Jornal Estado de Minas

Cerco à maculosa: saiba quais cidades da Grande BH devem se unir contra doença

- Foto: Arte EM

Uma operação de guerra está sendo montada entre pelo menos seis cidades da Região Metropolitana de Belo Horizonte para conter os focos de carrapato-estrela e o avanço da febre maculosa, transmitida pelo parasita e que tem um surto sendo monitorado em Contagem. O plano é fazer um trabalho integrado por meio das bacias hidrográficas, uma vez que o hábitat natural das capivaras, um dos hospedeiros do transmissor, são as margens de cursos d’água. Hoje, Contagem decide, com o apoio de uma equipe de técnicos da Secretaria Municipal de Meio Ambiente da capital, os próximos passos a serem tomados para combater a ameaça e evitar novas mortes no Bairro Nacional, onde se suspeita que a doença tenha acometido 32 pessoas da mesma família, sendo que quatro morreram. Duas das mortes foram comprovadamente associadas à doença, que nos últimos seis anos vem matando em média quatro a cada dez pessoas contaminadas em Minas Gerais.

Como mostrou o Estado de Minas em sua edição de ontem, a área onde ocorreram os casos em Contagem fica a cerca de 2,5 quilômetros em linha reta do parque ecológico da Pampulha, em BH, e tem córregos que são afluentes da lagoa urbana da capital. As vítimas tiveram contato com o carrapato na mata que fica nos fundos de um terreno de aproximadamente 120 mil metros quadrados, na Rua Primeiro de Maio. No local, passam os córregos Água Funda e Gangorra, afluentes do Sarandi, que deságua na represa.

Ontem, equipe técnica da Secretaria de Meio Ambiente de Belo Horizonte apresentou às secretarias de Meio Ambiente e de Saúde de Contagem, em reunião na capital, a experiência da Prefeitura de BH e as providências tomadas para enfrentar o problema das capivaras na Pampulha, onde o manejo é diário, com ajuda de drone e barco. Hoje, o coordenador dos trabalhos de manejo das capivaras em BH, Leonardo Maciel, fará pela manhã visita técnica ao terreno do Bairro Nacional.

À tarde, o resultado da vistoria e um resumo do que vem sendo feito pela cidade há cinco dias será apresentado ao prefeito Alex de Freitas e ao comitê de crise formado para enfrentar o problema, que inclui órgãos como a Polícia Ambiental e a Defesa Civil municipal. A expectativa é definir ações, prazos e o valor dos investimentos a serem feitos.
A cidade vizinha começou, no domingo, o diagnóstico para ter o número de capivaras que frequentam as margens dos córregos Água Funda e Gangorra. De acordo com o secretário de Meio Ambiente de Contagem, Wagner Donato, também está sendo feito estudo da vegetação próxima à área de contaminação com carrapatos.

Fontes de Belo Horizonte ouvidas pelo Estado de Minas dão conta de que o município limítrofe tende a seguir linha semelhante à adotada pela capital: montar um hospital de campanha e contratar uma empresa para manejo das capivaras, o que inclui implantar chips de monitoramento e castrar os roedores. Mas o secretário Wagner Donato sustenta que, pelo cronograma, o diagnóstico deve ser fechado nos próximos 15 dias e, em 20, elaborado o plano de manejo – que pode ser igual ao da capital ou ter modificações. “Vamos coletar todas as informações para daqui 20 dias começar o manejo”, diz.



A ideia é estender o termo para os municípios vizinhos de Esmeraldas, Ribeirão das Neves, Betim e Ibirité. Wagner Donato explica que Betim e Contagem têm em comum a represa de Vargem das Flores, que abastece 300 mil moradores da Grande BH com água tratada pela Copasa, onde também há presença de capivaras. A preocupação com Ibirité se deve à represa da Petrobras, que faz limite com Betim e está perto de Contagem. Já Ribeirão das Neves entra no radar pela proximidade com o Bairro Nacional, onde houve o surto de maculosa.
“Estender a cooperação técnica é importante para evitar o que ocorreu em Belo Horizonte e o que agora está ocorrendo em Contagem. Para doenças não há limite de municípios”, disse Wagner Donato.

A Prefeitura de Contagem contabiliza 128 moradores no terreno no Bairro Nacional que tiveram contato com a mata próximas aos córregos Água Funda e Gangorra. Todas foram inscritas numa unidade básica de saúde para receber atendimento e orientações sobre a doença. Na quarta-feira da semana passada, morreram com suspeita da doença Otacílio Muniz Santana, de 82, e José Muniz Santana, de 69. Na segunda, faleceram Vânia Muniz Santana, de 59, e Caio Santana, de 19.

Dois dos óbitos tiveram resultado positivo para a febre maculosa. Os outros ainda estão em análise pela Fundação Ezequiel Dias, com 28 outros casos de pessoas que apresentaram sintomas da doença. Três estão internadas – duas no Hospital das Clínicas e uma no Hospital Municipal do Barreiro, em BH. A capital tem 31 notificações por febre maculosa.
Em toda Minas Gerais há seis casos confirmados da doença este ano. Em 2018, foram 58 confirmações e 22 óbitos..