Jornal Estado de Minas

Retratos da sede da Vale destruída na lama: pânico congelado no tempo

- Foto: Leandro Couri/EM/D.A Press

 

As paredes sujas, os capacetes jogados, os terminais quase irreconhecíveis sob o barro seco dão dimensão do tsunami de lama liberado em 25 de janeiro. Quase dois meses depois, apesar do silêncio, quase pode se ouvir o pânico que ficou congelado no espaço em que pessoas trabalhavam no primeiro andar da Gerência de Tratamento de Minério e Movimentação da Vale, na sede da Mina Córrego do feijão.

- Foto: Leandro Couri/EM/D.A Press

Lá, uma porta discreta, que quase ficou suspensa por um vagalhão de lama, dava acesso a um cômodo que não resistiu ao desastre que despejou quase 13 milhões de metros cúbicos de rejeitos morro abaixo: os móveis foram revidados, documentos ficaram espalhados pelo chão. Apenas uma televisão continuou suspensa na parede, com a tela destruída.

- Foto: Leandro Couri/EM/D.A Press

De lá, uma grande janela permite uma visão panorâmica da maior catástrofe humana da história de Minas Gerais. Logo abaixo, o Corpo de Bombeiros trabalha na área onde ficava o pátio de manobra das locomotivas. A busca é por pelo menos 10 corpos de pessoas que estavam trabalhando no alto da represa no momento da ruptura.

- Foto: Leandro Couri/EM/D.A Press

No segundo andar, chama a atenção uma placa, onde se lê: “Nesta área estamos trabalhando a ‘0’ dias sem acidentes pessoais e materiais”. O espaço para se colocar o número estava vazio. O zero foi completado por alguém que escreveu com os dedos por cima da poeira. Na sala ao lado da placa, ainda é possível imaginar as pessoas trabalhando.



Naquele espaço os móveis não saíram do lugar, não foram revirados pela força da lama.

Entretanto, as peças coloridas deram lugar ao marrom. Cadeiras, monitores de computador, teclados, calendários e mesas foram completamente tomados pelo rejeito vazado da barragem. Os capacetes deixados sobre a mesa também parecem ter sido abandonados na correria que pegou quem trabalhava por ali de surpresa na hora do almoço.

É difícil precisar quantas pessoas exerciam suas rotinas ali. Restaram apenas as impressões do cotidiano denunciado por itens como xícara preta, posta à mesa, que permaneceu intacta. Provavelmente à espera do café de alguém que não voltou do almoço.

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