Jornal Estado de Minas

Combate ao Aedes aegypti: 2019 foi o segundo pior ano em casos da dengue

Os números não deixam dúvida que 2019 foi um dos piores na incidência da dengue em Minas Gerais, estado com maior casos no país. Diante desse quadro, a Secretaria de Estado da Saúde quer o apoio da população no combate ao mosquito Aedes aegypti. A mobilização social é uma das principais apostas para controlar a transmissão feita pelo mosquito. Diante desse quadro de epidemia, foi lançada a campanha  'Quando você  culpa o vizinho, o mosquito ganha terreno'



 

A campanha terá dois focos: técnico, de planejamento do combate à dengue nos âmbitos municipais e estadual, e a mobilização social, que busca o engajamento das pessoas. "Vamos lançar a campanha nas mídias tradicionais e sociais, teremos eventos de prevenção da dengue e tentar mobilizar a sociedade. Estamos fazendo reuniões com vários grupos e lideranças para capilarizar o combate para o interior do estado. Queremos um grupo que lidere para que a gente possa chegar a cada casa e a cada cidadão para acabar com a dengue", afirma o secretário estadual de saúde, Carlos Eduardo Amaral.

 

Até 18 de novembro, Minas Gerais registrou 484.779 casos prováveis (casos confirmados e suspeitos) de dengue. Cento e cinquenta e três pessoas morreram em decorrência de complicações da doença em 47 municípios mineiros.  Outras 94 mortes estão sob investigação. 

 

O secretário acredita que, em 2020, a incidência da doença deve ser menor, uma vez que as epidemias têm sido recorrentes a cada três anos.  "A cada três anos nos temos uma grande epidemia. Isso já vem sendo notado. Em 2020, esperamos que seja menor, é difícil garantir, mas é o que a gente espera. Mas também sabemos que, daqui a três anos, teremos risco de uma nova grande epidemia", diz. Em função dessa previsão, o secretário destaca que é fundamental a mobilização social da população.



 

O Aedes aegypti está cada vez mais resistente aos métodos convencionais de combate, como o uso de inseticidas.  "Para combater temos ações de longo prazo com tecnologia que será incorporada, mas isso demora um pouco, como vacinas e a bactéria wolbachia que limitará a tansmissão. Associar à sociedade é fundamental não só para a dengue, mas para as outras epidemias que podem vir", diz.

 

O secretário destaca que 80% dos focos do Aedes estão dentro dos imóveis. "Temos muita limitação para entrar nos imóveis. Temos os agentes comunitários de saúde e agentes de epidemia. Eles vão, mas não dá para ir toda semana. Quem tem que fazer isso toda semana e ter percepção de cuidado é a sociedade. Não adianta só cobrar do outro, do vizinho, tenho que fazer minha parte. Toda semana olhar dentro de casa e ver se tem um foco em casa ou não", afirma o secretário.

 

O combate ao mosquito só pode ser eficaz se houve uma parceria com as prefeituras municipais, muitas delas passam por dificuldades econômicas, dificultando a implementação de ações preventivas. O secretário informou que repasasrá recursos aos municípios. "Já transferimos R$ 12 milhões no começo do ano e serão transferidos mais R$ 10 milhões para a atenção primária", disse. O secretário afirmou que o repasse é para ações gerais, embora haja uma orientação para que parte seja empregada no combate à dengue.



 

 

Mudança no controle

 

 "O ano de 2019 foi bastante duro. Foi o segundo pior ano na nossa história. Tivemos quatro anos, particularmente, duros: 2010, 2013, 2016 e 2019. Isso é provido pela presença universal do Aedes aegypti", afirmou o subsecretário em vigilância e saúde, Dário Brock Ramalho.  O combate não é somente à dengue. Ao combater o mosquito também se faz o controle de outras doenaças. O Aedes transmite quatro vírus dengue, zika e chikungunya.

 

O mosquito foi erradicado em dois momentos no Brasil, nas décadas de 1950 e 1970. No entanto, de lá para cá, o mosquito se fortaleceu. Em 2003, o programa nacional de erradicação se transformou em programa de controle do inseto. "Há 16 anos, foi reconhecido que não temos ferramentas para erradicar o Aedes. Hoje, caminhamos para uma convivência com o mosquito. Por isso, a ênfase é no sentido da mobilização", diz Dário.  O subsecretário defende que parte da solução pode ser o reconhecimento que não tem como erradicar o mosquito.

 

Com o uso da wolbachia e com as vacinas contra a dengue pode haver um controle mais efetivo. A wolbachia  é uma bactéria natural presente em 60% dos insetos. "O Aedes não tem a wolbachia. Acreditamos que esse seja um dos motivos que fazem com que o mosquito dissemine as doenças", diz o subsecretário.

 

A tecnologia da wolbachia está em processo de implantação em Minas. A vacina estará disponível para população em médio prazo. Já existem três vacinas. "Se você imaginar que podemos ter pessoas imunizadas pelas vacinas em larga escala, mas o mosquito 'imunizado', conseguimos  ter vacinação de rebanho. Começa a ter mecanismos de bloqueio. Começa a bloquear o caminho do vírus", diz.