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Estado de Minas

Especialistas divergem sobre chegada de rejeitos de Brumadinho ao Velho Chico

'Muita lama para pouco rio', diz professor aposentado da UFMG sobre volume de lama da barragem que percorrer o leito do Paraopeba


postado em 17/02/2019 12:00 / atualizado em 17/02/2019 16:00

(foto: Edésio Ferreira/E.M/D.A Press)
(foto: Edésio Ferreira/E.M/D.A Press)

Desde que aconteceu a tragédia na área da Vale, em Brumadinho, em 25 de janeiro, autoridades e órgãos ambientais argumentam ser pouco provável que a lama de rejeitos que vazou da Barragem 1 da Mina Córrego do Feijão - e que avança no Rio Paraopeba -, possa alcançar o reservatório da Usina Hidrelétrica de Três Marias, construída no Rio São Francisco. Agora, o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM) já trabalha com a possibilidade de que a lama chegue a Três Marias, mas considera que os rejeitos devem ser contidos pela usina e não devem descer pelo Velho Chico.


Por outro lado, o professor Ricardo Motta Pinto Coelho, professor aposentado do Departamento de Biologia Geral da UFMG e atualmente docente do departamento de geociências da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), disse que acredita que será inevitável impedir a chegada dos rejeitos de minério ao reservatório de Três Marias e ao Rio São Francisco. Pois, afirma, a tendência é que lama continue sendo carreada pelo Rio Paraopeba e atinja “tudo que está à jusante”. Ele salienta que tem que se levar em consideração a grande quantidade de rejeitos (cerca de 12 milhões de metros cúbicos) em relação ao volume do Rio Paraopeba: “muita lama para pouco rio”. A lama de rejeitos se espalhou por uma área de 290 hectares (o equivalente a 300 campos de futebol) e seguiu pelo Ribeirão Ferro-Carvão até desaguar no Rio Paraopeba, depois de percorrer nove quilômetros, pouco mais de duas horas depois do rompimento da barragem em Brumadinho, no dia 25 de janeiro.

Rejeitos já percorreram 125km

 

Na noite da última sexta-feira, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) informou que a “pluma de rejeitos” já tinha percorrido uma distância de 125 quilômetros no Paraopeba após o local onde a barragem de rejeitos se rompeu. O Rio Paraopeba deságua no reservatório da Usina de Três Marias, a 330 quilômetros de Brumadinho. Desde a tragédia, órgãos públicos e autoridades divulgaram que a expectativa é de que os rejeitos sejam contidos pela Usina de Retiro Baixo, situada no Rio Paraopeba (a 300 quilômetros do local da catástrofe), impedindo, assim, que a poluição alcance o lago de Três Marias e o Rio São Francisco.

Agora, em resposta a questionamento do Estado de Minas, a Semad informou que “O IGAM já avalia a possibilidade de os rejeitos chegarem à Usina Hidrelétrica de Três Marias. Entretanto não é provável que eles passem de lá”.

 

Contaminação 

Um dos problemas representados pela lama de rejeitos de minérios é a alta concentração de metais pesados, que podem provocar uma serie de danos à saúde dos seres humanos, além dos prejuízos para o meio ambiente. O professor Ricardo Motta Pinto Coelho, lembra que, desde o dia do rompimento da barragem em Brumadinho, autoridades e órgãos governamentais como o próprio IGAM, a Agência Nacional de Águas (ANA) e o Serviço Geológico do Brasil (CPRM) apresentaram “previsões” de que a lama de rejeitos não passaria do reservatório de Retiro Baixo. Para isso, chegaram a fazer simulações em computador do “caminho da lama” e até onde ela poderia chegar.

 

 No entanto, lembrando que possui mais de 40 anos de atuação na área, o especialista ressalta que “muitas vezes, essas simulações não funcionam como seus operadores imaginam." E explica: "Uma coisa são os modelos computacionais. Outra coisa é a realidade”. O especialista completa: "Eu sempre acreditei que essa lama fosse chegar no Reservatório de Três Marias. Afinal, são mais de 11 milhões de metros cúbicos de lama em um volume relativamente pequeno (de água) que o Rio Paraopeba tem. Então, é uma situação muito diferente do Rio Doce (atingido pela lama de rejeitos que vazou da barragem do Fundão, de Mariana, em 5 de dezembro de 2015). O que quero dizer com isso? Que é muita lama para pouco rio”, comenta Pinto Coelho.

 

Ainda segundo ele, a tendência é que a  lama siga “descendo” pelo Rio Paraopeba, carreada pela água do próprio manancial. “O rio vai, paulatinamente, carrear os 11 (milhões) ou 12 milhões de metros cúbicos de lama não somente para o reservatório (da usina) de Retiro Baixo, como também para tudo que estive à jusante, incluindo a represa de Três Marias e a própria calha do Rio São Francisco”, disse o especialista. “A ANA, o IGAM e as autoridades estaduais da Bahia e de outros estados do Nordeste já deveriam estar monitorando o Rio São Francisco há muito tempo”, afirmou Pinto Coelho. “Acho que beira a irresponsabilidade não estabelecer uma rede de monitoramento da bacia do Rio São Francisco”, opinou o especialista.” E ainda afirma: “Não há um ecólogo brasileiro hoje com responsabilidade que possa afastar a possibilidade contaminação de toda a bacia do Rio São Francisco à jusante do ponto de entrada da lama de rejeitos de minério (no Rio Paraopeba) em Brumadinho”, assegura.


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