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Chega a 52 o número de notificações de febre maculosa em ContagemContagem já tem quase 50 casos notificados de febre maculosaFamília que perdeu parente para a febre maculosa revive pesadelo com surto da doençaCasos notificados de febre maculosa sobem para 78 em ContagemApuração sobre surto de febre maculosa em Contagem se estende à Região da Pampulha, em BHContagem confirma o 6º caso de febre maculosa; notificações chegam a 54Tido como corredor de disseminação dos carrapatos-estrela e da febre maculosa, o Córrego Bom Jesus é também vítima de anos de degradação ambiental. Sua foz original na Lagoa da Pampulha, em frente ao zoológico de BH, agora deixou de existir, devido ao assoreamento do reservatório. No local, o que era espelho d'água foi completamente soterrado. Com isso, as águas poluídas serpenteiam atualmente por um canal até encontrar o Córrego Ressaca, que vem do vizinho Parque Ecológico, também por leito assoreado.
O local da antiga foz é repleto de bancos de areia e brita, principalmente sob a ponte da Avenida Otacílio Negrão de Lima, que margeia a lagoa. Ali, entre lodo, algas e musgo, as pegadas de capivaras de diversos tamanhos se destacam, impressas no solo fofo, demonstrando que os roedores ainda frequentam a região. Contudo, sua presença física não foi notada nesse local. Pelas pegadas, suspeita-se que ainda haja filhotes entre os bandos desses mamíferos, podendo constituir uma geração ainda fértil que tenha escapado dos trabalhos de castração promovidos pela Prefeitura de BH.
Subindo o curso, o lixo espalhado se destaca pelo leito e pelas margens. Pneus de carros e caminhões, esqueletos de motocicletas, pedaços de móveis, embalagens e tampas de toda sorte formam corredeiras no fundo escuro ou se equilibram sobre a vegetação.
Também naqueles bancos de areia há pegadas de capivaras, demonstrando que os animais também circulam por ali. Contudo, a presença de cavalos de carroceiros pastando ao longo do manancial se dá em diversos pontos, sobretudo em áreas próximas a passeios, em um espaço muito usado pelas autoescolas para treinar manobras de estacionamento, e que é frequentado inclusive por crianças.
Cães, gatos e porcos
Isolamento, cal e investigação
Logo que os primeiros casos de febre maculosa foram confirmados em Contagem, as imediações do Bairro Nacional, próximo ao Córrego Bom Jesus, foram interditadas. Foi isolada uma área de cerca de 230 mil metros quadrados, delimitada pelo curso d'água e pela Rua 1º de Maio, onde fica o terreno no qual se identificaram as primeiras vítimas. Tratores e motoniveladoras revolveram o solo do espaço e um carregamento de cal foi despejado sobre a terra para tornar o ambiente mais alcalino e hostil aos carrapatos e suas larvas.
Os parasitas precisam se enterrar no solo para passar pelos seus ciclos de vida. A época de atividade só termina entre agosto e setembro, antes das chuvas. Em mais uma etapa da mobilização emergencial para combater a doença, hoje está programada dedetização das residências da Vila Boa Vista, uma comunidade à beira da zona de contaminação em uma área de atenção de 150 mil metros quadrados onde o acesso é regulado pela Guarda Municipal e pela Defesa Civil de Contagem. Enquanto isso, mais de 100 cavalos recebem banhos carrapaticidas.
A segunda fase já está em andamento e consiste numa busca meticulosa de campo pelos carrapatos, capivaras e cavalos infestados. Os roedores surgiram como principais suspeitos pela dispersão dos parasitas, já que os animais foram diagnosticados com a doença na Lagoa da Pampulha, onde o Córrego Bom Jesus deságua. Por esse motivo, as capivaras foram castradas na capital mineira. Contudo, equipes de meio ambiente que esquadrinharam a bacia do córrego e seus afluentes não conseguiram localizar capivara ou carrapatos.
Essa situação levou a responsável pela fiscalização ambiental a levantar suspeitas sobre os cavalos que pastam pela bacia. “Pode ser que as capivaras sejam inocentes desta vez. Em levantamentos que fizemos, foi constatado que vários cavalos que percorrem as áreas onde a doença foi identificada participaram de cavalgadas, que são comuns nesta época do ano, podendo ter adquirido os carrapatos contaminados em outros municípios, espalhando-os ao retornar”, suspeita a diretora.
“Realmente, nunca vi capivaras na região aqui do bairro (Nacional). A gente sabe que tem em outros lugares, na Pampulha, mas aqui, não. Mas carrapato aqui sempre teve, porque os carroceiros trazem muitos cavalos para pastar na beira do córrego (Bom Jesus)”, conta o metalúrgico Emanuel Júnior, de 37 anos, que mora perto da área de atenção.
Desde que o medo da maculosa passou a habitar a vizinhança, o morador conta que crianças pararam de brincar nas ruas próximas e pessoas tomam caminhos alternativos para evitar possíveis contatos com áreas onde suspeitam que possa haver parasitas. “Essa situação deixou todos nós assustados.