A gravidade do incêndio que transformou em cinzas importante acervo do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, que completa uma semana hoje, já estava clara, mas ainda não se sabia até que ponto as estruturas do imóvel, que serviu de residência à realeza portuguesa de 1808 a 1821 e abrigou a família imperial brasileira entre 1822 e 1889, haviam sido comprometidas. Por isso, bombeiros e pesquisadores lançaram mão da tecnologia para atestar a estabilidade do prédio, garantir a segurança e ainda tentar flagrar algum objeto que pudesse ser retirado.
Foi aí que entraram em ação os drones, aeronaves não tripuladas que cada vez mais ganham lugar na área de segurança. Em Minas Gerais, elas estão a serviço de bombeiros e das polícias Civil e Militar para dar suporte a suas operações. E caíram no gosto também da população. Até mesmo um esporte foi criado pelos amantes do aparelho, que, em alta velocidade, fazem manobras radicais e se desviam de qualquer obstáculo: árvores, postes e até mesmo janelas, vigas e outras estruturas de prédios abandonados.
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O Corpo de Bombeiros de Minas adotou a tecnologia no início deste ano. “A ideia surgiu com o avanço dos drones no mundo inteiro. Eles têm grande autonomia de voo e aumentam a qualidade da imagem. Então, conseguimos transformar o aparelho, que era usado como brinquedo, em algo funcional”, explica o capitão Kleber Castro. Atualmente, os bombeiros têm um drone. Na última semana, o aparelho auxiliou nas buscas por uma pessoa desaparecida em mata em Santa Rita do Itabira, na Região Central de Minas Gerais.
Mas também está à disposição para diferentes operações, como dar apoio em ocorrências de desastres, visualizar áreas de incidentes e incêndios, na prevenção aquática, fazer levantamentos de áreas de risco e análises de produtos perigosos. Entre os benefícios estão a economia de recursos financeiros e a liberação dos helicópteros para chamados mais graves. “Os drones vêm para complementar nossas ações do batalhão aéreo.
A Polícia Militar também vem fazendo uso dos drones, de maneira experimental, em suas operações desde dezembro de 2017. A corporação conta com 17 aeronaves remotamente pilotadas. Os aparelhos são usados pelo Comando de Aviação do Estado (Comave), nas unidades de Meio Ambiente, e em algumas operacionais, “visando potencializar as atividades das guarnições em solo”, diz a corporação. “Elas têm sido utilizadas tanto para complementar e reforçar as capacidades das aeronaves tripuladas quanto para atuar como substitutas em situações nas quais o custo, o risco ou o desgaste imposto às tripulações de aeronaves tripuladas sejam demasiadamente altos ou inaceitáveis”, completou.
As investigações e operações da Polícia Civil de Minas também estão tendo um ganho com o uso dos aparelhos. A corporação conta hoje com 30 drones. Detalhes sobre o uso não foram informados por questões de segurança. Em um futuro bem próximo, a fiscalização nas estradas mineiras poderá ser feita com imagens aéreas produzidas pelos drones.
VOOS DO CRIME A tecnologia dos drones não é usada apenas para levar melhorias à população. Ela chegou também ao mundo do crime. Em Minas Gerais, em quatro ocasiões, drones foram flagrados transportando drogas, celulares e até armas para dentro de unidades prisionais. A última delas foi em 29 de julho, em Ipaba, na Região do Vale do Rio Doce. O drone foi atingido por um tiro disparado por agente penitenciário. Celulares, uma pequena quantidade de maconha e uma serra foram apreendidos. Ninguém foi preso. O aparelho sobrevoava a Penitenciária Dênio Moreira de Carvalho quando foi avistado pelos agentes. De acordo com a Secretaria de Estado de Administração Prisional (Seap), um tiro foi disparado pelo agente penitenciário e o objeto acabou caindo.
A Polícia Civil também já identificou o uso das aeronaves durante ações de quadrilhas.
