Jornal Estado de Minas

Aumentam roubos a banco com funcionários ou parentes como reféns em Minas


Os momentos de terror vividos por um vigilante do banco Sicoob Ascicred e sua família, que ficaram mais de 12 horas nas mãos de bandidos na cidade de Igaratinga, no Centro-Oeste do estado, ligam o alerta para uma modalidade de crime que está em alta em Minas Gerais: a extorsão mediante sequestro. Conhecido popularmente por “crime do sapatinho”, que envolve o sequestro de funcionários do sistema financeiro, na maioria das vezes gerentes, e seus parentes com o objetivo de roubar dinheiro de agências bancárias, cresceu quase 30% em Minas na comparação entre 2017 e 2018, mesmo sem os dados de dezembro do ano passado, que ainda não foram divulgados. Os números disponibilizados no site da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) mostram que em 2017 foram 58 casos no estado, contra 75 de janeiro a novembro do ano passado, o que significa alta de 29,3%. O movimento ascendente desse tipo de crime – cometido de forma bem mais silenciosa e discreta que os ataques com explosivos às agências bancárias – vai na direção oposta ao observado no período de quatro anos entre 2013 e 2017, quando houve quedas sucessivas e acentuadas das ocorrências (veja gráfico). No fim da tarde de ontem, a Polícia Civil prendeu dois suspeitos em Betim, na Grande BH. Com eles, a corporação apreendeu um revólver calibre .38, cinco munições, R$ 20 mil em dinheiro e objetos roubados em Igaratinga. Eles foram detidos em flagrante e encaminhados ao presídio de Pará de Minas, na Região Central.



A última ação de bandidos que praticam a modalidade do “sapatinho” ocorreu na pequena Igaratinga, de 10,7 mil habitantes, às margens da BR-262. As informações das polícias Civil e Militar dão conta de que um segurança da agência do Sicoob Ascicred foi mantido refém por pelo menos quatro criminosos junto com sua mulher, de 61 anos, e seu filho, de 26, ainda na noite de segunda-feira, entre as 20h e as 21h. “Ontem (segunda-feira) à noite tocaram o interfone, simularam que um veículo estava com problema e pediram ajuda. Assim que a porta foi aberta, os bandidos entraram e renderam a família. Logo depois tiraram a esposa e o filho e os levaram para o cativeiro. Outros bandidos ficaram com o segurança a noite inteira até hoje (ontem) de manhã”, contou o delegado regional de Pará de Minas, Thiago Saraiva.

Depois disso, o segurança seguiu para a agência, onde entrou em contato com o gerente, seguindo instruções dos bandidos. Segundo o delegado, um dos criminosos ligou para o vigia e passou as diretrizes de como deveria ser feita a entrega do dinheiro para garantir a libertação da esposa e do filho do funcionário. Na agência, foi feito o saque de uma quantia ainda não contabilizada. Os bandidos ainda tentaram um segundo saque, em outra agência da mesma instituição, dessa vez do Credi-Rural. A ação não se completou, pois o gerente não tinha acesso aos recursos desse outro estabelecimento. Depois de entregar o dinheiro aos bandidos, o funcionário sequestrado foi liberado. Os criminosos fugiram no carro dele, um Honda Civic, que foi encontrado em Antunes, distrito de Igaratinga.

Apesar da liberação do vigilante, a angústia ainda era grande, pois até o fim da manhã permanecia incerto o paradeiro da esposa e do filho do funcionário do banco. Por volta do meio-dia, as polícias Civil e Militar receberam a informação de que os dois foram liberados próximos a um supermercado, em Ribeirão das Neves, na Grande BH. “A família foi levada até o Batalhão da PM da cidade. As vítimas foram ouvidas. Mas as únicas informações divulgadas é que foram levadas vendadas para o cativeiro e que não sofreram nenhuma lesão física. Elas vão prestar depoimento para passar as características dos autores”, comentou o delegado Thiago Saraiva.



Imagens de câmeras de segurança foram colhidas em Igaratinga. “Já recolhemos as imagens para serem analisadas. Também estamos trocando informações com o Deoesp (Departamento de Operações Especiais), que já tem dados de quadrilhas e o modus operandi delas, para tentar encontrar os suspeitos”, afirmou o delegado. Buscas continuavam sendo feitas para tentar chegar até os outros criminosos. 

