Jornal Estado de Minas

Saiba como se proteger da malária, que tem 14 casos suspeitos em Minas Gerais

- Foto: Arte EM


Depois de enfrentar a maior epidemia de febre amarela da história e em meio à interminável batalha contra o mosquito Aedes aegypti, para se evitar dengue, chikungunya e zika, Minas Gerais entra agora em alerta contra outra velha doença: a malária. O alarme foi ligado depois da notificação de 14 casos suspeitos desde a sexta-feira passada, cinco deles ainda em investigação. Os outros nove foram descartados. Os diagnósticos estão concentrados em três municípios da Região Leste, na divisa com o Espírito Santo, estado em que há atualmente surto da doença. Ao longo de 2018, Minas registrou 20 casos confirmados da doença, transmitida pela picada da fêmea do mosquito Anopheles. Todas essas contaminações ocorreram na região amazônica, de acordo com a Secretaria de Estado de Saúde (SES).


Os cinco casos em análise estão distribuídos entre as cidades de Mantena (três), Conselheiro Pena e Galileia. São cidades que ficam a poucos quilômetros dos municípios capixabas de Vila Pavão e Barra de São Francisco, que registraram as primeiras transmissões no mês passado. Além da proximidade com a área de risco, os pacientes apresentam quadro clínico suspeito.
“Há um vínculo epidemiológico com o que tem ocorrido no Espírito Santo, onde há casos confirmados. A malária se dá em espaços rurais e onde há atividade econômica extrativa. O estado vizinho tem lavoura de café e, nesse momento, por causa da colheita, há trânsito grande de pessoas que vão trabalhar lá”, afirmou o subsecretário de estado de Vigilância e Proteção à Saúde, Rodrigo Said. “A malária não é doença frequente em Minas, por isso, esse está sendo caracterizado como um evento inusitado”, disse.


De acordo com o Ministério da Saúde, até o último dia 15 foram registrados e estão em investigação no Espírito Santo 127 casos de malária por Plasmodium falciparum (o mais letal), sendo 99 no município de Vila Pavão e 28 em Barra de São Francisco, com confirmação laboratorial de uma morte pela doença. Nesses locais, estão sendo feitas diversas ações, como diagnóstico e tratamento supervisionado, borrifação de inseticidas em moradias e educação em saúde. Em caráter emergencial, também foram encaminhados medicamentos e testes rápidos adicionais para o estado. Além disso, um técnico do Programa Nacional de Prevenção e Controle da Malária esteve nos municípios para apoiar as ações de contenção do surto, além de orientar as equipes municipais e estadual sobre as estratégias de controle da malária mais eficazes e adequadas à necessidade local.


A malária é uma doença febril aguda causada por parasitas transmitidos pela picada de mosquitos (veja arte).

Se diagnosticada e tratada corretamente em até 48 horas do início dos primeiros sintomas, tem cura. Das cinco espécies causadoras da malária humana, o Plasmodium falciparum e o Plasmodium vivax são os mais comuns no Brasil. Em poucos dias de infecção, o P. falciparum causa quadro grave, por isso, todo suspeito de malária deve, de imediato, ser submetido ao exame laboratorial. Já o P. vivax apresenta um quadro de clínico mais brando, de febre, mal-estar e dor de cabeça, mas, se não for tratado, pode levar o paciente a complicações e até à morte. Do lado mineiro, a SES está mobilizando 51 municípios da Região Leste, fazendo o alerta e capacitando profissionais da saúde, entre outras medidas.


Em Minas, os exames para confirmar a doença são feitos nos municípios e passam por nova análise no laboratório da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “Só se descarta ou se confirma depois dessas duas análises”, afirma o subsecretário Rodrigo Said.

Além do alerta, a SES está fazendo vigilância na área classificada como receptiva, ou seja, que tem a possibilidade da presença do mosquito Anopheles. Em 1988, a cidade de Mantena, no Vale do Rio Doce, teve 43 casos de malária e, em 1999, Nova Belém, na mesma região, registrou um. “Começamos uma nova investigação entomológica (de insetos) para saber se a área continua como receptiva”, detalha Said.


A preocupação no momento é com um diagnóstico diferenciado a pacientes da região. Por isso, a recomendação da Saúde estadual é que toda pessoa com febre alta, a partir de 40 graus, apresentando ou não outros sintomas, como cansaço, calafrio, dores de cabeça e muscular, deve procurar o centro de saúde mais próximo. Aos profissionais, a orientação é recolher material para análise. Uma das medidas adotadas foi o pedido de cota adicional de medicamento e teste rápido ao Ministério da Saúde. Já foram enviados remédios e testes extras à Superintendência de Saúde de Governador Valadares, responsável pela região. Também serão distribuídos repelentes para a área de risco.



TRANSMISSÃO Embora não seja área endêmica, Minas tem registro recente de transmissão dentro do próprio território (autóctone), devido ao surto ocorrido no fim de 2016 e início de 2017 em uma zona de garimpo no limite dos municípios de Couto Magalhães de Minas e Diamantina, no Vale do Jequitinhonha. Na ocasião, 23 casos foram confirmados.


A região Amazônica concentra mais de 99% dos casos de malária do Brasil, mas os demais estados também têm áreas com a presença do mosquito transmissor, onde podem ocorrer a reintrodução da malária e surtos a partir de um caso importado. Por isso, o Ministério da Saúde informa que a vigilância para a doença deve ser mantida mesmo em áreas sem transmissão.

“Surtos podem ser evitados com a suspeição, diagnóstico e tratamento oportunos dos casos importados, considerando o deslocamento do paciente para áreas onde haja contágio”, informou a pasta, por meio de nota.


Dados federais preliminares revelam que, em 2017, foram notificados 194.372 casos de malária em todo o país. Em 2016, foi registrado o menor número de casos dos últimos 37 anos (129.243). Neste ano, de janeiro a junho, foram registrados 92.357 casos da doença. O ministério acrescenta que tem adotado uma série de ações estratégicas para o enfrentamento do problema, entre elas o Plano de Eliminação de Malária no Brasil, com ênfase no combate à forma causada pelo Plasmodium falciparum. Também monitora indicadores de malária e dá suporte técnico no enfrentamento às secretarias estaduais de Saúde. Garante também tratamento completo pelo SUS e envia insumos para as ações de controle vetorial (inseticidas).

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