Pelo menos 120 mil metros quadrados são o cenário do novo foco de febre maculosa em Minas Gerais. O mais recente endereço do medo para a saúde pública fica na divisa de Contagem, na região metropolitana, e Belo Horizonte: a área conhecida como Vila Boa Vista, vizinha ao Bairro Nacional, bem atrás do zoológico da capital, na Pampulha. Tão perto que, nos fundos do terreno, passam dois córregos que deságuam na lagoa. Entre casos suspeitos e comprovados no município limítrofe já são 21, sendo quatro mortes, duas delas com resultado confirmado para a doença – transmitida pelo carrapato-estrela e que tem índice médio de letalidade superior a 40% em Minas nos últimos seis anos. Os casos na cidade vizinha levaram a capital mineira a emitir alerta, depois do qual entraram na lista de investigação os quadros de nada menos que 31 pacientes, elevando o total de diagnósticos notificados na Grande BH a pelo menos 52.
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O aposentado Antônio Eugênio Santana, de 67 anos, afirma que o terreno é herança da avó, Lúcia Rosa Muniz, e que as vítimas do novo foco estão longe de ser moradores recém-chegados à região. “Nasci aqui, numa casa de adobe”, diz.
Anteontem, foi a vez de ir ao funeral da sobrinha Vânia Muniz Santana, de 59, e do sobrinho-neto Caio Santana, de 19. “Foi preciso quatro pessoas morrerem para providências serem tomadas. Vimos pedindo solução para as capivaras que andam por aqui há anos, mas fizeram limpeza só na Pampulha”, denuncia. O terreno está a menos de 2,5 quilômetros em linha reta do Parque Ecológico Promotor Francisco José Lins do Rêgo Santos, na Pampulha, que se tornou conhecido como um dos principais pontos de concentração dos roedores na região.
Os córregos que passam na área são o Água Funda e o Gangorra, que se encontram para desaguar no Córrego Bom Jesus, que passa na Portaria 1 da Fundação Zoobotânica de BH. De lá, o curso se junta ao Sarandi, que chega à Lagoa da Pampulha. “Enquanto se achava que o foco das capivaras era o Parque Ecológico, elas estavam aqui”, sustenta Antônio Santana.
BAIXAS NA FAMÍLIA Outros três homens da família, de 65, 44 e 38 anos, estão internados com suspeita de febre maculosa. Quem está em casa faz exames como prevenção. Caso do comerciante Ronaldo José Santana, de 50, sobrinho de Antônio. Embora não more no local, ele também precisou tomar cuidados médicos, pois está sempre no endereço, visitando o pai. “Fiz exame, já peguei o resultado de um e semana que vem tem mais”, conta.
A irmã dele, Vânia, uma das vítimas, também não morava no local. Vivia no bairro vizinho Xangrilá, na Pampulha, mas ia todo fim de semana ver a família. As outras três vítimas moravam no terreno e tiveram contato com a mata próximo aos córregos que chegam à Pampulha. Ronaldo relata que a versão da invasão do terreno tem corrido longe.
MANCHA DE CONTÁGIO A Prefeitura de Contagem estima que 128 pessoas tenham entrado em contato com a área considerada foco da doença. Mas os moradores dizem que esse número é de pelo menos 200. E que cerca de 500 pessoas, dado o tamanho da família, frequentam o lugar. Ontem, uma das pontas da Rua 1º de Maio chegou a ser fechada pela Transcon, a empresa que gerencia o trânsito em Contagem, e a outra pela Defesa Civil. Isso porque foi instalado maquinário numa parte do terreno para começar, hoje, trabalhos de limpeza. Anteontem, agentes de Zoonoses aplicaram carrapaticida em animais domésticos e os imóveis foram borrifados por dentro e por fora. Cinco bois e 22 cavalos que estavam soltos pelo bairro foram capturados para o mesmo procedimento, feito no Curral Municipal de Contagem.
As 128 pessoas consideradas vulneráveis ao contato pela prefeitura foram inscritas em uma unidade básica de saúde do Bairro Nacional para receber atendimento e orientações sobre a doença. A prefeitura começou trabalho de campo e usa também drones para identificar o número de capivaras no local.
Por seu lado, logo após a confirmação dos casos de Contagem a prefeitura da capital emitiu alerta aos profissionais de saúde, para que estejam atentos a pacientes com sintomas da febre maculosa, até pela semelhança dos sintomas com os de doenças como a dengue. Depois do alerta, a Saúde da capital informou ontem que há 31 pacientes sob investigação na cidade para a doença..