Jornal Estado de Minas

Florestas estaduais enfrentam desafio de preservar refúgios do vandalismo

- Foto: Arte EMOuro Preto e Betim – Duas unidades florestais estaduais que servem de refúgio para a vida silvestre e reserva de mata atlântica apresentam realidades diferentes. Apesar de se encontrar na Grande BH, em Betim, a Floresta Estadual São Judas Tadeu tem suas formações naturais intactas, ao passo que a Floresta Estadual do Uaimií, em Ouro Preto, distante de áreas residenciais, sofre com impactos trazidos por visitantes. Um dos motivos, talvez, seja a dificuldade de acessos para a unidade da Grande BH, uma vez que as estradas que levam para lá passam dentro de propriedades particulares e a entrada principal é o portão da Fundação Ezequiel Dias (Funed), onde não se permite acesso sem autorização. Já a floresta de Ouro Preto é repleta de estradas rurais, algumas das quais constituem as únicas passagens para comunidades, como o distrito de São Bartolomeu. A fiscalização dos funcionários do Instituto Estadual de Florestas (IEF) parece também não intimidar a ação dos vândalos.

A degradação sofrida pela unidade fica óbvia já na entrada da floresta. A guarita do IEF foi completamente depredada. Fiações e canaletas foram arrancadas, vidros de janelas furtados, assim como lâmpadas e câmeras de vigilância. Nos banheiros, as pias foram quebradas, os bojos roubados e os vasos sanitários também retirados.
Pichações e rabiscos se espalham por toda parte. Em volta da construção, o mau cheiro é forte. Vem de lixo orgânico e de excrementos deixados pelos visitantes clandestinos.

Sede da Floresta Estadual do Uaimií, em Ouro Preto, foi depredada. Vândalos levaram vidros e até a pia do banheiro. Trilhas acumulam lixo deixado por visitantes - Foto: Mateus Parreiras/EM/DA Press

MARCAS NO CAMINHO Como não há mais instalações para auxílio aos visitantes, as trilhas para as cachoeiras acabaram desaparecendo, devido ao crescimento do mato e à falta de manutenção desses caminhos. Ainda assim, os depredadores conseguem encontrar as picadas e chegam a vários pontos de atração, como as cachoeiras da Candeia, das Pedras e Brás Gomes. As marcas dessas ocupações também ficam espalhadas próximo às formações naturais. Estruturas de pedras, grelhas de metal e até sacos de carvão mostram que grandes grupos de pessoas passam dias e noites acampados na unidade fazendo churrasco, o que eleva o risco de incêndios. Ao longo das trilhas, mais uma vez é possível encontrar muito lixo, como embalagens de alimentos, garrafas de bebida de vidro, latas e garrafas PET.

Já a Floresta Estadual São Judas Tadeu se encontra cercada por fazendas e propriedades dentro de condomínios fechados.
Apesar dessa proximidade, não há marcas de que bois ou cavalos passem pelas cercas, o que é realidade em várias unidades de conservação mineiras que têm limites com criadores. Nas trilhas não há marcas do trânsito de animais domésticos, de pegadas de pessoas ou rastros da circulação de veículos. Pelo contrário. O solo exposto ao longo das trilhas existentes no interior da mata está desaparecendo com a proliferação de mais mato e capim. Uma grande concentração de pássaros mostra que a interferência humana ali é mínima. Algo cada vez mais raro, uma vez que no estado ainda é frequente a ação de caçadores que capturam animais silvestres para fazer contrabando. O único sinal de presença externa àquele meio ambiente que a reportagem do Estado de Minas encontrou na unidade se trata de uma pipa, que provavelmente chegou carregada pelos ventos.

Bioma modelo carece de regras fundiárias

O Instituto Estadual de Florestas (IEF) esclarece que a categoria de unidade de conservação florestas é de uso sustentável, sendo permitida a presença de pessoas e atividades em seu interior. “A visitação e o turismo não são os focos principais de unidades de conservação da categoria florestas.
No caso de Uaimií, em Ouro Preto, o objetivo principal da unidade de conservação é o estímulo ao desenvolvimento sustentável usando o convívio com a mata atlântica. A unidade de conservação foi o primeiro bosque modelo do bioma reconhecido pela Rede Iberoamericana pelas práticas que o IEF e comunidade desenvolvem e replicam”.

Em Uaimií, a regularização fundiária ainda não foi feita, sendo encontradas propriedades particulares que exploram comercialmente a utilização de cachoeiras. “Por isso, alguns problemas encontrados pela reportagem são de difícil solução para o IEF, pois se tratam de propriedades particulares, onde o Instituto não tem acesso para que sejam realizadas manutenções e limpeza. A unidade de conservação tem estrutura física com duas guaritas (uma delas será reformada) e residência para pesquisador”. Uma discussão sobre a transformação da floresta em parque estadual deve ocorrer em breve. “O plano de manejo da Floresta Estadual de Uaimií prevê a revisão da categoria da unidade de conservação, o que será discutido pelo Conselho Consultivo da unidade”, informa o IEF.

A Floresta Estadual São Judas Tadeu, na Grande BH, tem abrigado criação de cavalos usados na confecção de soros para animais peçonhentos pela Fundação Ezequiel Dias (Funed) que mantém, desde 1985, uma fazenda experimental e de produção dos soros antipeçonhentos, antitóxicos e antivirais que são distribuídos pelo Ministério da Saúde para todo o Brasil. A partir do plasma dos cavalos intoxicados são produzidos soros contra os venenos de vários tipos de serpentes, como cascavel, jararaca, coral e surucucu, além de antídotos para picada de escorpião e dos soros antitetânico e antirrábico.

Na fazenda são criados 150 cavalos em 200.31 hectares de área, sendo que 140.71.98 hectares constituem área de preservação permanente, com predomínio do bioma mata atlântica em uma área de transição com o bioma cerrado. A Floresta Estadual São Judas Tadeu foi criada em 2001. Não existe nenhum projeto de torná-la um parque para fins de visitação..