(foto: Arte Em)


OUTROS CASOS
O drama vivido pelo funcionário da agência bancária e a família dele se encaixa na modalidade criminosa da extorsão mediante sequestro, que vem crescendo em Minas Gerais. Em 2018, ao menos três casos de repercussão foram registrados, todos envolvendo funcionários de bancos. Em outubro, a gerente do banco Sicoob teve sua família sequestrada em Divisa Nova, no Sul de Minas. Um grupo de três homens rendeu os parentes dela em uma casa e ficou ameaçando a vítima. Enquanto isso, a funcionária foi obrigada a sacar uma quantia em dinheiro na agência. A PM descobriu o crime e montou um cerco na região. A família da mulher foi liberada. Os criminosos conseguiram fugir.

No mesmo mês, outro crime semelhante ocorreu na Grande BH. O gerente do Banco do Brasil de Matozinhos saía do trabalho quando percebeu que seu carro estava com o pneu furado. Quando se abaixou para conferir, foi abordado e rendido por dois criminosos. De lá, os três foram até a casa do gerente, onde também foram mantidos reféns sua esposa e dois filhos do casal, de 6 e 12 anos. Até uma empregada da família acabou rendida quando chegava para trabalhar. Antes que o roubo ocorresse, a polícia conseguiu cercar o banco. Ao perceber que a ação foi frustrada pela presença das polícias Civil e Militar, o grupo liberou a empregada em Ribeirão das Neves, na Grande BH, e a família na Praça São Vicente, no Bairro Padre Eustáquio, Região Noroeste de Belo Horizonte.



Em junho, outro crime do “sapatinho” assustou a população mineira. Uma quadrilha sequestrou o tesoureiro de um banco de Papagaios, na Região Central do estado, e familiares dele. Em seguida, os bandidos roubaram o banco. O funcionário da instituição financeira foi rendido quando chegava em casa de bicicleta. Sob ameaça de revólveres e pistolas, foi instruído a levar os ladrões até a agência do Sicoob. Para manter o controle sobre o gerente, os bandidos prenderam à sua cintura um dispositivo coberto de fita isolante e fios elétricos ligado a um celular e que foi tratado como sendo uma bomba.

Na manhã do dia seguinte, dois criminosos cobriram as cabeças de mulher e da filha da vítima com um cobertor e levaram as duas de carro para um imóvel em Contagem, na Grande BH, ameaçando matá-las caso o tesoureiro não colaborasse ou se o grupo fosse preso. O bancário foi levado até a agência, onde outros funcionários foram rendidos. Parte do grupo fugiu levando uma quantia não informada em dinheiro. A filha e a mulher do tesoureiro foram libertadas após 20 horas em poder dos sequestradores.

Explosão frustrada

Arsenal apreendido ontem pela PM em poder de grupo suspeito de articular assalto a banco (foto: PMMG/Divulgação )

Mais cinematográfico, outro crime praticado por quadrilhas especializadas, o ataque a bancos com explosivos, está em queda em Minas Gerais. Segundo dados da Polícia Militar, em 2016, foram 237 casos, contra 190 em 2017 e 95 de janeiro a 11 de dezembro de 2018. Mesmo assim, a ação das quadrilhas ainda tira o sono das cidades do interior de Minas. Para tentar fazer frente a essas organizações, as forças de segurança prometem usar a tecnologia para melhorar a prestação do serviço e colocar nas ruas veículos blindados. Ao menos 40 carros deste tipo devem ser adquiridos em 2019.



Ontem, a ação de uma quadrilha foi frustrada pela PM. Nove homens foram presos em Leopoldina, na Zona da Mata. Com eles, foram apreendidas 16 armas – entre elas, fuzis e espingardas de alto calibre. Segundo a PM, o grupo foi encontrado em um sítio localizado às margens da BR-116. A polícia apreendeu ainda 17 aparelhos celulares, três carabinas, um fuzil AR15, duas escopetas calibre .12, duas submetralhadoras, sete pistolas 9mm e um revólver calibre .36.

Também foram encontrados na propriedade 18 carregadores diversos, quase 500 cápsulas de diversos calibres, joias, um bloqueador de celular, um distintivo e quatro camisas com o símbolo da Polícia Civil, dez cartões de banco, R$ 1,4 mil em dinheiro e 20 mil guaranis foram encontrados, além de uma nota de US$ 1, e cinco veículos de procedência duvidosa. Segundo a PM, a intenção da quadrilha era atacar agências bancárias na região.

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