O que diz a lei
Desde maio de 2017, regras da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) normatizam a operação por drones no Brasil. Os usuários estão submetidos às determinações do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea), que regulamenta o uso do espaço aéreo, e da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), responsável por normatizar a radiofrequência utilizada. Em linhas gerais, para operar um aeromodelo é preciso respeitar a distância limite de terceiros (mínimo de 30 metros horizontais) ou usar apenas áreas próximas a pessoas que estejam de acordo com as operações, desde que não haja proibição prévia para utilização no local escolhido. O Sistema de Aeronaves Não Tripuladas (Sisant) faz o cadastro das aeronaves não tripuladas de uso recreativo (aeromodelo) ou não recreativo (RPA) com peso máximo de decolagem superior a 250g e limitado a 25kg.
Voo sem sair do chão
A mochila nas costas carrega os materiais necessários para o início da aventura. O cenário onde ela começa é variado, a criatividade é que manda. Pode ser um parque aberto no meio da cidade, um prédio em construção ou abandonado, um galpão ou um espaço preparado para as práticas de paintball ou airsoft. Em pé ou sentado, tanto faz. Basta colocar os óculos de realidade virtual, pegar o controle e pronto. Já vai o drone em alta velocidade se desviar dos obstáculos, sejam naturais, como árvores, ou não.
Em Belo Horizonte, a brincadeira ganha cada vez mais adeptos. O barbeiro Carlo Emanuele de Morais Milone comprou o seu primeiro drone para fazer vídeos, mas conheceu os aparelhos que voam em alta velocidade e se apaixonou. “Há um ano, comprei um drone de filmagem para fazer vídeos para meu canal do YouTube. Como era iniciante nessa área, comecei a procurar fóruns, páginas e tutoriais sobre drones para aprender como usar o meu. Em uma dessas buscas encontrei um grupo chamado droneracingbh e fiquei fascinado com a maneira como a galera voava. Eram drones diferentes, nada do que eu tinha visto até aquele momento. O pessoal construía seus aparelhos em casa e se encontrava nos fins de semana para fazer corridas em locais diferentes, como prédios abandonados, linhas de trem desativadas, florestas ou em qualquer lugar com obstáculos e onde não houvesse pessoas circulando”, conta.
Diferentes locais da cidade servem de cenário para os praticantes, como os bairros Belvedere, na Região Centro-Sul, Boa Vista, Região Leste, e Fernão Dias, no lado Nordeste da cidade. Ainda não há uma pista própria para os voos como as existentes em outros países. Mas, para Carlo, o esporte está crescendo. “Estamos construindo um esporte novo no qual qualquer pessoa é bem-vinda. Pai, filho, novo, velho, homens e mulheres. Qualquer um que queira sentir a sensação de voar sem sair do chão é bem-vindo. Usamos óculos especiais para pilotar o drone e conseguir enxergar o caminho. É imersão pura. A sensação é de que você está dentro do drone. Nas corridas, quem não está competindo consegue acompanhar o voo do piloto, de preferência conectando os óculos na mesma frequência que o drone do piloto. Ou seja, até quem não está voando consegue participar”, diz.
Morador de Divinópolis, na Região Centro-Oeste de Minas Gerais, Diniz se tornou fornecedor de peças dos drones. Segundo ele, a manutenção das aeronaves fica em conta. “Hoje, a manutenção de um drone desses é bem barata. O que estraga mais é a hélice. Um jogo de quatro hélices custa entre R$ 18 e R$ 20. Mesmo assim nem sempre é preciso trocar. Às vezes ela amassa e conseguimos ajeitar com a própria mão”, contou.
Segundo ele, há diferenças grandes entre os drones usados, normalmente, para fazer filmagens, e os aparelhos de corridas. “Os drones ‘comerciais’ são praticamente automáticos, o que facilita o voo. Qualquer pessoa pode utilizar sem muita prática. Os aparelhos de corrida dependem da velocidade do piloto”, afirma. Diniz dá uma dica para quem quer entrar para o mundo dos voos de velocidade: treinamentos em aplicativos no celular ou em tablets.
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