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Estado de Minas

Passageiros e especialistas destacam conduta heroica de piloto que pousou em Confins

Comandante pousou com segurança Boeing em pane, com mais de 300 pessoas a bordo e tanque cheio


postado em 22/12/2018 07:30 / atualizado em 23/12/2018 16:37

(foto: Reprodução/WhatsApp)
(foto: Reprodução/WhatsApp)

Um piloto de sangue frio, experiente e bem treinado, ou um homem abençoado, que operou milagre? Ou a soma de tudo isso? São muitas as questões ainda sem respostas envolvendo o Boeing 777, da companhia Latam, que fez um pouso forçado na madrugada de quinta-feira, no aeroporto internacional Confins, na Grande BH, quando seguia para Londres. Com nome ainda não divulgado pela empresa área, já que o incidente ainda será alvo de apuração, como ocorre em casos do tipo, “o comandante”, como será tratado nesta reportagem, antes de qualquer investigação ganha aplausos de muitos dos 339 passageiros a bordo e dos tripulantes, que chegaram sãos e salvos após a aterrissagem de emergência – em pane e com o tanque de combustível cheio. Especialistas ouvidos pelo Estado de Minas destacam ainda que, na manobra, o profissional revelou capacidade técnica, treinamento apurado e sangue frio.


Já na capital inglesa, onde chegou nessa sexta-feira às 14h (hora local), a aposentada Márcia Torres, de 51 anos, disse ao Estado de Minas que o comandante foi “peça chave” para o feliz desfecho dessa história, que deixou muitos passageiros em pânico no ar. “Ele nos passou, o tempo todo, tranquilidade, transparência sobre o que estava acontecendo e, fundamentalmente, serenidade e muita experiência. Salvou mais de 300 vidas”, avaliou a passageira do voo LA 8084, para quem o comandante merece todos os aplausos que recebeu.


Também ontem, o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) abriu apuração para saber as causas da pane na aeronave, que decolara à meia-noite e meia do aeroporto internacional de Guarulhos (SP), e fez o pouso de emergência no terminal da Região Metropolitana de BH. A direção do Cenipa informou, em nota, que uma equipe de investigadores esteve no local para uma ação inicial em torno da ocorrência envolvendo a aeronave que, além dos passageiros, viajava com 16 tripulantes.


SEM RISCO
Dois especialistas ouvidos pelo EM falaram sobre a situação enfrentada pelo comandante e lembram que em episódios do tipo está, acima de tudo, a preservação da vida humana. Com mais de 40 anos de experiência no setor, o diretor da escola de aviação Starflight (cursos teóricos e práticos), em Belo Horizonte, Francisco Pio Ferreira Bessa, está certo de que o comandante agiu de forma correta e demonstrou ser um piloto experiente. “Em vez de fazer algo arriscado, ele preferiu não colocar em perigo a vida dos passageiros e tripulantes”, disse Francisco, de 63 anos, que, além de diretor da escola, é piloto, técnico em manutenção de aviões e trabalhou na empresa aérea TAM durante 12 anos como chefe de manutenção.


Na avaliação do especialista, o comandante fez o que deve ser feito em um momento desse. “Todos nós sabemos que, no caso de ocorrer algum problema com o avião, o piloto deve pousar no aeroporto mais próximo, no caso, Confins. Desse jeito, não procurou manobras arriscadas.” Fazendo considerações que se baseiam – como faz questão de ressaltar –, em áudios que circularam em redes sociais após o pouso de emergência, Francisco diz que, se houve uma pane no sistema elétrico do avião, que teria causado um apagão a bordo,  tornou-se impossível dispensar combustível na atmosfera, para deixar a aeronave mais leve e em condições de pouso, conforme recomendação do fabricante.


“Somente com o sistema elétrico em funcionamento seria possível essa operação. Nesse caso, havia na aeronave muito combustível para uma viagem de muitas horas até Londres”, resume Francisco, certo de que as investigações vão mostrar os fatos e afastar especulações.

Capacitação e segurança no controle

Para o coordenador do curso de engenharia aeronáutica da Universidade Fumec, em BH, professor Rogério Botelho Parra, também piloto de aviões e helicópteros, não se pode “endeusar” o comandante ou achar que ele fez milagre. “Temos que ver, antes de tudo, que se trata de um profissional treinado, capacitado para exercer sua função, e que a aviação é muito segura”, afirmou.

Rogério também faz menção à questão do combustível, já que a aeronave estava com o tanque cheio para uma longa viagem. “Uma investigação desse tipo costuma levar até um ano. É uma situação muito complexa. Vi, pelas imagens na televisão, que o comandante é um homem experiente. O certo mesmo é que teve muito sangue frio para pousar e não provocar um acidente”, afirmou o professor.

De acordo com o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), o começo do processo de investigação sobre o episódio consiste no levantamento de dados e evidências: “Os investigadores fotografam cenas, retiram partes da aeronave para análise, ouvem relatos de testemunhas e reúnem documentos”. Os dados também estão sendo colhidos para classificar a ocorrência aeronáutica, já que o objetivo da investigação é prevenir que acidentes com características semelhantes ocorram.

Segundo o órgão investigativo, ligado à Força Aérea Brasileira (FAB), “a conclusão de qualquer investigação conduzida pelo Cenipa terá o menor prazo possível, dependendo sempre da complexidade do acidente”. O andamento da investigação, informou, pode ser acompanhado via internet.

CAUTELA Como é praxe em casos do tipo, a companhia aérea não informou detalhes sobre que espécie de pane ou dificuldade técnica ocorreu com o aparelho. Tampouco divulgou a identificação do piloto, sua formação, experiência na área, número de horas de voo ou qualquer tipo de avaliação ou detalhamento sobre seu procedimento no caso, já que todas essas questões serão abordadas na investigação do episódio.

Em nota, a Latam Airlines Brasil informou apenas que o voo LA 8084 (São Paulo/Guarulhos-Londres) “alternou para o aeroporto de Belo Horizonte/Confins em razão de questões técnicas. Todos os passageiros desembarcaram em segurança e receberam a assistência necessária”. A empresa informou ainda que durante o pouso, à 1h43, “os pneus da aeronave foram danificados, e foi preciso que fossem trocados para possibilitar a retirada da aeronave da pista”.

Para isso, foi necessário que viessem de São Paulo macacos hidráulicos capazes de levantar o Boeing 777, uma das maiores aeronaves de passageiros em operação no Brasil, além de oito pneus, totalizando uma carga de 6 toneladas. Para o transporte, foi usado um cargueiro Hércules, da FAB.

Depois de 20 horas total ou parcialmente fechada, a pista de Confins voltou a operar às 22h48 de quinta-feira. Nessa quinta, o aeroporto funcionou normalmente, segundo a BH Airport, que administra o terminal. A Latam informou que a movimentação de passageiros foi intensa, mas normal para esta época do ano, quando muita gente viaja por causa das festas de fim de ano.


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