Jornal Estado de Minas

Aplicativo voltado para passageiros e motoristas LGBT+ é lançado em BH


Respeito, inclusão e representatividade. A capital mineira recebe o primeiro aplicativo de transporte particular pensado para o público LGBT%2b (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros). O aplicativo Homo Driver funciona, em quase tudo, como os que já circulam no país. A diferença é que só aceita motoristas que sejam desse grupo. E os passageiros também. A intenção é proporcionar empatia entre o prestador do serviço e o cliente e mais tranquilidade para os dois. Alguns já abraçam a ideia, outros temem o efeito de segregação social e eventual insegurança na plataforma.

Os aplicativos Homo Driver e Homo Driver Motorista, lançados ontem, somam quase 800 downloads, sendo 700 de pessoas com interesse em ser passageiros e 90 pré-cadastros de motoristas que querem fazer parte dessa onda social. A empresa garante que os motoristas vão passar por um treinamento para conhecer sua cultura organizacional e eliminar os riscos de preconceito por seus usuários.


O processo de criação da startup, que prega “o direito de ser livre”, começou em janeiro.
Foi no curso de MBA em Gestão de Negócios com Ênfase em Marketing e Mídias Sociais que os sócios foram sensibilizados por um caso de reposicionamento de uma marca famosa. “O curso despertou em nós uma reflexão social e iniciamos a busca de melhorias na prestação dos serviços voltados a comunidade LGBT ”, conta Thiago Guirado Vilas Boas, sócio-fundador da Homo Driver. Segundo ele, os casos reais de preconceito sustentam a aposta no serviço.


Diante do cenário de desemprego, a plataforma também busca dar oportunidade ao grupo, que sofre preconceito também no mercado de trabalho. Dificuldade enfrentada principalmente pelos transgêneros, transexuais e travestis. De acordo com dados levantados pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), 90% da população de travestis e transexuais utilizam a prostituição como fonte de renda e possibilidade de subsistência, devido à dificuldade de inserção no mercado formal de trabalho e à deficiência na qualificação profissional causada pela exclusão social, familiar e escolar. Para ele, a meta da empresa de oferecer mais segurança e liberdade ajuda a combater “a segregação que já existe na sociedade para com a comunidade LGBT ”.


Antes mesmo de começar a rodar, o aplicativo já provoca polêmica entre as pessoas que tomaram conhecimento do lançamento por meio das redes sociais são divergentes. “Apesar de eu não conhecer o funcionamento desse aplicativo, acredito que me sentiria mais confortável.

Quando vou para São Paulo, faço uso do Lady Driver (aplicativo em que motoristas e passageiras são mulheres) e me sinto mais tranquila”, conta a professora Úrsula Viana Mansur, que garante que vai utilizar o Homo Driver. “Penso que medidas como essas são necessárias. As pessoas deveriam ter capacidade de lidar com as diferenças, mas já que não têm, prefiro fazer o uso”, completa. A atriz e comunicadora Kayete, apoia a iniciativa mas não esconde a tristeza em ter que “segmentar as coisas”. “Infelizmente há pessoas que não sabem lidar com a diferença. A gente precisa se sentir bem, seguro pra ir e vir”, defende.


Gabriel Lomasso, de 25 anos, tem uma visão diferente. Para ele, usar o aplicativo seria ampliar o risco. “Esse tipo de transporte é mais usado em momentos de muita vulnerabilidade, saindo da balada, cansado, às vezes bêbado e de madrugada.

Não me sentiria confortável porque, ao usar o aplicativo, já estaria ‘atestando minha homossexualidade’, logo eu seria um alvo mais fácil. Em outros apps, não tenho que me manifestar sobre sexualidade, ela não fica tão exposta”, disse. A empresa garante que investe na segurança. E para isso promete um rigoroso controle de avaliação no fim das viagens, para excluir da plataforma o usuário que for acusado de praticar qualquer ação discriminatória e/ou homofóbica.
O presidente do Centro de Luta Pela Livre Orientação Sexual de Minas Gerais (Cellos/MG), Azilton Viana, apoia o aplicativo e espera que a startup vá além do viés mercadológico. “ Num mundo cada vez mais conectado, pode ser uma ferramenta importante e de visibilidade, reforço da imagem positiva e de orgulho em referência às pessoas LGBTI”. Afirmou.

 

Proteção ou segregação?

 

Para a psicóloga Dalcira Ferrão, a proposta é uma faca de dois gumes: oferta de proteção, de um lado, e segregação, de outro. “Em tempos em que a violência contra a população LGBTI tem se dado de forma mais explícita, declarada e sem nenhum pudor, bem como também aumentando de forma notória, iniciativas como esta surgem com o intuito de buscar garantir o mínimo de segurança e pertencimento ao referido grupo. Por outro lado, essa mesma iniciativa pode ser entendida enquanto uma maneira de segregação por parte da comunidade LGBTI”, avalia a psicóloga, conselheira-presidente do Conselho Regional de Psicologia de MG e militante LGBTI. De toda forma, a própria necessidade de buscar esse tipo de solução já é um indicativo das dificuldades enfrentadas pelo grupo, numa “conjuntura que tem se mostrado pouco acolhedora”, avalia a psicóloga.


Os aplicativos Homo Driver e Homo Driver Motorista estão disponíveis para download em Android, e, a partir de segunda-feira, poderão ser acessados também na plataforma IOS. Após finalizado o download no smartphone, o usuário faz seu cadastro para login e tem acesso aos serviços.

O aplicativo então, permite a busca por motoristas e passageiros baseada na localização voltada para o público LGBT . Inicialmente, as corridas serão em Belo Horizonte e Contagem, na Região Metropolitana, mas há planos de expansão para outras cidades. *Estagiária sob  supervisão da subeditora Rachel Botelho

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