Jornal Estado de Minas

Projeto Cariúnas busca recursos para continuar atendendo jovens vulneráveis em BH

Com produção de musicais, a difícil arte de cantar e dançar simultaneamente é ponto forte do programa - Foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A PRESS
A arte como veículo transformador. Essa é a missão do projeto Cariúnas, um programa sociocultural voltado para crianças e adolescentes, que oferece oportunidades para o desenvolvimento de suas habilidades artísticas. Nas segundas, quartas e sextas-feiras, cerca de 300 jovens, de 7 a 18 anos, participam de uma programação intensiva de aulas de música, canto, dança e instrumentos, desfrutando de um espaço estimulante e humanizado.

Entretanto, o Parque Escola Cariúnas, no Bairro Planalto, na Região Norte da capital mineira, corre risco de fechar as portas até agosto devido ao fim do contrato de parceria com a Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), encerrado em abril. Coordenadores, professores e alunos se juntam para arrecadar fundos por meio de eventos e vaquinha virtual para continuar mudando a vida de jovens em situação de vulnerabilidade.

O projeto Cariúnas foi criado em 1997 pela professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Tânia Mara Lopes Cançado e já ajudou mais de 2 mil crianças e adolescentes. “Tânia era idealizadora de um projeto da Escola de Música da UFMG, o Centro de Musicalização Infantil. Quando ela se aposentou, decidiu dar vida ao sonho de ajudar pessoas que jamais teriam a oportunidade de estudar música. O Cariúnas nasceu em um espaço emprestado no Bairro Primeiro de Maio, na Região Norte de Belo Horizonte”, contou a coordenadora pedagógica da instituição filantrópica, Adriana Alves.
Porém, o espaço ficou pequeno para tantas crianças interessadas em tocar uma flauta – muitas vezes, sem conhecer nem mesmo uma nota musical – ou colocar uma sapatilha para deslizar os pés pelos palcos. Em 2007, a sede se transferiu para o Parque Escola Cariúnas, no Bairro Planalto, onde conta com teatro para 150 lugares, bem como com uma quadra de futebol society.

Uma das principais características do projeto é a produção de musicais, que levam aos palcos de grandes espaços culturais a difícil arte de dançar e cantar simultaneamente. Desde sua criação, o Cariúnas já produziu 14 espetáculos, entre eles uma releitura do musical Da bossa ao tango – Jobim e Piazzolla. O projeto é coordenado por uma equipe de professores que conta com profissionais graduados em música e em dança, acompanhados por uma direção pedagógica e administrativa. Os alunos entram com 7 anos no Cariúnas e lá permanecem até os 18. A coordenadora conta que 90% deles concluem os estudos e saem prontos para o mercado de trabalho. Muitos retornam ao projeto para multiplicar seus conhecimentos.
“Temos professores que começaram como alunos, aprenderam, cresceram e hoje escolheram a música como a área de atuação”, explicou Adriana.

É o caso da Tyara de Paulo, de 31 anos, que faz parte do grupo de docentes da instituição. “Sempre gostei muito de música. Conheci o projeto aos 9 anos e aqui fiquei até os 18. Foi então que decidi entrar na faculdade de música. O projeto me ajudou a encontrar minha profissão. Assim como ajudou muitas outras crianças da comunidade, tirou muitos jovens da rua. Na época, não tinha outro projeto acessível para participar”, contou. O caminho de Tyara atrai os atuais alunos.
Sofia Carvalho, de 13, é uma das participantes do projeto que já pensa em seu futuro na instituição filantrópica. “Entrei aos 7 anos e conheci o violino. Foi o meu primeiro instrumento de corda e eu me apaixonei. Escolhi levá-lo para minha vida”, contou. Ela acredita que nas escolas em geral a música é muito desvalorizada, enquanto no projeto ela pode aprender: “Transformou minha vida. Cariúnas não pode acabar.”

Adolescentes durante aula na escola, que oferece formação para meninos e meninas dos 7 aos 18 anos - Foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A PRESS

PARA MANTER O SONHO Cariúnas enfrenta grave problema financeiro depois do encerramento da principal parceria. De acordo com a coordenadora, o custo mensal para manter o espaço é de R$ 50 mil, sendo que 30% eram repassados pela Fiemg. “Em abril, venceu o contrato e eles não renovaram devido à crise financeira. Foi um baque muito grande. Contávamos com aquele valor.
Agora, estamos nos empenhando em fazer eventos, como festa junina e vaquinha nas redes sociais para nos manter. A gente está sob risco seriíssimo de fechar as portas até agosto”, lamentou.

Quem quiser ajudar pode acessar a vaquinha on-line (https://www.vakinha.com.br/vaquinha/593292) com o objetivo de arrecadar fundos para ajudar a cobrir parte das despesas financeiras. O objetivo é alcançar pelo menos R$ 20 mil. Até o fechamento desta edição, haviam sido arrecadados R$ 3.065, o equivalente a 15,33% do valor esperado. A vaquinha termina em 31 de julho. O Cariúnas busca também novas parcerias. “A situação é triste. O projeto é a transformação vista claramente. Os alunos chegam tímidos, muitos com questões emocionais, em situação de vulnerabilidade. Eles saem daqui passando em primeiro lugar na UFMG”, disse.

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