Jornal Estado de Minas

Agricultura familiar vira alternativa para setor alimentício reduzir dependência do sistema viário

Maria Emília Lisboa chama atenção para a dependência do agronegócio de combustíveis fósseis, por meio do transporte rodoviário por caminhões; agricultura familiar seria alternativa mais próxima do consumidor - Foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press.

 A agricultura familiar ganha holofotes da opinião pública, em busca de uma alimentação mais saudável e menor dependência do agronegócio monocultor, transportado pelos veículos de carga. Vista como cidade pioneira em iniciativas ambientais, a capital sediou, neste domingo, o IV Encontro Nacional de Agroecologia (ENA) e reuniu cerca de duas mil pessoas na Praça da Liberdade, no Centro-Sul do município. A programação acontece dias depois do belo-horizontino encarar cenários de escassez de frutas, verduras e legumes nas gôndolas dos supermercados e sacolões espalhados pela cidade, o que amplia a necessidade de se apoiar alternativas sustentáveis.


Sob o lema “democracia e agroecologia: unindo campo e cidade”, o evento tem como principal objetivo aproximar o agricultor familiar da população urbana. “Nós precisamos de apoio de quem vive nas cidades para contestar o modelo do agronegócio. Temos não só a concentração de renda e de terra no Brasil, mas também uma especialização monocultora. É o que a gente chama de erosão genética”, afirma Maria Emília Lisboa, coordenadora do ENA.


Segundo Lisboa, o fato do agricultor agroecológico estar perto do consumidor final, além de oferecer um produto fresco, evita a dependência do transporte viário. “É uma economia baseada nos insumos fósseis, dependente do diesel.

No lugar desse 'passeio dos alimentos', a agroecologia promove o contrário. Nós precisamos de manter os circuitos de proximidade e do apoio do agricultor urbano”, destaca.


Além do apoio da população, o evento procura criar redes de parceria entre agricultores familiares. A partir da troca de contatos, os trabalhadores podem articular estratégias para chamar atenção do poder público para a falta de investimentos no setor. “A gente está aqui buscando trocar experiências, tecer novas redes para fazer trocas de informação e enriquecer nossas produções e vivências no campo”, ressalta Geraldo Campos, que sobrevive com plantações de café e frutas diversas em Laginha, no Leste do estado.


Ligada à Articulação Nacional de Agroecologia da Amazônia (ANA), Vânia Carvalho veio do Pará para Belo Horizonte para divulgar trabalho executado no Norte do país. “Viemos aqui para mostrar que é possível produzir alimentos saudáveis, sem veneno.

Precisamos de apoio do governo, que só tem apoiado o agronegócio”, diz.


A programação conta com a participação de diferentes movimentos ligados à educação, saúde, quilombolas, indígenas e outros povos tradicionais e será encerrada no Parque Municipal Américo Renné Giannetti, às 13h. Presidente da Centra Única dos Trabalhadores de Minas Gerais (CUT/MG), Beatriz Cerqueira pontua que a instituição ajuda nas questões burocráticas enfrentadas pelos agricultores. “A contribuição nossa é na organização desses trabalhadores, para vencer os desafios intermediários e levar esse alimento à mesa do consumidor final”, destaca.


Líder mundial. Responsável por 23,5% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, o agronegócio alcançou sua maior participação na economia nacional em 2017, de acordo com levantamento da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).


Esses dados refletem no ranking mundial de uso de agrotóxicos, liderado pelo país desde 2008. Por ano, o cidadão brasileiro consome 7,3 litros de substâncias químicas. Essa quantidade pode acarretar diversos problemas neurológicos, limitações em produções hormonais, puberdade precoce, aborto, má formação fetal etc., segundo estudos da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e do Ministério da Saúde – Fundação Oswaldo Cruz.


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