Jornal Estado de Minas

Famílias vivem há mais de 10 anos drama de morar em casas ameaçadas de desabamento

Wellington Faria mostra as imensas rachaduras nas paredes: 'Noites sem dormir' - Foto: Magson Gomes/EM/D.A pressPouso Alegre – As 11 famílias que moram na Rua Curruíra, no Bairro Jardim São João, em Pouso Alegre, Sul de Minas, convivem diariamente com o medo. Suas casas, que vistas da rua são aparentemente conservadas, estão, na verdade, à beira de um barranco, e as trincas aparecem por todo lado, dos quartos, cozinhas, banheiros aos quintais. O problema se arrasta há ao menos 13 anos, desde que a Defesa Civil Municipal emitiu um laudo afirmando que todas as casas da rua correm risco de desabar

Além disso, uma creche funciona normalmente logo abaixo do barranco. “Vivemos apreensivos. Toda vez que chove é aquela preocupação, noites sem dormir”, diz Wellington de Faria, morador de uma das casas.

José dos Santos não dá mais conta de consertar as trincas - Foto: Magson Gomes/EM/D.A pressBenedita Aparecida Dias Venâncio mora com o marido, uma filha e duas netas no número 65. Ela conta que o marido vive tampando as aberturas que surgem nas paredes. “Estamos nesta luta há anos. Vem um aqui, fala uma coisa; vem outro, fala outra, e não resolve para nós”, lamenta dona Benedita.

Na casa da vizinha Josiele Ribeiro, que mora com outras quatro pessoas, os problemas são ainda maiores.
O imóvel, que é do pai dela, está a menos de um metro da beira do barranco e as rachaduras só aumentam. “Tinha uma trinca no quarto, que meu pai já tampou, que cabia o braço de uma pessoa”, aponta Josiele.

Vistas de frente, as casas escondem o verdadeiro problema - Foto: Magson Gomes/EM/D.A pressO morador José dos Santos diz que não dão mais conta de consertar as trincas. Na cozinha, ele mostra a rachadura no chão, de mais de um dedo. No quarto, dá para ver o lado externo da casa através da fresta. “Andei tampando, mas elas sempre abrem. A gente faz ajustes para amarrar as paredes, mas começa a estourar em outros pontos da casa”, conta o morador.

Município foi condenado a encontrar solução


Em 2012, a Justiça condenou o município de Pouso Alegre a encontrar uma solução para o problema depois que sete das 11 famílias entraram com uma ação contra a prefeitura por não terem para onde ir. A prefeitura chegou a oferecer um aluguel social, mas a medida não foi para frente.

Este ano, o Executivo conseguiu aprovar um projeto de lei na Câmara Municipal que autoriza a construção de um prédio, com 12 apartamentos, para onde serão levadas as famílias da Rua Curruíra.
A construção ainda não teve início. O terreno que vai abrigar o residencial fica a cerca de 300 metros de onde as famílias moram atualmente. A prefeitura lançou edital e aguarda empresas interessadas em construir os apartamentos.

Segundo o secretário municipal de Políticas Sociais, João Batista de Lima, a construção deverá ficar pronta em um ano. “Serão dois conjuntos de seis apartamentos cada, com garagem e playground para eles se sentirem bem em suas residências.”


Imóveis serão demolidos

 
Os imóveis condenados pela Defesa Civil serão demolidos assim que os moradores saírem. No local, a prefeitura pretende montar uma área de convívio comunitário. 

O morador José dos Santos afirma que gostaria de se mudar para uma casa, mas qualquer lugar que esteja em segurança já o faz ter esperança de dias melhores. “Antes isso do que ficar aqui sofrendo do que jeito que estamos. Chove, aí você fica apreensivo. De uma hora para outra pode cair tudo”.
 
(Magson Gomes, especial para o EM) 
 
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