Jornal Estado de Minas

Cresce número de resgates em áreas de cachoeiras e rios de Minas


Férias e calor combinam com água. O que não combina é a falta de cuidado. Quem procura se refrescar nas belas cachoeiras e rios das Minas Gerais deve estar atento às ameaças que esses lugares escondem. Para chegar ao destino e voltar com segurança, o visitante precisa se preparar para passar por trilhas e tem que verificar as condições do clima. O registro de problemas vividos pelos visitantes tem aumentado. No ano passado, houve um crescimento de 16,3% no resgate de pessoas em todo o estado, na comparação com 2017. Relatos de sobreviventes ajudam a entender as situações adversas nesses pontos.



Na terça-feira, um homem de 43 anos morreu ao tentar salvar o filho, de 11, que se afogava em um curso d’água conhecido como Cachoeira do Argenita, em Araxá, no Alto Paranaíba. Na quinta-feira, outro homem, de 27, teve o mesmo destino após passar mal quando nadava em um rio da Fazenda Itinga, a cerca de 70 quilômetros de Salinas, no Norte de Minas. O pai, de 60, tentou salvá-lo, mas não conseguiu. No fim de 2018, oito pessoas foram surpreendidas em dois pontos após um temporal na Serra da Canastra, onde nasce o Rio São Francisco. Duas delas morreram afogadas em São Roque de Minas e outras cinco na Cachoeira do Zé Pereira, em São João Batista do Glória, a sete quilômetros de Passos, no Sul de Minas. Um homem sobreviveu e foi encontrado por um conhecido depois de vagar na mata por três dias. Somente nos três primeiros dias deste ano, 20 pessoas ficaram ilhadas em cachoeiras da Serra do Cipó. Nenhuma delas ficou ferida, mas o medo se instaurou entre os visitantes.

O bombeiro Walter Raimundo Marques da Costa, de 46, experiente no resgate de pessoas ilhadas, participou de um salvamento na Cachoeira Véu da Noiva. “No dia o céu estava fechado com risco de pancadas de chuva, por isso os prejuízos poderiam ter sido maiores”, conta. Os militares chegaram no local 20 minutos depois de receberem o chamado. “Fizemos o sobrevoo de helicóptero para traçar uma estratégia de como encontrar o pessoal. O trecho do rio tinha dois paredões com vegetação, não tinha condições de retirá-los pelo helicóptero, então decidimos entrar pela mata. É muito perigoso, a vegetação é completamente fechada, tivemos que ir abrindo o caminho com facão. Quando chegamos lá, tinha várias pessoas em cima de árvore e pedra. Cada um se abrigou da forma que podia”, descreve o militar. 

 

ATENDIMENTOS Esse cenário tem se tornado mais comum que o habitual. De janeiro a novembro de 2018, o Corpo de Bombeiros de Minas Gerais realizou 526 atendimentos a pessoas perdidas, contra 452 no mesmo período de 2017, desaparecidas e ilhadas em locais como trilhas, matas, acampamentos, cachoeiras, rios, enxurradas e outros locais. Esse número representa um aumento de 16,7% em relação ao mesmo período em 2017.



Em todo o ano de 2018, ocorrências de afogamento em cachoeiras, lagoas e rios também registraram um aumento, de 19,5% em relação a 2017. Foram 619 casos no ano passado, contra 518 no anterior. Para evitar que as estatísticas aumentem neste ano, os bombeiros recomendam que as pessoas busquem informações sobre a possibilidade de chuva no local antes do passeio e que não visitem lugares proibidos e com sinalização de perigo.

No último domingo, mais uma pessoa foi resgatada em uma cachoeira. Uma mulher escorregou e ficou presa nas pedras da Cachoeira do Tabuleiro, em Conceição do Mato Dentro, na Região Central do estado. Priscila Martins Vieira, de 38, sofreu luxação no tornozelo e não conseguia andar. Outros visitantes comunicaram aos seguranças do Parque Natural Municipal do Tabuleiro do acontecido. Eles então, chamaram o Corpo de Bombeiros e conseguiram acalmar Priscila. Como o lugar era muito escorregadio e de difícil acesso, os bombeiros tiveram que usar um helicóptero para auxiliar no resgate.

“Um bombeiro foi até ela, a imobilizou e a levou até um local em que a aeronave conseguia alcançar para finalizar o resgate”, conta a major Karla Lessa Alvarenga Leal, que comandou a ação. Para ela, mesmo sem chuva, é preciso seguir algumas recomendações. “É importante que as pessoas deem preferência em visitar áreas controladas, como nos parques, onde existe o controle do tráfego de pessoas. Saber das suas limitações também é imprescindível, o público não deve fazer o que extrapola a condição física de cada um, até para preservar a saúde”, alerta.

(*Estagiária sob supervisão da subeditora Regina Werneck)