Jornal Estado de Minas

Comoção marca adeus a pintor atingido por avião no Bairro Caiçara



Eles eram amigos, trabalhavam juntos. E quis o destino que o pintor Pedro Antônio Barbosa, de 54 anos, e o pedreiro Paulo Jorge Almeida, de 61, morressem juntos, a caminho do serviço, no Bairro Caiçara. O corpo de Pedro, foi sepultado ontem no Cemitério da Saudade, diante de grande comoção. O corpo de Paulo ainda não havia sido liberado.


Os dois eram vizinhos, no Bairro Mantiqueira, em Venda Nova. Há muitos anos, por serem pintor e pedreiro, se tornaram amigos e sempre, segundo familiares, trabalhavam juntos. Há cerca de três meses eles conseguiram um serviço numa obra no Bairro Caiçara. E iam juntos, no Corsa de Pedro, que para a família era Pedrinho.

Mas na manhã de segunda-feira os dois seguiam pela Rua Minerva, já próximos da obra onde trabalhavam, quando surgiu um avião, que literalmente passou por cima do carro em que estavam. O carro explodiu. Os dois amigos morreram carbonizados. Nem sequer deu tempo de socorrê-los, segundo testemunhas.

Ontem, o dia da tristeza maior. O Cemitério da Saudade estava lotado. Lá ocorriam outros dois velórios, mas as maiores atenções eram para  onde o corpo de Pedro estava sendo velado.Os amigos, os companheiros do Terço dos Homens da Igreja de Nossa Aparecida, no Bairro Mantiqueira, estavam todos presentes. Lembravam do amigo, que não perdia um terço. Estava sempre presente.


Mas a dor maior era da família. Junto do caixão o tempo todo, a mulher, Rosângela, e as filhas Jéssica e Titane. Elas não paravam de chorar e recebiam o consolo de parentes e amigos.



A dimensão da dor foi expressada por Titane, que em determinado instante interrompeu a celebração da missa de corpo presente. Aproxima-se a hora do enterro e ela, segurando uma foto do pai, sorrindo, explodiu num depoimento comovente, que fez praticamente todos os presentes chorarem.

“Meu pai era um homem feliz. Não foi o melhor homem do mundo, mas, pra mim, com certeza, o melhor pai. Foi pra mim e pra minha irmã, além de um perfeito companheiro para minha mãe. Lembro dele sempre brincalhão. Não sabia tocar violão, mas pegava o instrumento e cantava, fingindo os acordes. Era só para nos alegrar, para arrancar risadas”, disse Titane.

Antes da saída do corpo do velório para a última morada, um desabafo. “Ainda bem que eu lhe dei o carro que estava dirigindo. Fui eu. Pude fazer isso. Ele adorava. Mas não sabia que seria com esse carro que aconteceria a tragédia.”

Debaixo de lágrimas das filhas, da mulher e dos amigos, o corpo seguiu até o local de seu sepultamento, numa procissão de quem, para muitos, foi um herói, um grande homem, de família e de religião.