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Estado de Minas

Museu Nacional abrigava mistério dos ancestrais de Belo Horizonte

Vestígios de tribos da região onde se ergueria a nova capital mineira foram enviados acervo do equipamento cultural no Rio de Janeiro nos anos 1940, mas seu paradeiro era uma incógnita antes mesmo do incêndio, uma história que agora pode ter se perdido para sempre


05/09/2018 06:00 - atualizado 05/09/2018 07:53

O diretor do Museu de História Natural da UFMG, Antônio Gilberto Costa, diz que peças encaminhadas ao Rio podem ter se perdido definitivamente
O diretor do Museu de História Natural da UFMG, Antônio Gilberto Costa, diz que peças encaminhadas ao Rio podem ter se perdido definitivamente (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press - 12/04/2017)


Se parte da pré-história de Minas pode ter se perdido no incêndio que destruiu, na noite de domingo e madrugada de segunda-feira, o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, tudo indica que também estão sob escombros vestígios arqueológicos específicos sobre o passado de Belo Horizonte, muito antes de Curral del-Rey existir. A coleção inclui os vestígios cerâmicos (pedaços de potes de variados tamanhos e rodas de fuso) e líticos (machados, soquetes e bigornas de pedra) provenientes de antigas aldeias indígenas existentes principalmente nas regiões onde hoje fica o Horto Florestal, no Bairro Santa Inês, e do Córrego do Cardoso, no atual Bairro Santa Efigênia, na Região Leste.



Na tarde de ontem, o geólogo e professor Antônio Gilberto Costa, diretor do Museu de História Natural e Jardim Botânico da Universidade Federal de Minas Gerais (MHNJB/UFMG), lamentou a tragédia que consumiu, nas labaredas, o acervo do Museu Nacional, e também o que pode ter ocorrido com a coleção de Minas. Nesse, acaso, afirmou, pode estar tudo perdido em um clima de mistério.

Para entender melhor essa história, é preciso voltar no tempo, tendo como guia a pesquisa do promotor de Justiça Marcos Paulo de Souza Miranda, também integrante do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais (IHGMG), com base em estudos da década de 1940. Segundo Souza Miranda, a história da que hoje é conhecida como capital dos mineiros vem de muito antes da transferência, em 1897, da sede do poder de Ouro Preto para o primitivo Arraial do Curral del-Rey, sobre a qual foi erguida a cidade – antes até mesmo das sesmarias recebidas, em 1701, pelo bandeirante João Leite da Silva Ortiz.

PRIMÓRDIOS Em entrevista ao Estado de Minas, o pesquisador contou um pouco do passado desconhecido de BH. “Muito antes dos pioneiros, já havia ocupação humana na região, conforme vestígios arqueológicos encontrados na forma de artefatos de pedra e cerâmica. O grande problema é que esse material foi levado para o Rio de Janeiro e nunca mais voltou”, disse. A base dos estudos está na publicação Arqueologia de Belo Horizonte, de dezembro de 1947, quando a capital comemorava 50 anos, e o então presidente da Academia Mineira de Ciências e do IHGMG, professor Aníbal Mattos, escreveu sobre a ancestralidade da capital e registrou em fotografias os vestígios arqueológicos.

“Trata-se de um livro precioso”, diz Souza Miranda, explicando que o trabalho foi apresentado em 1938, em BH, e dois anos depois no 3º Congresso Rio-grandense de História e Geografia, em Porto Alegre. Para o especialista, são necessárias políticas para proteger o patrimônio arqueológico da capital. Na sede do IHGMG, na Praça Raul Soares, Região Centro-Sul da capital, está o opúsculo (texto impresso de poucas páginas) de Aníbal Mattos, e, de olho nas páginas, pode se entender melhor a pré-história de Belo Horizonte, metrópole hoje com cerca de 2,4 milhões habitantes que completou 120 anos em 2017. Mattos escreveu: “São páginas inéditas de uma história que o belo-horizontino ainda não conhecia, e de cuja existência talvez nem suspeitasse”. Entre os achados estavam machados indígenas, conhecidos popularmente como “pedras de raio”.

Em seu texto, o escritor e pesquisador revelou ainda que as melhores peças encontradas pelo doutor Soares de Gouvêa, que trabalhou em escavações na região do antigo Horto Florestal, hoje parte do Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG, “tinham sido enviadas a Roquette Pinto, do Museu Nacional do Rio de Janeiro, vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro”. E ressaltou: “Das jazidas arqueológicas que devem ter existido aqui, a mais importante até agora é a do Horto Florestal.

BUSCA Em 2014, o professor Gilberto esteve no Museu Nacional, no Rio, e conversou com a diretoria sobre o acervo enviado na década de 1940. Com surpresa, foi informado de que ninguém sabia localizá-lo. Dois anos depois, voltou à carga, com objetivo de tentar um comodato para a exposição dos bens, embora sem resposta. Agora, com a tragédia, continua o silêncio, embora sempre reste uma ponta de esperança de que o acervo seja encontrado.

 

 

Proteção para bens culturais


 

O Instituto Estadual de Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG) informou, ontem, que atualmente 57 bens culturais em 32 municípios mineiros são contemplados pelo programa denominado Minas Para Sempre, que trata de instalação de alarmes com sensor de presença para monitoramento contra furtos e arrombamentos. A instituição, em nota, destacou que, em 2016 e 2017, atuou em parceria com o Corpo de Bombeiros na elaboração de normativas referentes à proteção de combate a incêndios nas edificações tombadas, resultando na Instrução Técnica número 35, de 2017. Também ontem, o governo de Minas informou que começa na segunda-feira a atuação da força-tarefa que deve vistoriar as principais edificações e conjuntos históricos do estado.


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