Jornal Estado de Minas

REPORTAGEM DE CAPA

Situação é crítica no Norte de Minas

Abastecimento na corda bamba em no Norte de Minas. O Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) declarou, por meio de portaria, situação crítica de escassez hídrica superficial na Bacia do Rio Pacuí, no município de Coração de Jesus, o que impõe restrições para a captação de água no manancial. Desde o segundo semestre de 2018, a Copasa retira água no Pacuí para o abastecimento de Montes Claros, maior cidade da região, com 404 mil habitantes. A companhia informou que a medida do Igam não vai afetar sua operação e que, “no momento, não há previsão de racionamento em Montes Claros”. No entanto, não está descartada a possibilidade da volta do “rodízio” no abastecimento de água do município.

 

“Estamos fazendo o monitoramento da situação. A primeira quinzena de novembro será crucial. Se o volume de chuvas do período for menor do que o da média histórica, teremos que acender a luz vermelha e pensar no retorno do rodízio (fornecimento de água em dias alternados) no abastecimento”, afirma o superintendente de Operação Norte da Copasa, Roberto Botelho.

 

Por meio de nota, a Copasa afirma que a declaração de situação crítica de escassez hídrica no Rio Pacuí “não vai impactar o sistema de abastecimento de Montes Claros, uma vez que a portaria (do Igam) estabelece restrição ao consumo a montante da captação que abastece o município”. A companhia diz ainda que reconhece a importância da medida.

 

O Igam informou que, por meio de monitoramento dos níveis do Rio Pacuí, constatou uma redução do volume abaixo de 70% da vazão normal (vazão de referência Q7/10).

O instituto declarou a situação crítica de escassez hídrica superficial nas porções hidrográficas localizadas a montante da estação fluviométrica (ponto de medição da vazão) do Pacuí, onde também fica a captação da Copasa. As restrições para os usuários que possuem outorga para a retirada de água do manancial vão até 30 de novembro de 2019.

 

Conforme a determinação do órgão ambiental, a retirada de água pelos usuários outorgados no Rio Pacuí deverá ser diminuída nos seguintes índices: captações de água para consumo humano, dessedentação animal e abastecimento público (redução de 20% do volume outorgado; irrigação (diminuição de 25%) e captações de água para consumo industrial e agroindustrial (redução de 30%). A quantidade outorgada para outros fins deverá ser reduzida em 50%. As restrições afetam uma área de reforma agrária e uma agroindústria de ovos.

 

O Igam também anunciou que estão suspensas as emissões de novas outorgas para a captação de água no manancial até 30 de novembro. Até lá, só poderão ser concedidas novas outorgas para “usos considerados prioritários pela legislação de recursos hídricos”.

 

BARRAGEM Há seis meses não são registradas chuvas volumosas no Norte de Minas. Com isso, a maioria dos rios e córregos da região secou e os mananciais e reservatórios que garantem água para as cidades, como o Rio Pacuí, tiveram a vazão muito reduzida.

 

A Barragem do Rio Juramento (Sistema Rio Verde Grande), que garante o fornecimento da maior parte da água consumida em Montes Claros, está com apenas 16% de sua capacidade. O volume é o mesmo atingido pelo barragem em outubro de 2017.

 

Naquele mês, devido aos vários anos seguidos de seca no Norte de Minas, a Barragem do Rio Juramento teve o seu volume reduzido para 20%.

Como o reservatório era responsável por 65% do abastecimento de Montes Claros, também em outubro de 2015, a Copasa iniciou o rodízio no fornecimento de água da cidade, com os moradores recebendo o recurso em dias alternados.

 

A medida só foi interrompida em setembro do ano passado, quando a cidade começou a receber água do Rio Pacuí, no município de Coração de Jesus, após a construção pela Copasa de uma adutora com 56 quilômetros de tubulação, orçada em R$ 135 milhões. A obra, iniciada em agosto de 2017, foi construída em caráter emergencial, para evitar o colapso no abastecimento da cidade polo do Norte do estado.

 

A Copasa tem permissão para captação no Pacuí de até 335 litros por segundo (l/s), desde que deixe, obrigatoriamente, uma vazão de 399l/s. A reportagem apurou que, com redução do volume do Pacuí, a companhia de saneamento está retirando do manancial uma quantidade diária de água que varia entre 30 e 130l/s.

 

Atualmente, Montes Claros recebe em torno de 900l/s de água. Além da Barragem de Juramento e da captação do Rio Pacuí, a Copasa recorre a poços tubulares e aos sistemas Pai João e Porcos. Com a redução dos volumes do reservatório de Juramento e do Rio Pacuí, aumenta a possibilidade de retorno do racionamento na cidade se não chover nos próximos dias.

 

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