Difícil encontrar em Belo Horizonte um morador adulto que nunca tenha visitado, uma vez que seja, a tradicional Cantina do Lucas, localizada no Edifício Maletta, no Centro da cidade. O hábito de almoçar, jantar, ou apenas tomar uma cerveja ou drinks com os amigos, passa de geração a geração. Ontem, a visita ao estabelecimento, inaugurado em 1962, foi especial pois foi comemorado o centenário de Olympio Perez Munhoz, ou simplesmente Seu Olympio, o garçom que ficou mais tempo ativo no Brasil. O garçom, que morreu em 2003 trabalhou até os 82 anos na cantina, feito que lhe rendeu a presença no Guinness Book. “Foi o funcionário que mais representou a cantina em todos esses anos. Foram mais de 40 anos de serviços prestados em uma profissão que quase nunca era valorizada na época. Um patrimônio de um estabelecimento que é patrimônio de Belo Horizonte”, ressaltou Antônio Mourão, gerente da Cantina do Lucas.
A assistente social Sylvia Helena Macedo Costa, de 53, é uma cliente fiel. Desde pequena, já frequentava o restaurante com os pais.
O Filet Olympio (R$ 47,70, individual) vem acompanhado de arroz de açafrão, ovo, molho, batata palha e brócolis. “Pedimos o prato principal do dia. Ganhamos um copinho que vem com uma inscrição dos 100 anos dele. Muito bacana a homenagem”, comentou.
Segundo o gerente Antônio Mourão, até o meio da tarde foram mais de 150 pedidos pelo prato em homenagem ao garçom, que também tem um toque do cartunista Ziraldo, mineiro de Caratinga, no Vale do Rio Doce: a estampa do copo dado de brinde, assinada pelo artista. “Quando Seu Olympio chegou aos 80 anos, o Ziraldo fez uma caricatura que estampou uma camisa comemorativa. Foi um evento muito legal na época”, contou Mourão. É essa caricatura que está agora no copo. O prato será servido até 6 de janeiro.
Ontem, o dia ficou marcado pela presença de antigos frequentadores da cantina, entre amigos, conhecidos e familiares do lendário garçom. “É um lugar tradicional e marcante na cultura de Belo Horizonte.
O garçom de todos
Vai longe o ano de 1979. Entro para o Estado de Minas para ser diagramador enquanto estudava comunicação. Assim que terminava o trabalho, era quase uma obrigação ir à Cantina do Lucas, ali no Edifício Maletta. E quem atendia era o garçom da boemia de BH: Seu Olympio. Era o garçom de todos.
É célebre a história de como Seu Olympio, conhecido como comunista, driblava agentes da ditadura em defesa dos militantes de esquerda que frequentavam o bar. Se pressentisse algum perigo avisava: “O filé à cubana acabou.” Ninguém falava de política. Indicado para receber a comenda Alferes Tiradentes, concedida pelo governo de Minas, num momento em que sua mulher estava doente, perguntou ao emissário do Executivo: “Será que não daria pra trocar essa comenda por uma vaga num hospital?”. Esse era Seu Olympio, o garçom dos intelectuais mineiros..