Jornal Estado de Minas

Criança em pânico e acidente de carro: moradores de Itabira falam sobre sirenes acionadas por engano



Na noite dessa quarta-feira, enquanto moradores de Nova Lima eram alertados sobre a elevação de risco para nível 3 da Barragem B3/B4 em Macacos, distrito do município, a população de alguns bairros de Itabira se assustava com o acionamento de sirenes das barragens da Vale. No entanto, segundo a mineradora, o que ocorreu na cidade da Região Central de Minas foi um engano. Nesta quinta, o em.com.br ouviu moradores de Itabira que relataram momentos de pânico e até um acidente no momento do alarme falso. 

Segundo jornais da região, a sirene com a mensagem pedindo que os moradores deixassem suas casas foi ouvida nas regiões dos bairros Gabiroba, Praia e Bela Vista. Vídeos e áudios de moradores começaram a circular rapidamente nas redes sociais sobre o ocorrido. 

Em uma das gravações, atribuída à polícia mas cuja veracidade ainda não foi confirmada, uma pessoa fala pelo rádio que a sirene deveria ter sido acionada em Nova Lima, não em Itabira. Nesta quinta-feira, a Polícia Militar do município informou que algumas pessoas chegaram a ligar assustadas para o 190, mas não houve registro de ocorrências. 

O vereador Weverton Leandro Santos Andrade (PSB), conhecido como Vetão, reclamou da situação no Facebook. “Em um momento delicado como esse, onde paira no ar o receio de toda população sobre a segurança das barragens, principalmente sobre os mecanismos de fiscalização de sua estabilidade, acionar a sirene erroneamente, assustando o povo, coloca mais uma vez em cheque a segurança deste sistema”.



Outros moradores também usaram as redes sociais para falar do medo após o acionamento da sirene. Veja algumas publicações: 













Por meio de nota, a Vale admitiu que houve uma falha no sistema de alerta de barragens no município.
“O acionamento em Itabira aconteceu devido a um desacerto técnico. Portanto, não há situação de emergência nessa localidade e nem necessidade de que as comunidades da região sejam evacuadas”, informou a mineradora, completando que a correção foi feita imediatamente pela área técnica. “A Vale reitera que não houve alteração no nível de segurança das barragens de Itabira e que os moradores podem manter a tranquilidade”, finalizou. 

CRIANÇA PASSOU MAL Uma moradora do Bairro Ribeira de Cima, que pediu para não ser identificada, estava dormindo quando ouviu a sirene das barragens e ficou apavorada ao sair de casa com os dois filhos. “Só deu tempo de vestir um roupão e acordar meus filhos. O mais velho tem 7 anos, o mandei correr para o carro. A minha de 3 anos peguei no colo e embarquei. Deixei a casa aberta e fui na direção que era o ponto de socorro”, contou a mulher.
O local de encontro indicado pela Vale fica a menos de cinco minutos da casa dela e era grande o movimento de carros e pedestres seguindo para o endereço. “Cheguei lá tinha muitas crianças, idosos. Vi uma senhora cadeirante carregada pelo filho e atrás deles uma pessoa com um colchão para colocá-la. Depois de meia hora chegou a informação de que não era real, era um erro, que devíamos voltar para casa. Como a rua era muito estreita, até os carros saírem demorou muito tempo, foi uma situação de pânico, pavor”, contou. 



A moradora conta que o bairro é cortado por um curso d'água, o que aumenta o medo dos moradores de que os rejeitos do rompimento de uma das barragens poderia chegar rápido ao local. O clima é tenso e, segundo ela, o filho mais velho está emocionalmente abalado desde o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho e passou mal quando a sirene tocou ontem. “Quando eu falei para ele correr e entrar no carro, ele perguntou 'é o que eu estou pensando?'. Na hora em que ele confirmou começou a passar mal de nervoso, vomitou muito, teve diarreia, não queria voltar para casa.
Disse para irmos à casa da avó, onde é mais seguro”. A moradora disse que foi difícil convencer o menino a voltar para casa, e que ele ficou mais tranquilo quando viu o pai chegar do trabalho. Agora, ela tenta providenciar acompanhamento psicológico para a criança. 

“Acho muita falta de respeito, principalmente com os idosos e acamados que não tiveram condições de sair de casa, sem saber se era real ou não. Minha preocupação é da próxima vez. (Em uma situação real) Se as pessoas não saírem de casa pensando ser um engano muitas vidas serão perdidas”, pontuou. 

CARRO BATIDO E PREJUÍZO O pedreiro Edair José dos Santos também mora no Bairro Ribeira de Cima, que fica próximo à Barragem de Itabiruçu. Ele contou que terá que desembolsar cerca de R$ 1 mil para consertar o carro após um acidente ao sair de casa com a família durante o acionamento da sirene. “Minha avó fica de cama. Fui colocá-la no carro e saí correndo. Esbarrei na porteira de entrada da chácara, arranhou bem a lateral, arrancou o friso da porta”, contou. Com ele eram cinco pessoas no veículo.
Ninguém se feriu.

Assim como a vizinha de bairro, ele concorda que os alarmes falsos podem prejudicar as ações da população caso ocorra uma emergência. “A situação é crítica porque eles (Vale) não dão uma posição, se vai acontecer (um rompimento), se não vai acontecer. Quando for de verdade, a pessoa vai achar que é alarme falso e não vai sair de casa”, comentou. Segundo ele, hoje as pessoas ainda estão assustadas e falam até em se mudar do bairro. 

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