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“Plantei esta árvore, ela é o coração da gente”, lamentou Emil Ritz, de 90 anos, ao ouvir o ruído de motosserras e se deparar com os galhos e folhas no chão do grande fícus, podado na manhã de quarta-feira (25), no Bairro Coração Eucarístico. O início do corte da árvore, considerada um marco do bairro, revoltou e gerou protestos de moradores, que só terminaram após a chegada da Polícia Militar (PM). Diante das reações, a PBH informou que faria uma reavaliação sobre a situação do espécime. De acordo com o último laudo técnico, a árvore foi considerada inadequada para permanecer na calçada por ser muito idosa, com raízes que danificam o passeio, a rua e a rede hidráulica.
Emil Ritz conta que foi o primeiro morador do bairro e que plantou a árvore com o intuito de deixar a rua – a atual Avenida Dom José Gaspar – mais bonita. “Comprei um terreno no bairro em 1961. Era uma rua cheia de mato e queríamos arborizar a região”, contou o idoso, ao lamentar a decisão da prefeitura. Ele se lembra de que a árvore foi plantada em um pequeno vaso e que sentia orgulho ao ver o grande tronco crescer e, em seguida, virar um símbolo importante para os moradores do bairro.
A administradora Danielle Salgado contou que o corte começou por volta das 9h de ontem. “O pessoal ficou muito nervoso e não queria deixar cortar. É uma árvore velha, mas não está doente. Os moradores e comerciantes, que poderiam pedir para cortar, são todos contra”, garante.
Leonardo Arantes Araújo, um dos moradores que estiveram no local e que é engenheiro florestal, diz que o Ficus é mais adequado para parques, mas que não deveria ser cortado porque pode ser considerada um patrimônio da cidade e estava saudável até a intervenção. “Trabalhei no inventário das árvores de BH. Minha equipe esteve no Coração Eucarístico em 2012 e avaliamos (o espécime). Não tenho os dados da avaliação dela, mas, por experiência, posso dizer que é uma árvore sadia. Não tem indício nenhum de larva, de podridão, nenhum galho pendente que possa cair na rua e machucar alguém”, diz Araújo. Mas o engenheiro florestal acredita que, com os cortes feitos ontem, a planta corre o risco de não se recuperar. “Acho difícil porque eles fizeram uma poda lateralizada dela. Ela já tem um peso do lado esquerdo.
NOVAS REGRAS No início do ano, os técnicos da Secretaria Municipal de Meio Ambiente começaram a se pautar por 38 quesitos na hora analisar qualquer uma das cerca de 500 mil árvores da cidade. Entre os pontos, há questões ligadas diretamente à saúde do espécime e também a desdobramentos nos espaços públicos, além de situações do histórico de reclamações da vizinhança. Cinco itens são considerados prioritários, e caso qualquer um deles apareça, a árvore em questão deverá ser obrigatoriamente cortada. São eles: estufamento na calçada, acompanhado de inclinação do tronco no sentido oposto; desequilíbrio irreversível da copa; pragas que comprometam a estabilidade, como besouro metálico; presença de qualquer outro defeito que interfira no equilíbrio; e obstrução total da calçada em conjunto com bloqueio, mesmo que parcial, de uma via de trânsito de veículos.
A PBH informou que faria uma reavaliação sobre a situação da árvore da Avenida Dom José Gaspar. Segundo a administração municipal, no último laudo técnico da prefeitura, foi constatado que o espécime é inadequado para passeios público, muito idoso e com raízes que danificam a calçada, a rua e a rede hidráulica. “Caso o poder público entenda que há necessidade da supressão, será feito o plantio de três mudas arbóreas no mesmo passeio, sendo elas ipês-amarelos ou magnólias”, explicou a PBH, por meio de nota divulgada na tarde de quarta-feira.