porque a causa pode estar tanto dentro quanto na embalagem dos alimentos”, explicou.

 

Segundo Camila, os exames de resultado rápido descartaram todas as arboviroses – febre amarela, febre maculosa, zika, chikungunya, dengue e leptospirose. Ela se preocupa com os boatos que circulam na internet e como isso só aumenta o sofrimento de amigos e da família. “Me ligaram para desejar pêsames. Disseram que meu pai morreu. Meu pai não morreu, ele está internado. Ninguém morreu”, lamenta, criticando a falta de respeito com as vítimas e a disseminação de informações falsas em redes sociais.

 

 

OTIMISMO Camila e a família estão otimistas com a recuperação de Luiz e Paschoal. “Estamos muito angustiados de não saber do que se trata. Mas, tenho certeza de que eles têm plenas condições de se recuperar. São todos saudáveis, sem doenças crônicas ou de base. Eles têm tudo para sair dessa”, afirmou.

 

O presidente da Associação de Moradores do Bairro Buritis gravou vídeo se posicionando sobre o caso. Bráulio Lara disse que as informações de um possível envenenamento em massa não passam de boatos. “Averiguamos a informação. Essas pessoas estão sim internadas, mas não há nenhum tipo de relação de causa que una as quatro situações”, disse em tom tranquilizador. Contudo, confirmou a veracidade dos pedidos de doação de sangue para essas pessoas que estão hospitalizadas. “Com relação às doações de sangue que estão sendo solicitadas na internet, elas são verídicas e importantes”, afirmou.

 

A Unimed-BH confirmou que dois pacientes deram entrada no Hospital Unimed-Unidade Contorno em 22 de dezembro e 25 de dezembro com insuficiência renal e neuropatia motora progressiva. “Os diagnósticos diferenciais estão sendo avaliados e não confirmados. Os pacientes estão internados na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do hospital, recebendo todos os cuidados necessários e estão sendo acompanhados por uma equipe médica multidisciplinar. A Unimed-BH declara ainda que todos os esforços estão sendo feitos para prestar a melhor assistência e que está à disposição dos órgãos competentes para qualquer esclarecimento.”

 

O que dizem as autoridades

 

A Secretaria Municipal de Saúde foi informada sobre quatro pacientes internados em hospitais da rede privada com suspeita de intoxicação. Mas não confirmou que há relação entre os casos. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, “um inquérito epidemiológico já foi aberto para investigação mais detalhada sobre os sintomas apresentados e os alimentos consumidos pelos pacientes. As amostras biológicas coletadas foram encaminhadas para laboratório de referência”. A Vigilância Sanitária também recolheu na casa da família de duas das vítimas alimentos para análise.

 

A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais informou que está em andamento, no Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (Cievs), dois casos correlatos de acometimento renal severo, hepatite e pancreatite moderadas, encefalite/neurite no quarto/quinto dia. “Sobre outros casos semelhantes, não há nada sistematizado ainda que possa afirmar conexão com os casos em investigação. Há, nos dois casos em investigação , uma síndrome atípica. Os demais casos notificados não estão necessariamente conectados”. A secretaria está acompanhando a investigação e hoje divulgará mais informações.

 

A Polícia Civil de Minas Gerais informou que, até a tarde de ontem, não foi registrado nenhum boletim de ocorrência sobre o caso. Entretanto, “vai instaurar diligência de investigação preliminar a fim de verificar se o fato tem indícios de crime. A autoridade policial realizará essas diligências preliminares, a exemplo de entrevistas e comunicação com outros órgãos estatais, com o objetivo de averiguar se os fatos narrados nessa denúncia são materialmente verdadeiros e só então iniciar as investigações e abrir o inquérito policial.”



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