Jornal Estado de Minas

Documento aponta que talude em mina de Barão de Cocais pode se romper até 25 de maio


Informar a população dos reais riscos de rompimento da Barragem Sul Superior, da Mina Gongo Soco, em Barão de Cocais, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Esse é o objetivo da recomendação expedida nesta quinta-feira pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) à Vale. A mineradora terá que tomar uma série de medidas com o intuito de passar as informações acerca da situação do reservatório. O prazo para as ações serem adotadas é de seis horas. Segundo os promotores, caso o talude norte – parte da encosta logo acima da barragem, semelhante a escadinhas – continue se movimentando, ele poderá se romper até 25 de maio.

Os riscos de rompimento da barragem, que já estava no último nível de segurança, aumentaram na última terça-feira, depois que o talude norte da Barragem Sul Superior se movimentou. A Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec) afirmou que, a princípio, em caso de rompimento do talude, o material cairia na cava existente abaixo dele e seria integrado ao meio ambiente. Contudo, os riscos de colapso da Sul Superior seriam consideráveis.


“De acordo com os dados atuais de monitoramento pelo radar instalado na cava, existe a possibilidade de deslizamento do talude norte da Cava de Gongo Soco. As trincas no talude estão evoluindo e os dados de monitoramento demonstram que a movimentação no talude norte da cava está aumentando. Caso venha acontecer a ruptura no talude norte, não é possível afirmar se a vibração decorrente desta ruptura poderá causar um gatilho para liquefação da Barragem Sul Superior”, explicou o MPMG.

Na recomendação, os promotores afirmam que tiveram acesso a um documento, chamado de “Cava Gongo Soco – Análise Inverso da Velocidade Talude Norte”, da Vale, em que a mineradora estima um tempo para a estrutura se romper. “Permanecendo a velocidade de aceleração de movimentação do talude norte da Cava da Mina de Gongo Soco sua ruptura poderá ocorrer no período de 19 a 25 de maio de 2019, gerando vibração que poderá ocasionar a liquefação da Barragem Sul Superior e sua consequente ruptura”, informa.

Diante dos riscos, a força-tarefa do MPMG recomendou que a Vale adote uma série de medidas para orientar a população. No documento, os promotores pedem que a Vale comunique, por meio de carros de som, jornais e rádios, “informações claras, completas e verídicas sobre a atual condição estrutural da Barragem Sul Superior, possíveis riscos, potenciais danos e impactos de eventual rompimento às pessoas e comunidades residentes ou que estejam transitoriamente em toda área passível de inundação”.


Outra recomendação foi que a empresa forneça às pessoas eventualmente atingidas “total apoio logístico, psicológico, médico, bem como insumos, alimentação, medicação, transporte e tudo que for necessário, mantendo posto de atendimento 24 horas nas proximidades dos centros das cidades de Barão de Cocais, Santa Bárbara e São Gonçalo do Rio Abaixo”. “Esses locais deverão contar com equipe multidisciplinar preparada para acolhimento, atendimento e atuação rápida e pronta a serviço dos cidadãos”, solicitou o MPMG.


O que diz a empresa


Em nota, a mineradora Vale afirmou que “vem tomando uma série de medidas necessárias para informar a população sobre a situação”, a partir das rádios locais e de panfletos. Também disse que não há laudos técnicos que garantam a ruptura da Barragem Sul Superior em caso de escorregamento do talude norte.


Segundo a empresa, “foram instalados sete pontos de encontro em Barão de Cocais com funcionamento 24 horas por dia”. Destacou, ainda, que a cava e a barragem são monitoradas ininterruptamente.

Trem da Vale


Por causa dos riscos de rompimento do talude, a partir desta quinta-feira, parte da Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM) está interditada. Por causa disso, os passageiros do trem que transita entre a capital mineira e a capixaba vão precisar ir de ônibus até a Estação Dois Irmãos, em Barão de Cocais, e continuar a viagem de trem. No sentido contrário, quem sai do Espírito Santo vem de trem até Barão e termina de chegar em Belo Horizonte de ônibus.
Segundo a Vale, não haverá custo adicional para o passageiro. Contudo, a mineradora admite a possibilidade de aumentar o tempo de viagem. .