Jornal Estado de Minas

Pais e educadores avaliam como garantir segurança nas escolas mineiras

Uma prevenção que passa não apenas pela segurança, mas, sobretudo, pela educação. O atentado à Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano (SP), acendeu o alerta em instituições de ensino de Minas Gerais e pôs ainda mais em voga a questão de como proteger nossas crianças e jovens. O ataque a tiros que deixou 10 mortos no colégio da na Grande São Paulo, motivou uma série de episódios no ambiente escolar em Minas, nos últimos dias, fato já esperado por profissionais da área. Educadores, pais e gestores são unânimes em afirmar que a solução deve ser conjunta, constante e deve permear algo fundamental nesse processo: escutar os jovens.

Na rede estadual de ensino mineira, pelo menos três projetos se destacam no trabalho de combate à violência em ambiente escolar. A convivência democrática nas escolas, além da prevenção, é ressaltada a orientação aos gestores dos colégios, por meio da qual são abordados os encaminhados a serem tomados em caso de fatos iminentes e, assim, garantir a segurança de todos. “A escola sozinha não é responsável, nem dá conta de tudo. Por isso, a orientação é as escolas procurarem parceiros que ficam nas imediações e que atuam, antes de qualquer outra situação, com a prevenção. Caso das patrulhas escolares”, afirma a superintendente de Modalidades e Temáticas Especiais de Ensino, Iara Pires Viana, a Secretaria de Estado de Educação (SEE).

A saúde emocional é outro ponto importante, segundo Iara.
“O perfil dos jovens envolvidos no cenário de violência é ser do sexo masculino. Pertencer ao grupo e exercitar a masculinidade os coloca em conflito com eles mesmos”, adverte. “Por causa do ocorrido em Suzano, tenho receio de que, em alguns pontos, os jovens tentem encenar cenários como aquele. Numa situação assim, o que podemos fazer é tentar se anteceder aos fatos, verificar mudanças de comportamentos de alunos, a que grupos pertencem e dar o encaminhamento socioemocional”, afirma.

No projeto Justiça Restaurativa nas Escolas, a jovens que cometem infrações, é mostrado que eles ainda têm direito ao sistema educacional, e tanto vítima quanto réu devem ser acompanhados. As responsabilidades são partilhadas entre todos os segmentos, desde a saúde até a segurança. Já o projeto de mediação de conflitos no ambiente escolar é uma das linhas do projeto, com o viés da prevenção e escuta do adolescente. “Os diretores estavam muito tranquilos nos casos que ocorreram e de como encaminhar os fatos”, conta a superintende.

ESTRATÉGIAS Na rede privada, a segurança também é preocupação e medidas preventivas foram intensificadas, motivadas pelos ataques a escolas nos Estados Unidos.
Em maio, o Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (Sinep-MG) vai repetir seminário promovido no fim do ano passado com diretores da rede. Na ocasião, um especialista falou sobre área de dados, verificação e acesso à internet. “Esses ataques nos Estados Unidos levaram o Sinep a pensar em estratégias para ajudar na vigilância de maneira mais direta, com um trabalho de conscientização de alunos e famílias sobre a internet”, diz a presidente do sindicato, Zuleica Reis Ávila.

“O que difere a escola particular é a segurança. É um diferencial em que a gente aposta, mas não garante. As escolas têm número de funcionários maior nessa área e câmeras em todos os locais. As estratégias incluem medidas até mesmo fora dos colégios. Vários deles têm vigias nas esquinas, tentando cercar essa questão de todas as maneiras”, diz. Zuleica ressalta a importância da participação da família.
“Os jovens de hoje são filhos do quarto. Na escola, conseguimos controlar o que acessam. Mas e em casa? É preciso um movimento de toda a sociedade e, principalmente, das famílias. Se não tomarmos providência, como será daqui 10 anos?”, questiona.

Continuar a tocar no assunto é outro ponto que a presidente do Sinep considera fundamental para evitar novas tragédias. "Quando as escolas chamam as famílias para falar de um assunto desse, quase não tem adesão. Agora, teria, por causa da tragédia recente. O trabalho com sujeitos sociais é igual escovar dente. É todo dia. Os pais devem, sim, entrar no quarto, verificar, perguntar onde vai, onde está. Essa é uma forma de proteção."

SITUAÇÃO GRAVE DE VIOLÊNCIA

 

O coordenador da Federação das Associações, Pais e Alunos das Escolas Públicas de Minas Gerais e assessor da Associação dos Professores Públicos de Minas, Mário de Assis, pede socorro.

Ele acredita que a situação nas escolas é grave. “O governo cria escolas públicas, mas não cria políticas de qualidade e segurança para os nossos filhos. O caso de Suzano não será o último, só aguardamos o próximo episódio ocorrer. A situação é de risco enorme. Isso porque não se trata de uma ação terrorista. Foi um ato demoníaco instituído pelo modismo e pela onda de violência”, disse.

Ele explica que os jogos violentos chamam muito atenção nos dias de hoje. Ele busca pela responsabilização pelo crime barbárie da última quarta-feira feira. “Assim como nos perguntamos quem mandou matar Marielle Franco, também precisamos nos perguntar: quem mandou matar os alunos de Suzano? Precisamos de encontrar os culpados. Esses jovens tiveram acesso à arma. Quem vendeu essa arma?”, questiona.

Ele propõe algumas ações que possam coibir ataques como o de Suzano.
“Precisamos de ter uma comunidade que apoie a escola. Não é sobre ter muros, mas sobre ter uma comunidade que protege as pessoas. Além do mais, precisamos de criar uma associação de país para que possa conviver e participar da vida escolar”, disse.

Ele acredita que se a família estivesse mais presente nas ações da escola, esse tipo de situação não ocorreria. O representante da federação também favorável aos detectores de metais nas portas das instituições. “Lamentamos a necessidade desses equipamentos, mas apoiamos a instalação. Escola não é lugar de ir e vir, escola não tem que ser um espaço democrático que uma pessoa pode entrar e sair quando quiser. Escola é para que alunos aprenderem e professores ensinem. Então, essas limitações se fazem necessárias”, diz.

E, em resposta ao major Olímpio, que disse que tragédia em Suzano seria evitada se professores estivessem armados, Mário disse: “Não precisamos de mais armas, mas de combater a impunidade. Muitos infratores já são reincidentes.”

VIIGILÂNCIA A Secretaria de Estado de Educação (SEE) informou ontem que os vigilantes que correm o risco de serem dispensados das escolas estaduais atuam na segurança patrimonial, no período noturno, em que não há aulas nas instituições. A medida pode ser tomada, de acordo com a pasta, por causa da crise financeira do estado. “De qualquer forma, independentemente desta atuação, a SEE já conta com a parceria da Polícia Militar, que realiza patrulhamento e rondas preventivas nas imediações das unidades de ensino da rede estadual, para reforçar a segurança de estudantes e servidores”, diz a nota.

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