Brumadinho – Da horta de onde saíam até três caminhões cheios de verduras todos os dias para abastecer mercados e sacolões da Região Metropolitana de Belo Horizonte sobraram apenas alguns pés de alface. Dos 22 hectares de terra, dos quais 15 cultiváveis, menos de 10% não foram varridas pela lama do rompimento da barragem do Córrego do Feijão.
No terreno às margens do que antes era um bonito vale, cortado por um córrego, plantava-se de tudo: salsa, cebola, alface-americana, agrião, espinafre, tomate e jiló, que garantiam o sustento de 10 famílias, pouco mais de 30 moradores do Parque da Cachoeira, uma das comunidades mais atingidas pela lama.
“Aqui, acabou. Perdemos tudo que plantamos e não sabemos como vai ser, já que o solo está cheio de lama da mineração”, lamenta o distribuidor de hortaliças Antônio Francisco de Assis, conhecido como Tonico. “Não tem água nem para molhar. Se tivesse água, quando crescesse poderíamos plantar mais, mas não temos mais nada”, completa o irmão, Sadi Barbosa.
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Uma das líderes do movimento dos produtores, Adriana Aparecida Leal Nunes, de 29 anos, ainda tem na memória tudo que aconteceu desde o rompimento da barragem. Ela e outros trabalhadores escaparam da lama por questão de segundos.
“Eram aproximadamente 12h50, estava no escritório anotando pedidos de verduras quando a energia caiu. Saí e me sentei próximo à horta. Escutei pessoas próximas ao local gritando que a barragem havia estourado. Todos correram desesperados. Em questão de segundos a gente conseguiu sair. Fomos para um ponto alto da horta e só vimos uma tragédia imensa. Era a nossa horta, nossas plantações, nosso sonho, ficou tudo embaixo da lama”, disse.
O impacto também foi sentido na comunidade do Córrego do Feijão, a primeira a ser afastada com o desastre. “Nossa horta abastecia bancas, supermercados, sacolões de BH. Plantávamos alface, rúcula, couve, mostarda, coentro, alecrim, tudo o que existe de folha. Foi tudo embora. Aqui não tem como mais, não tem como mais. Foi ponto final. Acabou tudo”, conta Ademílson Custódio, de 53.
O agricultor trabalha há cerca de 10 anos no local, a poucos metros de onde a lama varreu casas, árvores e plantações. “Nisso aqui não tem como fazer mais nada. Atingiu a propriedade, roda d’água, poço artesiano, parte elétrica, tinha uma horta. Acabou com tudo. Caminhão virou só ferro-velho”