Jornal Estado de Minas

MP acompanha caso de tiroteio entre policiais em Minas; Ouvidoria quer ajuda da PF



Cresce a mobilização para investigar a troca de tiros entre policiais civis de Minas Gerais e de São Paulo que terminou com a morte de um agente mineiro em Juiz de Fora, na Zona da Mata, na sexta-feira. Além de envolvimento das secretarias de Segurança dos dois estados, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) designou uma equipe para acompanhar as apurações. O ouvidor da Polícia Civil paulista reforçou o pedido para que a Polícia Federal (PF) acompanhe o caso, argumentando que há um grande número de crimes em investigação e que eles envolvem duas unidades da Federação. Os levantamentos já realizados indicam que os policiais podem fazer parte de uma organização criminosa.

O ouvidor da polícia de São Paulo, Benedito Mariano, encaminhou ofícios à superintendência da Polícia Federal em São Paulo e também ao ministro de Segurança, Raul Jungman. “Acho esta ocorrência envolvendo policiais civis dos dois estados extremamente grave. Há indícios de vários crimes, como homicídio de um policial civil, lavagem de dinheiro, estelionato, prevaricação e organização criminosa. Além disso, a PF tem que acompanhar as investigações por envolver dois estados”, disse. A PF afirmou que o ofício foi encaminhado para a delegacia da corporação em Juiz de Fora para ser analisado.

O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) também vai acompanhar o caso.
Hoje, uma equipe ligada ao órgão foi designada para essa função. Na equipe estão dois promotores de Juiz de Fora e outros três ligados ao Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), entre eles sua coordenadora, a procuradora de Justiça Cássia Virgínia Serra Teixeira Gontijo. Segundo o MPMG, nenhum procedimento investigatório será aberto, por enquanto, pelo órgão. A equipe vai acompanhar as investigações para se inteirar dos fatos.

Depoimento


A linha de apuração da Superintendência de Investigação e Polícia Judiciária de Juiz de Fora é que os policiais davam cobertura a uma transação possivelmente ilegal entre os dois empresários, marcada para ocorrer no estacionamento de um condomínio de consultórios que faz ligação com o Hospital Monte Sinai. As informações já obtidas pelos investigadores dão conta de que os policiais faziam a escolta do empresário Flávio de Souza Guimarães entre São Paulo e Juiz de Fora, que levava dólares para trocar por reais no município mineiro. O negócio deu errado, aparentemente, quando se descobriu que cédulas em real que seriam usadas na transação eram falsas.

O empresário paulista se apresentou na segunda-feira à Corregedoria da Polícia Civil do Estado de São Paulo, onde negou que estivesse de posse de moeda norte-americana na sexta-feira. Para o ouvidor de Polícia de São Paulo a história contada por Guimarães deve ser mais bem analisada.
“Depoimentos contraditórios. Um dos empresários aqui de São Paulo, ouvido na corregedoria, disse que não levava dinheiro nenhum. Ia apenas a Juiz de Fora pedir um empréstimo. Estranho ir até outro estado pegar empréstimo e levar nove policiais civis de São Paulo em uma escolta vip. Claro que ninguém precisa fazer prova contra si próprio, mas no mínimo devemos investigar as declarações”, comentou.

Antônio Vilela, empresário de Minas a quem pertenceriam as malas de notas falsas apreendidas e acabou baleado no pé, deixou o hospital ontem e foi preso. Dois delegados e dois investigadores de São Paulo foram encaminhados para o Complexo Penitenciário Nelson Hungria, em Contagem, na Grande BH. Os agentes mineiros foram liberados.

O que já sabemos sobre o caso


» Em 19 de outubro, houve tiroteio entre policiais civis de Minas Gerais e de São Paulo, no estacionamento de um condomínio de consultórios que faz ligação com o Hospital Monte Sinai, em Juiz de Fora, na Zona da Mata.

» Na troca de tiros, o policial civil de Minas Rodrigo Francisco, de 39 anos, morreu. Duas pessoas ficaram feridas.
Um deles, Jerônimo Silva, é dono de empresa de segurança particular que acompanhava o grupo de São Paulo e irmão de um dos policiais paulistas. Ele segue internado. O outro paciente, Antônio Vilela, empresário de Juiz de Fora que estaria transportando R$ 15 milhões em notas falsas, recebeu alta e foi preso

» O confronto ocorreu em meio a uma transação suspeita entre Vilela e Flávio Guimarães, empresário de São Paulo. As apurações dos investigadores indicam que policiais de Minas Gerais estavam apoiando o empresário mineiro, enquanto os de São Paulo garantiam a segurança do empresário paulista
» Até o momento, a investigação aponta que o tiro que matou o policial saiu da arma de um segurança particular que acompanhava o grupo do empresário paulista com oito policiais do estado vizinho, incluindo dois delegados

» Quatro policiais paulistas, sendo dois delegados e dois investigadores, foram autuados por lavagem de dinheiro. As prisões em flagrante foram convertidas para preventivas em uma audiência de custódia. Todos foram transferidos para a Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem

» Três policiais de Minas foram autuados por prevaricação e liberados depois de assinar termo em que se comprometem a comparecer a audiência em novembro

» Os dois homens que foram baleados na troca de tiros também tiveram as prisões preventivas decretadas

» Do mesmo grupo de São Paulo, outros cinco policiais foram ouvidos e liberados.

» O empresário Flávio Guimarães fugiu da cena e se apresentou em São Paulo. Ele negou que estivesse transportando dólares e disse que estaria no local para tomar empréstimo. Indicou ainda que não sabia que havia policiais na escolta

» O empresário de Juiz de Fora que participaria do negócio, Antônio Vilela, foi baleado no pé. Ele recebeu alta na noite de domingo e ficou a cargo do sistema prisional .