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Palavra de especialista: por que a patinete é o veículo mais perigoso?

Ainda sem regulamentação oficial, veículo que registrou primeiro acidente fatal em BH não oferece proteção a usuário e tem na imprudência a principal regra


postado em 10/09/2019 06:00 / atualizado em 10/09/2019 08:07

Abusos por toda parte: sem capacete, condutores se aventuram no asfalto, dividindo espaço com carros, motos e pedestres, até na contramão(foto: Edésio Ferreira/EM/DA Press)
Abusos por toda parte: sem capacete, condutores se aventuram no asfalto, dividindo espaço com carros, motos e pedestres, até na contramão (foto: Edésio Ferreira/EM/DA Press)

Mais de 100 acidentados atendidos no Hospital de Pronto-Socorro João XXIII e a primeira morte após queda, ocorrida neste fim de semana, no Centro de Belo Horizonte, chamam a atenção para a urgência da regulamentação das patinetes elétricas alugadas por meio de aplicativos. Na avaliação de especialista ouvido pelo Estado de Minas, o uso desse tipo de veículo entre carros, ônibus, caminhões e motos, da forma que ocorre atualmente,  é incompatível com condições mínimas de segurança. Desse ponto de vista, a patinete é considerada o mais perigoso meio de mobilidade urbana, perdendo inclusive para bicicletas. Mas basta uma volta pelas ruas para constatar que, mesmo após o acidente de sábado, a imprudência segue sendo a maior regra no uso do equipamento.

Ontem representantes da BHtrans e da Grow Mobility Incorporated, que controla as duas marcas de aluguel de patinetes em BH, se reuniram e definiram providências emergenciais após o desastre. Em nota, a empresa municipal de transportes informu que a Grow se comprometeu a avaliar a possibilidade de limitar a velocidade dos equipamentos para novos usuários e a desenvolver um programa de treinamento combinado com uma campanha informativa, além de contratar um seguro de responsabilidade Civil em favor dos clientes da plataforma.

Porém, para minimizar os riscos para usuários seria necessária uma série de adaptações de circulação, estrutura e segurança, avaliam especialistas. O primeiro acidente fatal com patinete na capital vitimou o engenheiro e empresário Roberto Pinto Batista Júnior, de 43 anos. Por volta do meio-dia de sábado ele caiu e bateu a cabeça num prisma de concreto, na esquina da Avenida Paraná com Rua dos Tupis.

Para se ter uma ideia da gravidade de uma queda do tipo, simulação feita pelo Departamento de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul mostra a violência que pode envover um acidente como esse. Considerando as medidas de um brasileiro médio, de 1,67 metro e 70,6 quilos, deslocando-se a 20 km/h, uma queda poderia sujeitar a parte do corpo atingida a uma força de 640 quilos. O engenheiro que morreu depois de cair chegou a ser atendido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e levado para o Hospital de Pronto-Socorro João XXIII, mas morreu após a terceira parada cardiorrespiratória. Seu corpo foi sepultado no domingo.

Insustentável


(foto: Edésio Ferreira/EM/DA Press)
(foto: Edésio Ferreira/EM/DA Press)


Para o mestre em engenharia de transportes Márcio Aguiar, professor de transporte e trânsito da Universidade Fumec, atualmente as patinetes são incompatíveis com a circulação de veículos no meio urbano. “É um veículo que não tem como conviver no trânsito com o automóvel e nem nas ciclovias com as bicicletas. Tem uma aceleração considerável, mas é muito frágil, expondo as pessoas a riscos mais consideráveis do que os de uma bicicleta”, compara o especialista.

Avaliando os veículos elétricos, Aguiar destaca várias desvantagens para uso no tráfego urbano. Segundo ele, a velocidade máxima (na casa dos 20 km/h) é considerada alta para a falta de estrutura de segurança da própria patinete (veja quadro), que deixa o condutor completamente exposto em uma queda ou batida. A dificuldade de ser visto e sinalizar as manobras nesse tipo de equipamento é outro fator que amplia a insegurança, por falta de instrumentos eficientes de alerta e comunicação, além de o sistema de freios ser considerado insuficiente.

