Jornal Estado de Minas

'O Brasil precisa saber que está em grave risco', diz especialista sobre infraestrutura



O Estado de Minas teve acesso a fragmentos de mensagens trocadas em um grupo de WhatsApp formado por 256 integrantes, todos engenheiros de minas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), muitos ex-funcionários da Vale, e com experiência profissional, no qual discutem o rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, na Grande BH, na última sexta-feira. São professores, mestres, doutores, aposentados e recém-formados que, por meio da rede social, fazem críticas, colocam pontos de vista e impressões do que ocorreu e como a tragédia está sendo conduzida.

O método da linha de montante, sistema construtivo de contenção de rejeito adotado em Brumadinho, é uma das decisões mais atacadas pelos participantes. “Acredito seja mais uma barragem com alteamentos a montante. Esse método construtivo é bem mais barato sim, mas com prazo de validade bem menor. Assim, se espera novos ‘acidentes’ como este se repetindo na região do quadrilátero”, escreveu um participante.

Há quem chame a atenção para outro método construtivo, o de linha de jusante, atualmente o mais aceito pela segurança, com menor risco de ruptura. “O rompimento, na maioria das vezes, é central. Porém, as ombreiras que normalmente revelam alterações de leituras de esforço não estão sendo previstas nas construções a montante, mas quando a construção é a jusante, ela é anunciada nos monitoramentos. A preferência entre um método ou outro é estritamente financeiro.
O que não deveria e, possivelmente, evitaria uma tragédia como essa”, atestou um integrante.



Sobre possíveis procedimentos, para mais um membro do grupo “drenar a barragem rapidamente é bastante arriscado”. “Com a drenagem ocorre adensamento e deformação da barragem. A deformação pode levar à liquefação. Não existe solução simples e, infelizmente, rápida. É necessário que todas as barragens para montante sejam gradualmente substituídas por barragens com aterro compactado ou por pilhas igualmente compactadas.”

Um integrante denunciou ainda que “o Brasil precisa saber que está em grave risco”. “A maior parte da nossa infraestrutura está podre (hidrelétricas, ferrovias, estradas, linhas de transmissão, saneamento etc.). Já passou do tempo de vida útil há anos, sem revitalização ou reforma.
E para piorar, são super utilizadas. As consequências já são sentidas. A infraestrutura precisa ser tratada como política de estado e segurança nacional. O tempo urge. O novo governo tem obrigação de criar um ambiente institucional, financeiro e político seguros para que o capital privado nacional e estrangeiro se sintam estimulados a investir. Do contrário, muitas mais vítimas de tragédias virão.”

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