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Migração no crime? Explosões de bancos recuam e são superadas por sequestros

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O relógio marcava 22h do último dia 3 quando um funcionário do Banco do Brasil em Manhumirim, na Zona da Mata, voltava para casa com a família, vindo da igreja. Ao chegar, ele e mais quatro pessoas, entre elas crianças, foram rendidos. Tinha início um suplício de horas nas mãos de criminosos, no chamado “crime do sapatinho”.


A modalidade envolve o sequestro de funcionários do sistema financeiro, na maioria das vezes gerentes, e de seus parentes,  com o objetivo de assaltar agências bancárias. Com a ofensiva das forças de segurança que fez despencar o número de explosões em bancos e caixas eletrônicos – modalidade que ficou conhecida como novo cangaço –, quadrilhas parecem mudar estratégias de ataque. Neste ano, a extorsão mediante sequestro, que inclui o “crime do sapatinho”, superou os ataques diretos a instituiões bancárias. 
 
Dados da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) ilustram a queda dos ataques a bancos em Minas Gerais, e mostram que a extorsão mediante sequestro segue sem controle. As explosões de agências bancárias e outras instituições financeiras diminuíram vertiginosamente. De janeiro a setembro deste ano, foram registradas 27 ocorrências, segundo a Sejusp. No mesmo período de 2018 foram 82, o que representa redução de 67%.
 
 
 
Em contrapartida, a extorsão mediante sequestro, que inclui o “crime do sapatinho”, segue com números altos. Entre janeiro e setembro deste ano, foram 50 casos registrados, média de 5,5 ocorrências por mês. No ano passado, no mesmo período, foram 51 ocorrências. Somente neste mês, pelo menos dois bancários, e familiares, foram vítimas de quadrilhas especializadas, e um crime foi frustrado pela Polícia Militar (PM).


 
O caso mais recente aconteceu em Itabira, na Região Central de Minas, no último dia 13. Por volta das 9h40, a PM recebeu denúncia de que a família da gerente de uma agência do Sicoob havia sido sequestrada. Policiais da cidade cercaram o banco e a casa da funcionária. Informações iniciais davam conta de que seis criminosos estavam no local, fazendo reféns, o que não se confirmou. Ao chegar à agência, o comandante de policiamento viu a gerente sair do imóvel acompanhada de funcionários com caixas nas mãos. Questionada, ela disse que entregaria o dinheiro aos assaltantes que mantinham a família dela sob ameaça.
 
A mulher contou ter sido rendida ao chegar em casa, à noite. Ela, o marido e dois filhos ficaram em poder dos criminosos até de manhã, quando os ladrões se dividiram e levaram os parentes dela. Os assaltantes ordenaram que a gerente fosse à agência pegar o dinheiro do resgate, que deveria ser entregue a eles em uma rua vicinal. No entanto, a chegada da PM ao banco impediu o roubo. A família da funcionária foi deixada em um posto de combustíveis na BR-381, em Santa Luzia, na Grande BH. Os criminosos não foram encontrados.
 
Em 1º de dezembro, o crime aconteceu em Manhumirim. A quadrilha usou a mesma estratégia: esperou o momento em que o gerente chegava com a família para atacar. No dia seguinte, os parentes foram levados para um cativeiro na Região Metropolitana de Belo Horizonte, enquanto o bancário foi à agência para pegar dinheiro. Porém, um colega dele desconfiou e acionou a polícia.


Logo que ficou constatada a extorsão mediante sequestro, equipes do Departamento de Operações Especiais (Deoesp) entraram nas investigações. O cativeiro foi descoberto em Contagem, mas as vítimas não estavam no local. Elas foram encontradas em Pará de Minas, na Região Centro-Oeste, onde foram deixadas pelos bandidos.

PRESIDIÁRIOS As investigações da Polícia Civil indicam que a maioria dos crimes de extorsão e cárcere privado está sendo comandada de dentro de penitenciárias. Foi o que ocorreu em agosto, quando um garoto de 7 anos foi sequestrado em Florestal, na Grande BH. Foi identificado que Daniel Augusto Cypriano, de 35, e Thiago Rodrigues Ribeiro, de 32, ordenaram o crime de dentro da Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem. Daniel é natural de Barra Mansa (RJ) e responde por roubo a banco, homicídio, sequestro e formação de quadrilha. Já Thiago é de Janaúba, Norte de Minas, e também tem extensa ficha criminal: roubo, incêndio, sequestro, formação de quadrilha e crimes relacionados ao tráfico de drogas.
 
Em nota, a Polícia Civil afirmou que há na estrutura do Deoesp a Delegacia Especializada Antissequestro, que atua em ocorrências nas diversas regiões, por meio de investigações próprias ou em apoio a delegacias do interior. “Por meio do trabalho da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) e agências de inteligência da Polícia Civil, buscamos identificar os integrantes, bem como o modo de agir dos grupos, visando à repressão qualificada dos crimes de sequestro e organizações criminosas no estado”, informou.



Inteligência para
conter explosões

Uma das estratégias para coibir a ação de criminosos especializados em ataques a banco em Minas foi a criação de uma rede de monitoramento em todo estado. O sistema conta com 13 instituições de segurança das esferas federal e estadual, sob a coordenação da Sejusp. “A Secretaria de Segurança tem contribuição das polícias Militar, Civil e Federal e do Ministério Público para fazer um grupo de enfrentamento a esse tipo de crime. São treinamentos realizados pela própria polícia e trabalho do serviço de inteligência, com possível identificação de autores, visando a ações preventivas”, afirmou Joubert Rodrigues de Souza, diretor de Planejamento Integrado da Sejusp.
 
A rede está presente atualmente em 12 das 19 áreas integradas de Segurança Pública (Aisps) de Minas, com previsão de que chegue a outras. Um dos principais trabalhos é de monitoramento de possíveis ataques, o que pode ajudar na elaboração de estratégias para evitar os crimes em determinadas cidades. Foi o que aconteceu em setembro, em Salinas, no Norte de Minas. Uma quadrilha foi surpreendida por policiais militares de Minas Gerais e da Bahia quando se preparava para cometer o crime. Houve troca de tiros e seis homens foram mortos.