Para o especialista, o requisito mínimo para que as patinetes pudessem ser mantidas na cidade seria restringir a circulação às ciclovias, medida que deveria coincidir com uma política de ampliação da rede cicloviária, para que não ocorra a migração para vias de tráfego comum. “A velocidade máxima do patinete precisaria ser reduzida e o poder público deveria exigir equipamentos de segurança, como o capacete. A fiscalização dessas regras também é fundamental. E essas seriam condições mínimas, que ainda não evitariam um aumento de acidentes nessa modalidade de transporte”, destaca Aguiar.
Sem regras ou fiscalização, as ruas ficam à mercê da educação e do bom senso dos condutores. E não é preciso ir longe para observar uma sucessão de abusos sendo cometidos pelos usuários. Durante uma manhã inteira, nenhum deles foi visto pela equipe do EM usando capacetes.

Pedestres



(foto: Edésio Ferreira/EM/DA Press)
(foto: Edésio Ferreira/EM/DA Press)

E o mau uso do aparelho não ameaça apenas os condutores. O deslocamento pela calçada constantemente surpreende quem caminha no mesmo sentido, que não vê ou ouve a aproximação do veículo. O ingresso nas faixas de travessia de pedestres também é comum, obrigando que pessoas e condutores façam desvios bruscos. O pior caso observado na manhã de ontem foi o de um homem de terno e mochila, que desceu pela Rua Sergipe furando semáforos vermelhos e chegando a entrar na contramão da via, obrigando os veículos que seguiam no sentido oposto a parar para evitar um acidente.

A empresa Grow  tem várias recomendações que antecedem o aluguel de veículos. São destacados a importância de se respeitar as leis de trânsito, do uso de capacete e de manter a velocidade máxima em 20km/h. A empresa informa que opera no Centro de BH, Savassi, Santa Efigênia, Santo Agostinho, Lourdes, Funcionários, Carmo, Cruzeiro, Anchieta e Sion, com expansão recente para os bairros Mangabeiras e Belvedere, assim como parte do município de Nova Lima. 

A companhia sustenta que segue as normas do Código de Trânsito Brasileiro e do Conselho Nacional de Trânsito. Os equipamentos, informa, estão programados para limitar a velocidade a 20 km/h e contam com “velocímetro, buzina, lanternas frontais e dois freios, um mecânico e outro a motor, que permitem uma redução de velocidade mais suave”. A empresa informa estar em contato com o poder público para colaborar na definição de regras para disciplinar o setor.

(foto: Arte EM)
(foto: Arte EM)


Regulamentação ainda está distante


A primeira tentativa de regular o serviço de transporte individual por patinete em BH falhou. A proposição de Lei 32/2019, que dispunha sobre o serviço de compartilhamento de bicicletas, patins, patinetes e skates foi aprovada pela Câmara Municipal em 11 julho, mas foi vetada pelo prefeito Alexandre Kalil (PSD). O veto foi mantido pelos vereadores, sob a justificativa de que o texto seria inconstitucional, uma vez que as regras de circulação devem ser concebidas pelo Executivo. Atualmente, segundo a BHTrans, vale a Resolução 465/2013, do Contran, segundo a qual os veículos podem circular apenas pelas calçadas, a no máximo 6km/h, ou nas ciclovias, a no máximo 20km/h. Não há determinação sobre capacete. Em São Paulo, parte dos veículos chegou a ser recolhida das ruas e diretrizes de regulamentação têm sido editadas, assim como no Rio de Janeiro e em Brasília, mas pontos polêmicos estão sob apreciação da Justiça. A BHTrans informou que o grupo de estudos montado para orientar um decreto que regulamente o assunto ainda não tem diretrizes a divulgar. Ao EM, o prefeito afirmou que o tema tem de ser debatido amplamente para evitar entraves jurídicos.


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