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Estado de Minas

'Uma das mais difíceis': especialistas descrevem montanha onde brasileiros desapareceram na Argentina

O mineiro Leandro Iannotta e o capixaba Fabrício Amaral continuam desaparecidos na Patagônia. Equipes de resgate não conseguiram trabalhar nesta quarta-feira devido às condições do tempo


postado em 23/01/2019 19:56 / atualizado em 24/01/2019 09:47

Leandro Iannotta (esquerda) e Fabrício Amaral (direita): brasileiro deveriam ter voltado de escalada ao Fitz Roy no domingo.(foto: Arquivo Pessoal)
Leandro Iannotta (esquerda) e Fabrício Amaral (direita): brasileiro deveriam ter voltado de escalada ao Fitz Roy no domingo. (foto: Arquivo Pessoal)

 
“Lá, o pessoal fala que separa as crianças dos adultos. Qualquer erro ou fatalidade resulta em morte”. É assim que o jornalista especializado em montanhismo, Luciano Fernandes, se refere ao monte Fitz Roy, na Patagônia argentina. Nesta quarta-feira, pelo segundo dia consecutivo, as autoridades argentinas interromperam as buscas pelos escaladores brasileiros Leandro Iannotta e Fabrício Amaral. Eles estão desaparecidos desde o último domingo, quando deveriam voltar pela via Franco Argentina, uma das rotas mais utilizadas para se chegar ao cume. 
 
Escalar o Fitz Roy exige muita técnica e treinamento. Profissional do ramo há décadas, o paranaense Edemilson Padilha, de 46 anos, já subiu e desceu a montanha algumas vezes. “O principal problema da Patagônia é o clima, pois as condições são sempre hostis. Além disso, a escalada é vertical em rocha, por isso você precisa ir sempre amarrado a um colega, para que um segure o outro em caso de queda”, explica. Outros fatores de risco são a queda de pedras e as fissuras de grande profundidade, de acordo com ele. 
 
Quem decide se arriscar no paredão argentino, precisa aguardar pelo momento certo. Os montanhistas se deslocam ao local durante a temporada de escalada para o hemisfério sul, entre os meses de novembro e março. Quando chegam, esperam pelas 'janelas': períodos nos quais o vento e a neve dão uma trégua. 
 
Escaladores costumam levar cerca de quatro dias para subir e descer o Fitz Roy, situado na fronteira entre Argentina e Chile(foto: Reprodução/Pixabay)
Escaladores costumam levar cerca de quatro dias para subir e descer o Fitz Roy, situado na fronteira entre Argentina e Chile (foto: Reprodução/Pixabay)
 
 
“É um ambiente muito complexo para se movimentar, principalmente para se chegar ao paredão. Leva um dia de caminhada, dois para subir e mais um para descer. As últimas 24 horas são as mais perigosas, porque você já está cansado”, relata Edemilson Padilha. Segundo ele, todo o trajeto é feito com o mínimo de equipamento. Além da comida, um fogareiro é primordial para derreter a neve e conseguir água. 
 
A previsão do tempo é a maior amiga dos aventureiros durante todo o trajeto. “As pessoas usam equipamentos avançados para diminuir a possibilidade de erro. Qualquer virada de tempo repentina, os ventos podem atingir velocidades enormes. Mas, as pessoas sabem o risco que correm”, salienta o jornalista Luciano Fernandes. Ele nunca escalou o Fitz Roy, mas já subiu em outras montanhas do país vizinho. 

 
Situação dos brasileiros


 
Nesta quarta-feira, as buscas por Leandro Iannotta e Fabrício Amaral se mantiveram interrompidas. “Devido às extremas condições climáticas da zona, a busca pelos montanhistas brasileiros se encontra interrompida. Aguarda-se uma janela de melhores condições meteorológicas para garantir a segurança dos socorristas”, informou o Parque Nacional Los Glaciares, órgão oficial empenhado nos trabalhos. 
 
Além de ter escalado o Fitz Roy, Edemilson Padilha tem experiência em salvamentos no local. Em 1995, ajudou a resgatar um estadunidense que sofreu um acidente na montanha. Para ele, a situação dos brasileiros é crítica, mas sempre há chances. “A cada dia que passa, o cenário fica mais complicado”, disse.
Monte está localizado na província de Santa Cruz, na Argentina(foto: Rodrigo Soldon/Flickr)
Monte está localizado na província de Santa Cruz, na Argentina (foto: Rodrigo Soldon/Flickr)
 
Perguntado sobre o trabalho das autoridades argentinas, Edelmison defendeu a estrutura oferecida pelo Parque Nacional Los Glaciares. “Ao chegar, o escalador ganha um registro em Fitz Roy. Toda escalada que você faz,  precisa informar quando sairá e quando chegará. Isso é justamente para eles terem um controle”, explica.
 

Amigo pessoal

 
O jornalista Luciano Fernandes conhecia o mineiro Leandro Iannotta há 10 anos, quando veio escalar na Serra do Cipó. Segundo ele, Iannotta é fascinado pelo esporte e largou o ramo de origem para se dedicar a uma empresa especializada em guiar escaladores em Minas. 
“No final do ano passado, convidei o Leandro para ir a um evento de filmes de escalada que promovemos em Lagoa Santa. Ele ficou muito lisonjeado com meu convite e me disse para escalarmos juntos em Minas. Ele é uma pessoa bastante querida e respeitada no ramo”, disse. 
 
O mineiro era conhecido como Mr. Bean entre os colegas, justamente por sua semelhança com o humorista britânico protagonizado pelo ator Rowan Atkinson. 


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