Jornal Estado de Minas

Após cirurgia inédita em Minas, nasce bebê operado dentro do útero

''Não precisou nem ir para a UTI. Acabou o parto, fizeram a avaliação e ela já foi para enfermaria junto com a gente''. A tranquilidade evidenciada no depoimento da mineira Walkiria Flaviana Oliveira Mendes ilustra a alegria ao fazer parte de um marco para a medicina do estado. Aos 32 anos, a recepcionista é mãe de Pérola Mendes Martins, a primeira bebê nascida em Minas Gerais após passar por cirurgia ainda quando ainda estava dentro do útero, na 24ª semana (sexto mês) de gravidez. 

O procedimento é conhecido como cirurgia fetal intra-útero de mielomeningocele. Tudo se inicia a partir de um diagnóstico de má formação fetal, constatado com oito semanas de gestação. Neste período ocorre o fechamento do sistema nervoso e da coluna do bebê. 

Entretanto, nos identificados com a doença mielomeningocele, os nervos ficam expostos, o que ocasiona complicações motoras. “A má formação ocorre na região lombar e essa abertura na coluna pode comprometer o desenvolvimento psicomotor da criança ao longo de toda a vida”, explica o cirurgião fetal e coordenador da equipe multidisciplinar especializada nesse procedimento, Fábio Batistuta de Mesquita, vinculado ao Hospital Vila Da Serra, em Nova Lima, na Grande BH.

A cirurgia se dá a partir da “técnica de Peralta”, idealizada médico Fábio Peralta, mestre e doutor em medicina pela Universidade de São Paulo (USP). Neste procedimento, o útero é colocado do lado externo do corpo, onde, por meio de um pequeno buraco, os médicos fecham a pele que protege a medula.
“A cirurgia também dobra as chances de a criança andar sem o uso de próteses e órteses e reduz em 80% a necessidade de se colocar a válvula no cérebro, para reduzir a pressão intracraniana, devido a hidrocefalia”, concluiu dr. Fábio.

Caso não seja corrigida pela medicina, a mielomeningocele pode levar a casos de hidrocefalia, má formação de nervos e neurônios e problemas locomotores variados. Existe, ainda, o risco de dificuldades na bexiga e intestino.

 O processo foi reconhecido pela medicina em 2015 e, por isso, não há muitas pessoas que passaram pela cirurgia. Neste sentido, a mãe Walkiria Mendes também se orgulha por servir de parâmetro para novos procedimentos. “Saber que eu tenho testemunho para passar para as outras mães, pela minha experiência, é maravilhoso. Só tenho a agradecer aos médicos por eles reverterem todo o quadro de má formação. É um milagre que foi operado”, conta. 

Diante do caso de sucesso, o planejamento do Hospital Vila da Serra é instalar um centro de referência em cirurgia fetal em Nova Lima.
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