Jornal Estado de Minas

Ruínas de portaria de mina mostram horror da tragédia de Brumadinho

- Foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press


Ao longo da mancha de inundação por onde passou a lama do rompimento da barragem da Vale em Córrego do Feijão, distrito de Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, o que existia pela frente foi soterrado. Várias edificações foram riscadas do mapa, como o refeitório da Vale, que ficava dentro da mina e bem abaixo do reservatório, e lugares como a Pousada Nova Estância, local em que várias pessoas morreram, incluindo hóspedes, proprietários e funcionários. Porém, nas bordas da área de fluxo de rejeitos, onde a lama passou, mas não varreu completamente o que existia, ficaram os rastros da tragédia nas ruínas das estruturas originais, o que permite observar uma espécie de cápsula do tempo, que congelou o momento em que as rotinas foram interrompidas pela avalanche de 25 de janeiro.

- Foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press

Um desses locais – onde pranchetas e móveis revirados e paredes marcadas por manchas de lama permitem ter uma ideia dos momentos de pânico – é a estrutura física da portaria da Mina Córrego do Feijão, bem ao lado de onde passou a avalanche de rejeitos. A edificação continua de pé, mas o interior do imóvel parece ter sido revolvido por um terremoto. Paredes ficaram chapiscadas de barro, o piso mudou completamente de cor e mesas viraram depósitos de terra, restos e pó de minério.

DESTRUIÇÃO Tudo isso deixou com uma aura fantasmagórica o local que abrigava o controle de acesso de trabalhadores e visitantes e contribui diretamente para o ar de destruição presenciado por quem entra na área da mina atingida. Mesas e cadeiras estão espalhadas, mas não é possível saber se ficaram daquele jeito após a passagem da onda de lama ou se foram entulhadas no local depois que o imóvel perdeu o sentido e virou mais um depósito do que uma portaria.

- Foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press

Pastas de documentos também foram remexidas, como uma que traz documentos referentes à “Inspetoria Córrego do Feijão”. Um quadro de aviso ficou solitário na parede de um dos cômodos, já que a edificação tinha outras dependências. Itens de uso pessoal de trabalhadores, como capacetes e botas foram deixadas no local, o que sugere uma evacuação rápida da estrutura quando a lama passou arrastando tudo pela frente.
Pilhas de papéis se misturaram à lama no chão, onde também é possível observar um relatório jogado. Nele, em meio ao ambiente que transmite um ar de morte e abandono, está estampado o título de triste ironia: “Saúde e segurança”.

.